Prefeitura do Rio retira fotos de crianças mortas, vítimas da violência e mantém a de PM assassinados

Imagens foram removidas menos de 24h após terem sido colocadas; manutenção das homenagens a policiais também deve ser reavaliada

Escrito por
Placas Rio de Paz retiradas
Legenda: Placas da Rio de Paz, com fotos de 49 crianças mortas por bala perdida, forma retiradas pela Prefeitura da Lagoa Rodrigo de Freitas
Foto: Reprodução/ Instagram

As 49 placas com fotos de crianças vítimas de balas perdidas foram retiradas pela Prefeitura do Rio de Janeiro. O ato era um protesto pacífico da ONG Rio de Paz e foi feito no último sábado (28), na Curva do Calombo, na Lagoa Rodrigo de Freitas.

Veja também

A informação de que foi o município o responsável pelo recolhimento, foi dada neste domingo (29), pelo próprio prefeito Eduardo Paes. Ele alegou que organização precisava ter pedido autorização prévia do município, o que não aconteceu.

"Qualquer homenagem tem de ter a prévia autorização da prefeitura mediante a apresentação de um pedido formal. Me preocupa que as pessoas fiquem fazendo homenagens permanentes no espaço público sem a prévia autorização do município. E não é isso (a remoção das fotos) que vai esconder nossos problemas e dramas da segurança pública", disse Paes, conforme o jornal O Globo.

Placas Rio de Paz
Legenda: Placas com imagens das crianças vítimas de violência foram colocadas no sábado (28) e não ficaram nem 24 horas no local
Foto: Reprodução/Instagram

Ao mesmo veículo, o presidente da Rio de Paz, Antônio Carlos Costa, argumenta que a instalação — antes só com os nomes das vítimas — conta com cobertura de todos os meios de comunicação e agências de notícias estrangeiras e tem o apoio da população local, há nove anos. E que vai procurar o prefeito, porque jamais pediu autorização para os atos:

"Vamos procurar o prefeito, obviamente, e vamos levar as mães e parentes (das crianças mortas) para nos reunirmos. Não abrimos mão, em hipótese alguma, de manter na região onde moram os principais formadores de opinião do Rio de Janeiro uma instalação que lembre que policiais e crianças estão morrendo há dezenas de anos, de modo banal no nosso estado, sem que uma solução seja dada pelo poder público", disse Costa.

Antes de saber que foi a Prefeitura...

Antes de ser informado que a retirada dos cartazes foi feita pelo município, representantes da ONG voltaram ao local, na manhã deste domingo (29). No lugar das fotos foram colocadas a mesma quantidade de rosas, de cores variadas.

Uma faixa de dez metros de comprimento com a frase “Rio (2020-2024): 49 crianças mortas por balas perdidas” também foi arrancada. Porém a homenagem feita aos policiais permaneceu.

Em nota, a prefeitura informou que avalia "a pertinência de manter a homenagem aos policiais militares assassinados, que também é justa e necessária, no mesmo local." A nota conclui que o "município tem total interesse em combater a violência, prestar justas homenagens às suas vítimas e está aberto para debater qualquer tipo de iniciativa, desde que seja previamente consultado."

A Rio de Paz e seus questionamentos

A entidade acompanha estes casos desde 2007 e já contabilizou 115 vítimas, de 0 a 14 anos, mortas por armas de fogo, a maioria por bala perdida moradora de favela.

Em suas redes sociais, a Rio de Paz afirma que o mural existe desde 2015 e vem sendo atualizado sempre que acontecem novos casos. "Nunca a prefeitura interferiu nessa nossa ação. O prefeito Eduardo Paes sabe dessa instalação e inclusive falou sobre ela em nosso documentário 'A Estética da Luta', que está no Globoplay".

Na mesma postagem, são questionados os motivos da retirada ocorrer neste momento. "Por que, agora, 9 anos depois, exigem autorização para instalação? Por que essa exigência somente agora que colocamos as fotos das crianças e não quando eram as placas com seus nomes? E por que somente retiraram das crianças e não também dos PMs? Por que essa seletividade? Por que não nos procuraram ontem quando estávamos no local fazendo o ato que foi amplamente divulgado?", questiona a Rio de Paz.

Assuntos Relacionados