China terá que "cortar na carne" para atingir meta de crescimento, segundo premiê

Em 2014 o PIB chinês teve 7,4% de crescimento, o menor em 24 anos

Escrito por Folhapress ,

A China terá dificuldades para atingir sua meta de crescimento este ano, mas o governo está disposto a tomar medidas de estímulo se necessário, disse o premiê do país, Li Keqiang.

"A boa notícia é que nos últimos anos nós não recorremos a medidas de estímulo maciças para o crescimento da economia", disse Li. "Ainda temos mais ferramentas à disposição".

Czar da segunda maior economia do mundo, o premiê repetiu o mantra do governo de que o "novo normal" é de crescimento em queda controlada, para permitir um reequilíbrio após anos de expansão acelerada.

Em 2014 o PIB chinês teve 7,4% de crescimento, o menor em 24 anos. A meta oficial de expansão para este ano foi reduzida de 7,5% no ano passado para "aproximadamente 7%" em 2015.

Mesmo assim, não será fácil cumprir a meta, reconheceu o premiê.

"O governo precisa alcançar um equilíbrio entre manter um crescimento estável e fazer ajustes estruturais", disse Li, afirmando que o governo está disposto a suportar as "dores" da reforma. "Não é como cortar as unhas. É como uma faca na própria carne".

As declarações foram feitas neste domingo (15) após o encerramento da sessão anual do Congresso Nacional do Povo, o Parlamento que serve para confirmar as decisões do Partido Comunista chinês. Li falou diante de centenas de jornalistas chineses e estrangeiros, na única entrevista coletiva formal concedida por ele anualmente. Como de hábito, o roteiro traçado pelo governo permitiu pouco espaço para surpreender o premiê, já que todas as perguntas eram conhecidas de antemão.

Conforme antecipou a Folha de S.Paulo, Li fará uma visita ao Brasil em maio, quando será renovado um plano de cooperação entre os dois países.

Apesar da redução da meta de crescimento, o premiê ressaltou que o PIB chinês já ultrapassou US$ 10 trilhões e que um crescimento de 7% equivale a toda a economia de um país médio. Mas fez a ressalva de que o governo intercederá caso a desaceleração também atinja a renda da população.

"Se o crescimento atingir o mínimo da escala e afetar o emprego e o aumento da renda, nós estamos preparados para acelerar regulações macroeconômicas pontuais para estimular a confiança do mercado", disse o premiê.

Ele não especificou qual seria o mínimo nem as medidas que poderão ser tomadas.

A China ainda vive as consequências negativas do pacote de estímulo de US$ 4 bilhões lançado em meio à crise de 2008, como a explosão da dívida no mercado bancário paralelo. O governo agora diz que as ações monetárias serão pontuais, como os cortes de juros praticados em novembro e fevereiro, os primeiros em dois anos.

Li Keqiang argumentou que os níveis de endividamento não são perigosos, ressaltando que 70% dos empréstimos estão em infraestrutura e outros investimentos que suportam a atividade econômica.

O premiê admitiu que os níveis de consumo estão baixos nos últimos meses, mas disse que a China não está em deflação. E rejeitou a afirmação de que o país está exportando deflação para outros países.

"Nós é que recebemos deflação. Um exemplo é que no ano passado a China importou 310 milhões de toneladas métricas de petróleo e 930 milhões de toneladas de minério de ferro em mercados internacionais. O volume manteve-se em alta, mas o valor caiu porque os preços das commodities despencaram", disse Li.

A China é o maior parceiro comercial do Brasil, mas em 2014 as trocas entre os países caíram 6% em relação a 2013. Um dos fatores da retração foi a queda nos preços do minério de ferro, que representaram 30,3% das exportações brasileiras para a China.

Na entrevista, realizada no palco principal da política chinesa, o Grande Palácio do Povo, Li Keqiang rechaçou a ideia de que a economia chinesa tenha ultrapassado a dos EUA e se tornado a maior do mundo. O FMI (Fundo Monetário Internacional) estimou no ano passado que a China já tinha a maior economia pelo critério de paridade de compra (PPP), que considera preços e custos relativos de cada país.

"A China ainda é um país em desenvolvimento em todos os sentidos", disse Li, observando que o país está abaixo de 80 países em renda per capita e que o Banco Mundial estima em 200 milhões o número de chineses na pobreza.