Alzheimer: novo remédio que reduz declínio cognitivo em pacientes é comemorado por cientistas

A descoberta da nova droga foi apontada por especialista como a primeira opção real de tratamento para a doença incurável

Escrito por AFP ,
Conceito de doença de Alzheimer, mulher idosa segurando símbolo cerebral de quebra-cabeça ausente
Legenda: Apesar do resultado positivo, novo medicamento apresenta importantes efeitos colaterais
Foto: Shutterstock

Um ensaio clínico realizado com um novo remédio indicou que ele consegue retardar o declínio cognitivo em pacientes com mal de Alzheimer. O resultado promissor da droga lecanemab, desenvolvida pelo grupo farmacêutico japonês Eisai e pela americana Biogen, foi comemorado pelos cientistas nessa quarta-feira (30), após ser divulgado na publicação especializada New England Journal of Medicine

"É o primeiro medicamento que oferece uma opção real de tratamento para pessoas com Alzheimer." 
Bart De Stroope
Diretor do Instituto Britânico de Pesquisa em Demência

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O estudo avançado de fase III foi realizado com um grupo de cerca de 1.800 pessoas durante 18 meses. O resultado da pesquisa confirmou uma redução de 27% no comprometimento cognitivo em pacientes que receberam o lecanemab. Essa relação "estatisticamente significativa" entre os dois grupos já havia sido anunciada no final de setembro.

"Embora os benefícios clínicos pareçam um tanto limitados, espera-se que eles se tornem mais evidentes se o medicamento for administrado por um período maior de tempo", detalhou o gestor. 

Efeitos colaterais importantes

Apesar da redução do comprometimento cognitivo provocado pelo Alzheimer, o estudo clínico indicou que o novo remédio pode provocar efeitos colaterais significativos, às vezes graves. No total, 17,3% dos voluntários que receberam lecanemab sofreram hemorragias cerebrais, em comparação com 9% dos pacientes do grupo placebo. 

Além disso, 12,6% dos pacientes tratados com a nova droga sofreram edema cerebral — caracterizado pelo acúmulo excessivo de líquido nos espaços intracelular e/ou extracelular do cérebro — e somente 1,7% no grupo placebo. Apesar disso, a taxa geral de mortalidade é quase a mesma nos dois grupos (0,7% nas pessoas que receberam lecanemab, 0,8% nas que receberam placebo). 

Alzheimer é incurável

Na doença , duas proteínas-chave — tau e outra chamada beta-amiloide — acumulam-se de forma gradual e anormalmente no cérebro, provocando a morte das células cerebrais e o encolhimento do cérebro. Isso causa perda de memória e uma incapacidade crescente de realizar tarefas diárias. O Alzheimer é um dos principais problemas de saúde pública e afeta mais de 40 milhões de pessoas em todo o mundo. 

O lecanemab tem como alvo os depósitos de proteína beta-amiloide, mas apenas nos estágios iniciais da doença, o que pode limitar seu uso, já que a condição costuma ter um diagnóstico tardio. Outro medicamento da Biogen e Eisai, chamado Aduhelm (aducanumab), já havia despertado esperanças em 2021. Foi o primeiro medicamento aprovado nos Estados Unidos contra a doença desde 2003. 

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Mas o Aduhelm também gerou polêmica quando a agência americana de medicamentos, a FDA, foi contra a opinião de um painel de especialistas, que considerou que o tratamento não demonstrou eficácia suficiente nos ensaios clínicos. A FDA posteriormente restringiu seu uso.

Várias empresas farmacêuticas, como a gigante suíça Roche, recentemente falharam em encontrar um tratamento para o mal de Alzheimer, que permanece incurável e cujas causas e mecanismos precisos ainda não são claros.

O novo medicamento da Eisai e da Biogen também não cura a doença e "não há definição aceita de efeitos clinicamente significativos no teste cognitivo" que os autores do estudo usaram, afirmou Tara Spires-Jones, vice-diretora do Centre for Discovery Brain Sciences da Universidade de Edimburgo (Escócia).

"Ainda não é certo que a modesta redução [na velocidade do declínio cognitivo] fará uma grande diferença" para os pacientes, e "testes mais longos serão necessários para garantir que os benefícios desse tratamento superam os riscos", acrescentou a neurocientista.

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