Mortes de adolescentes crescem mais de 160% em Fortaleza no 1º semestre de 2020

Os dados se referem a jovens na faixa etária de 10 a 19 anos, estipulada pela Organização Mundial da Saúde (OMS)

Escrito por Redação ,
Legenda: Os números se referem aos Crimes Violentos Letais e Intencionais (CVLIs), que englobam homicídios, latrocínios (roubo seguido de morte) e lesões corporais seguidas de morte, que atingem adolescentes de 10 a 19 anos, faixa etária estipulada pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Foto: FOTO: DARLEY MELO

O número de adolescentes vítimas de homicídio em Fortaleza cresceu mais de 160% no 1º semestre de 2020 em comparação com os seis primeiros meses de 2019. Em todo o Ceará, o aumento foi de mais de 149%. Os dados são da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), disponibilizados pelo Comitê Cearense pela Prevenção de Homicídios na Adolescência (CCPHA)

O 1º semestre de 2019 registrou, no Ceará, 164 mortes de adolescentes. Em igual período, em 2020, contabilizou 409. Em Fortaleza, as ocorrências de homicídios de jovens mais que dobraram. Enquanto os seis primeiros meses de 2019 computaram 52 casos, de janeiro a junho de 2020, houve 137 mortes.

Conforme o órgão, os números se referem aos Crimes Violentos Letais e Intencionais (CVLIs), que englobam homicídios, latrocínios (roubo seguido de morte) e lesões corporais seguidas de morte, que atingem adolescentes  de 10 a 19 anos, faixa etária estipulada pela Organização Mundial da Saúde (OMS). 

Os dados mostram que o mês com maior número de adolescentes mortos no 1º semestre de 2020, no Ceará, foi fevereiro, no qual 88 jovens foram assassinados, o dobro do mês anterior, janeiro. Março, abril, maio e junho computaram, respectivamente, 77, 79, 64 e 57 mortes.

Motim de PMs

Fevereiro deste ano marca, também, o período de amotinamento  realizado por policiais militares, iniciado no dia 18 daquele mês. Para Thiago de Holanda,  sociólogo e coordenador do CCPHA, há uma clara relação entre o aumento de mortes nesse mês e a paralisação dos agentes. 

"Há uma alteração desde o final do ano de 2019. Em janeiro, houve um aumento e, em fevereiro, a paralisação. No momento da paralisação, aumentou muito o número de mortes. Foi um período em que se matou muito", afirmou o sociólogo.

Thiago de Holanda aponta quais são as dinâmicas sociais as quais ele acredita serem essenciais para que a população jovem, especificamente adolescentes, sejam alvos de assassinatos no Ceará. Dentre o recrutamento para facções criminosas até vulnerabilidade social, a violência é um fator contundente nas hipóteses. 

"Há uma população e uma região mais vulneráveis: as periféricas. Áreas onde doenças infectocontagiosas são mais suscetíveis a se alastrarem. Onde há o adensamento de pessoas e a presença insuficiente do Estado. Há o domínio da violência armada, onde quem ocupa é o crime organizado. No Nordeste, as facções se expandiram, tomaram forças para dominar territórios e os jovens são arregimentados para construir seus grupos."

Famílias desamparadas

O sociólogo aborda ainda a sobrevida das consequências dos assassinatos como os de jovens cearenses. Conforme Thiago, a morte dentro dos grupos vulneráveis gera uma série de intempéries para os as famílias das vítimas. Ele aborda ainda o dever das Instituições em gerir a segurança.

"Deve-se amparar as famílias de vítimas de homicídio.  Quando elas perdem alguém, elas se destroem. São famílias de classes vulneráveis, muitas vezes,  mães solos que adoecem após o crime, não trabalham e, sem aparato para lidar com a  dimensão do luto, podem se tornar adictas", afirmou Thiago.

Conforme o coordenador, as políticas públicas devem ser construídas em um processo que vislumbre a complexidade da violência no Estado. Além das resoluções dos crimes, que estão em baixa, afirmou Thiago, deve haver o amparo socioeconômico da população marginalizada.

O sociólogo fala ainda sobre o período de pandemia e a violência no Estado. Apesar de salientar que os números de assassinatos de adolescentes crescem desde o ano passado, Thiago afirma que organizações criminosas utilizaram o isolamento social para realizarem algumas intervenções na cidade e em outros municípios.

"Estamos passando por um momento de conter a pandemia. Há  todo o apelo para o distanciamento, e os grupos não estão preocupados com isso, eles usam esses vazios para expandirem os territórios.  Vimos queima de fogos, expansão, áreas nobres com pichações deles, e ramificações em outros municípios", afirmou o coordenador. 

Atuação dos órgãos de segurança

Sobre a atuação dos órgãos de segurança no Ceará, a SSPDS informou "que  eles atuam forma preventiva com o objetivo de reforçar a participação da população infantojuvenil em projetos sociais e outras iniciativas que promovam a sedimentação do desenvolvimento integral do ser humano, em todo o Estado, evitando a atuação de organizações criminosas".

A Pasta informou ainda que "as iniciativas ocorrem dentro das instituições de ensino e também durante o horário de contraturno escolar, principalmente em territórios onde estão concentradas as maiores incidências de Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLI)".

A Secretaria pontuou ainda a realização de projetos direcionadas aos jovens e estudantes, como o Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência (Proerd), o  Jovem Brigadista de Valor, do Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Ceará (CBMCE) e Divisão de Proteção ao Estudante (Dipre), da  Polícia Civil do Estado do Ceará (PCCE). 

 

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