Massoterapeuta é acusado de estuprar empresária durante atendimento em Fortaleza; acusado segue solto

"Vibrador na vagina e mangueira no ânus", conta vítima sobre o episódio de abuso. O homem foi denunciado pelo Ministério Público do Ceará (MPCE)

Escrito por Emanoela Campelo de Melo , emanoela.campelo@svm.com.br
vitima abuso
Legenda: A vítima disse que foi para casa inconformada com a situação e na dúvida se aquilo era realmente parte de uma sessão de massoterapia.
Foto: Unidade de Arte/DN

Um massoterapeuta é alvo de processo na Justiça do Ceará, pelo crime de estupro mediante fraude. Francisco de Assis Carneiro da Silva foi denunciado pelo Ministério Público do Ceará (MPCE) após uma empresária prestar queixa alegando que, enquanto paciente do suspeito, foi vítima de crimes sexuais.

O relato da mulher impressiona. Segundo ela, durante as sessões, teve as partes íntimas tocadas sob o pretexto que a ação era parte do tratamento. Em um dos episódios, o homem, que se diz massoterapeuta e quiropraxista, teria afastado a calcinha da vítima com uma das mãos e com a outra introduzido um vibrador na vagina dela. O acusado nega.

O processo tramita na 14ª Vara Criminal de Fortaleza, sob segredo de Justiça. A reportagem apurou que Francisco está na condição de réu, após o Judiciário receber a denúncia. Segue em aberto um pedido de prisão feito pela Polícia Civil, com parecer favorável ao decreto prisional do Ministério Público do Ceará.

O Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE) confirmou as informações, e disse não poder dar detalhes sobre o caso por conta do sigilo processual.

DORES NA COLUNA

O primeiro contato entre vítima e agressor aconteceu em novembro de 2020, dias após a empresária sofrer um acidente de carro e começar a sentir fortes dores na coluna. Foi quando decidiu buscar auxílio de um profissional.

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O tratamento foi orçado em R$ 1.800. Na primeira sessão, "tudo ocorreu dentro da ética profissional e da forma acordada entre as partes", afirma. Uma semana depois, ela retornou para novo atendimento.

Chegou, retirou a roupa e deitou de costas, para o tratamento da coluna. Ela afirma ter sido surpreendida com o pedido do profissional para que virasse de frente, "porque ele tinha notado uma lesão no quadril da paciente".

O PRIMEIRO ASSÉDIO

A vítima estranhou o pedido, mas obedeceu. Instantes depois, conforme depoimento da empresária, sentiu que Francisco afastava a calcinha dela com uma das mãos, enquanto com a outra introduzia um vibrador na vagina.

"No meio da sessão ele se virou para pegar outra coisa. Quando ele colocou o vibrador eu dei um pulo. Ele disse que eu confiasse nele, porque ele era profissional. Veio na minha cabeça se estava acontecendo comigo a mesma coisa que aconteciam com vítimas que davam entrevista na TV. Eu fiquei imóvel. Não consegui ter reação"
Empresária
Vítima de estupro

A empresária conta que chegou a perguntar se ia demorar muito para terminar. O homem teria pedido que ela fosse ao banheiro, porque precisaria passar pela lavagem estomacal. Segundo ela, o suspeito pediu que ela ficasse de quatro, para uma nova sessão.

"Introduziu uma mangueira no meu ânus dizendo que era parte de um tratamento para limpeza intestinal, estomacal. Eu não sei o que foi pior. Nunca me senti tão invadida. O que eu passei foi um terror", relata a vítima.

BUSCA POR JUSTIÇA

A vítima disse que foi para casa inconformada com a situação e na dúvida se aquilo era realmente parte de uma sessão de massoterapia. Fez uma busca na internet e se deparou com casos de assédio com modus operandi similar.

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Dias depois, conversou com um amigo que já tinha se consultado com o mesmo profissional. Foi quando teve a certeza que tinha sido vítima de um crime sexual. Buscou falar com o profissional relatando que tinha se sentido invadida, e ele teria pedido desculpas, afirmando reconhecer "que precisava de tratamento".

Ainda em novembro de 2020 relatou o episódio às autoridades, mas o suspeito só foi indiciado em setembro de 2021, quase um ano após o início da investigação.

Em maio deste ano, a Polícia Civil anexou relatório ao processo pedindo pela prisão preventiva de Francisco. A Polícia afirma no pedido que "o crime em tela envolve violência de gênero contra mulher, com forte indicativo de ser conduta reiterada do representado, que utilizando-se da atividade de quiroprático e abusando da vulnerabilidade da mulher/paciente passou a cometer atos libidinosos contra a vítima, demonstrando a gravidade concreta do representado o que comprova a periculosidade do agente".

Os investigadores ainda representaram por um mandado de busca e apreensão com objetivo de apreender objetos eletrônicos, como celular e computador, na casa do suspeito.

A assistente de acusação, advogada criminalista Carolina Azin, acredita que possam haver outras vítimas do mesmo denunciado e pede celeridade para o caso: "A vítima chegou até mim um ano e meio depois de ter procurado a Polícia e perceber que o caso não tinha o andamento devido. A nossa expectativa agora é que, de fato,a  prisão seja decretada".

"O réu se contradiz na própria defesa dele. Nossa intenção de divulgar, de pedir pela prisão é dizer às mulheres que sofreram qualquer tipo de violência sexual que elas não estão sozinhas e que têm respaldo legal"
Carolina Azin
Assistente de acusação

O QUE DIZ A DEFESA

A defesa se manifestou no processo negando que o denunciado tenha praticado atos libidinosos mediante fraude contra a empresária. Segundo a defesa, "em nenhum momento houve ofensa à integridade física e moral da suposta vítima".

Na versão do advogado, o caso está embasado em uma "denúncia genérica" e que não há motivo para o pedido de prisão preventiva. A reportagem não conseguiu contato pessoal com a defesa.

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