Temor de início da 2ª onda de contágios nos EUA derruba mercados

Após protestos antirracistas, cidades americanas registram um aumento de hospitalizações pela Covid-19; Bolsas temem recessão e desabam pelo mundo

Escrito por Redação ,
Legenda: Em diversas cidades dos EUA, houve um aumento de internações devido à Covid-19
Foto: AFP

O aumento no número de hospitalizações devido à Covid-19 em estados dos EUA, como Texas e Arizona, que deixaram o isolamento social recentemente, reforçou, ontem (11), o temor da chegada de uma segunda onda de contágios pelo novo coronavírus, derrubando o mercado mundial, preocupado com uma demora na recuperação da economia em recessão.

O crescimento dos casos de infecções ocorre também após a série de protestos em cidades americanas contra o racismo, desencadeados pela morte de George Floyd, um homem negro desarmado nas mãos da Polícia de Minneapolis, no Estado de Minnesota. Especialistas já apontaram para os riscos de um aumento dos contágios devido às aglomerações formadas nas ruas pelos manifestantes.

Ontem, os EUA superaram a marca de 2 milhões de infectados e 115 mil mortes pelo novo coronavírus. Desde o início do mês, investidores apostaram que a maior economia do mundo caminharia para uma recuperação após a reabertura de diversas cidades importantes, depois de meses de confinamento e pausa nas atividades e nos negócios. Ontem, os principais índices do mercado de ações interromperam esse movimento e registraram fortes perdas.

"O mercado decidiu se interessar pelo aumento dos casos de infecção pelo novo coronavírus fora do nordeste dos EUA", disse Karl Haeling, especialista em estratégia de mercados do LBBW.

Resultado: Wall Street afundou no pior pregão em quase três meses. O índice Dow Jones caiu 6,90%; o Nasdaq perdeu 5,27%; e o S&P 500 caiu 5,89%. As bolsas europeias também fecharam com quedas superiores a 4%. Frankfurt despencou 4,47%; Paris, 4,71%; e Londres, 4%.

Casa Branca

No Governo Trump, a ordem foi culpar a China pela crise. O vice-presidente americano, Mike Pence, afirmou que os EUA "responsabilizarão" a China e a Organização Mundial da Saúde (OMS) pelas "falhas em advertir adequadamente o mundo sobre o coronavírus". Em entrevista à Fox Business, Pence também disse que o país asiático "não foi correto" e não forneceu dados sobre a pandemia.

Pence disse, ainda, que os pacotes de estímulos fiscais do Governo e as orientações para a reabertura econômica nos estados americanos abriram caminho para a recuperação econômica. "Nossa economia está voltando", declarou.

América Latina

Na prática, as novas turbulências nos mercados globais vão piorar as perspectivas para a região onde está o Brasil, segundo país com maior número de casos e que começa a reabrir suas cidades.

Economias em queda, mais de 200 milhões de pessoas em situação de pobreza, o fechamento de 2,6 milhões de empresas e a perspectiva de uma "década perdida" são as preocupações levantadas pela pandemia de Covid-19 na América Latina, segundo especialistas.

A crise financeira gerada pelas medidas para conter o coronavírus "pode nos levar a um retrocesso de 13 anos", disse Alicia Bárcena, secretária-geral da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal).

Em uma conferência virtual realizada ontem, Bárcena garantiu que o continente enfrenta hoje o resultado de "décadas de privatização e mercantilização dos serviços de saúde", cujos gastos públicos "não excederam 2% do PIB". "Estamos preocupados que a região possa emergir dessa crise mais endividada, mais pobre, com mais fome e com alto desemprego. E acima de tudo, revoltada".

Em maio, a Cepal estimou que a pobreza poderia atingir 34,7% da população latino-americana (214,7 milhões de pessoas) e a pobreza extrema, 13% (83,4 milhões de pessoas) em 2020. Também destacou que 2,6 milhões de pequenas e médias empresas serão fechadas na região.

"Estamos correndo o risco de ter uma década perdida", disse Bárcena, usando uma expressão que foi aplicada na América Latina para as crises da dívida de 1980.