'Os agentes da PRF estavam sem saber o que fazer', diz PM que ajudou a socorrer jovem baleada em abordagem
Juliana Leite Rangel, de 26 anos, permanece internada em estado gravíssimo
Um dos policiais militares que ajudou a socorrer a jovem Juliana Leite Rangel, 26, baleada na véspera de Natal durante abordagem da Polícia Rodoviária Federal (PRF) no Rio de Janeiro, contou em entrevista ao jornal Extra o que se passou logo após o carro da família ser alvejado pelos tiros.
Lotado no 15º BPM (Duque de Caxias), o cabo Leonardo Leite disse que estava em patrulha com mais dois oficiais, identificados como o cabo Fernandes e o sargento Carlos, quando o grupo escutou os disparos na BR-040.
"Imediatamente fomos até o local e vimos a mãe dela do lado de fora do carro gritando. Ela falava para os agentes da PRF: 'vocês mataram a minha filha'. Então o cabo Fernandes notou que ela estava desmaiada, broncoaspirando sangue e a levantou. Nisso, ela deu uma reanimada e a PRF veio com outra viatura para socorrê-la. Poderia ser a minha família ali, então isso tocou muito nos nossos corações" contou.
O cabo, que trabalha há 11 anos na corporação, afirma que a experiência em confrontos foi essencial para que os policiais conseguissem ajudar a jovem. "Toda hora temos que socorrer um colega, então ganhamos experiência. Só quem está lá na hora sabe o que se passa na cabeça, mas os agentes da PRF estavam sem saber o que fazer. É preciso, primeiramente, agradecer a Deus e depois aos policiais. Logo em seguida, nós nos preocupamos em fazer o balizamento na rodovia para não acontecer outro acidente", detalhou.
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'Viram que fizeram besteira'
Juliana Leite Rangel foi atingida na cabeça por um tiro de fuzil e permanece internada em estado gravíssimo no Centro de Terapia Intensiva (CTI) do Hospital Municipalizado Adão Pereira Nunes. A equipe médica do hospital informou que a jovem passou por uma cirurgia para retirar fragmentos ósseos em razão da passagem do projétil.
Também ao jornal Extra, mãe da jovem, Dayse Leite Rangel, disse que os agentes da PRF ficaram perdidos e só ensaiaram algum socorro após a intervenção da polícia militar.
Quando paramos, eles viram que fizeram besteira. Aí, do nada, uma patrulha da PM apareceu, perguntou o que estava acontecendo, e um policial pediu para checar a minha filha. Ele falou para mim que ela ainda estava respirando. Os agentes da PRF não fizeram nada, não tentaram socorrer, ficaram perdidos andando de um lado para o outro. Depois disso, eles botaram a Juliana no carro e a levaram para o hospital. Eu me desesperei na hora, só sabia gritar. Fui para cima dele (agente da PRF) e falei: 'Você matou a minha filha, seu desgraçado'. Ele deitou no chão, começou a se bater, pulando, mostrando que fez besteira"
Já em entrevista para a TV Globo, Deise afirmou que a família em nenhum momento recebeu ordem de parada, acrescentando que os agentes atiraram para matar.
"Eles deram tiro para matar a família inteira, direcionada na cabeça do meu marido. Tanto que acertou a cabeça da minha filha, que estava atrás dele". O pai da jovem, Alexandre Rangel, afirmou ter pensado que ninguém sobreviveria. "Eu falei para ela [Dayse]: 'Nós vamos morrer, é o nosso fim'. Mesmo o carro parado, continuaram atirando", lembrou.
Afastamento de agentes
A PRF informou que os dois homens e a mulher que participaram da abordagem ao carro da família de Juliana Rangel na BR-040 “foram afastados preventivamente de todas as atividades operacionais”. Os dois fuzis e a pistola usados pelos agentes foram apreendidos pela Polícia Federal, que está encarregada das investigações.
As armas dos agentes da PRF passarão por análise pela perícia técnica criminal, que determinará de que arma saiu o projétil que atingiu a vítima na cabeça.
O superintendente geral da PRF, Antônio Fernando Oliveira, classificou como "mais um evento traumático" a ação. "Temos feito esforços e adotado procedimentos para mudar a forma de atuação da polícia e o efetivo tem se esmerado nesses esforços, como mostram os nossos números", disse Antônio Fernando Oliveira, em entrevista à Globonews. "Mas, infelizmente tenho que voltar aqui hoje para falar sobre mais um evento traumático", completou.
Oliveira citou a instituição de uma comissão de direitos humanos na PRF, além de treinamentos recorrentes de atuação no combate ao crime. O superintendente afirmou que as medidas estão sendo bem recebidas por todo o efetivo e garantiu que não há ligação alguma entre o ocorrido e a publicação do decreto para regulamentar o uso da força policial no País pelo Governo Federal.