Gerente da Zara se torna réu em processo por racismo contra delegada no Ceará

A decisão foi proferida nessa segunda-feira (13). Bruno Filipe Simoes Antonio deve apresentar defesa em até 10 dias

Escrito por Emanoela Campelo de Melo , emanoela.campelo@svm.com.br
CASO ZARA
Legenda: A vítima do crime é a delegada Ana Paula Barroso, diretora adjunta do Departamento de Proteção aos Grupos Vulneráveis (DPGV) da PCCE
Foto: Divulgação/PCCE

O Judiciário acolheu a denúncia apresentada contra um dos gerentes da loja Zara, Bruno Filipe Simoes Antonio. Com o recebimento da acusação, agora, o português Bruno Filipe se torna réu na Justiça cearense por racismo. Bruno passou a ser investigado pela Polícia Civil do Ceará (PCCE) desde o último mês de setembro, quando câmeras de segurança mostraram o funcionário da loja abordando a delegada Ana Paula Silva Santos Barroso, que afirmou ter sido vítima de racismo.

A denúncia foi recebida nessa segunda-feira (13) pela juíza Marileda Frota Angelim Timbo, da 14ª Vara Criminal de Fortaleza. A magistrada determinou citação do réu a fim de que ele apresente resposta escrita em até 10 dias, por meio da sua defesa.

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O gerente foi indiciado pela PCCE no mês de outubro. 

O QUE DIZ A DENÚNCIA

A denúncia do MPCE foi enviada no dia 1º de dezembro e apontou que: "diante de todos os elementos juntados aos autos, nota-se a prática de crime resultante de discriminação ou preconceito de raça, cor ou etnia com latente diferenciação de tratamento entre clientes do estabelecimento comercial". O caso foi enquadrado no artigo 5º da Lei nº 7716/1989 (que define os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor).


Verifica-se que o denunciado Bruno Filipe Simões Antônio impediu acesso a estabelecimento comercial, negando-se a servir, atender ou receber à vítima Ana Paula Silva Santos Barroso, sem qualquer outra razão fundamentada que não fossem as próprias características físicas da vítima."
Ministério Público do Ceará
Na denúncia

A delegada Ana Paula Barroso entrou na loja Zara, dentro de um shopping localizado no bairro Edson Queiroz, na noite de 14 de setembro, com um sorvete na mão, o qual comia. O gerente Bruno Filipe se dirigiu até ela para pedir para ela se retirar do estabelecimento. Vídeos divulgados pela Polícia Civil mostram o episódio.

Na versão de Bruno Filipe e da loja Zara, Ana Paula foi impedida de permanecer no local porque estava com a máscara abaixo do queixo, o que não era permitido por prevenção ao contágio por Covid-19. Entretato, o gerente atendeu normalmente uma cliente branca pouco antes de expulsar a delegada, negra.

Código 'Zara Zerou'

O delegado geral da PCCE, Sérgio Pereira, revelou que testemunhas (entre ex e atuais funcionários da Zara) relataram, durante a investigação que a marca tinha o código "Zara zerou". O código era disparado no alto-falante da loja quando entrava um cliente fora do padrão desejado pela loja, que poderia colocar a segurança em risco.

Conforme as investigações, eram alvos do alerta "Zara zerou" pessoas negras e julgadas como "mal vestidas". O preconceito solidificado na cultura da Loja foi sentido pela delegada Ana Paula Barroso, que foi expulsa do estabelecimento sob a alegação de estar com a máscara baixa, enquanto pessoas brancas e loiras circulavam normalmente.

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