Funcionários do IJF relatam cenas de ‘pavor’ com assassinato no hospital: ‘muita gente passou mal’

Copeiro da unidade hospitalar foi morto e decapitado durante o expediente, na manhã desta terça-feira (23)

Escrito por Theyse Viana e Nathally Kimberly , seguranca@svm.com.br
Fachada IJF
Legenda: IJF é um dos maiores hospitais de urgência e emergência do Ceará, recebendo pacientes do Ceará inteiro
Foto: Fabiane de Paula

Gritos, correria e “pânico total” resumem o cenário vivenciado por pacientes e trabalhadores do Instituto Dr. José Frota (IJF), em Fortaleza, na manhã desta terça-feira (23), após um funcionário do hospital ser assassinado a tiros e decapitado durante o expediente.

Em entrevista ao Diário do Nordeste e à Verdinha FM 92.5, servidores que estavam no local durante o crime descrevem os “momentos de pavor” ao ouvirem os disparos que vitimaram um copeiro da unidade hospitalar, cuja identidade ainda não foi divulgada.

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“Cada um se protegeu como pode”

Uma das fontes ouvidas pela reportagem, que prefere não ser identificada, trabalha no IJF há décadas e afirma que presenciar disparos e assassinatos dentro do hospital não é inédito. “Já mataram gente na emergência, na enfermaria. E agora, um funcionário”, lamenta. 

De todo modo, a situação gerou “reação de pavor”. “Ouvimos os estampidos, fechamos as portas das salas, ficamos todos abaixados, por trás das paredes, nos trancamos. E os pacientes e acompanhantes ficaram nos corredores, à mercê. Cada um se protegeu como pode”, confessa.

Minha pressão subiu, tive que tomar medicamento. Muita gente foi pra sala de reanimação e precisou se medicar, e muitos funcionários atendidos foram pra casa, não conseguiram ficar aqui.
Funcionária do IJF

Ao abrirem as portas, a trabalhadora e os colegas viram funcionários correndo para se afastar do local onde foram efetuados os disparos: a área onde é preparada a comida, afastada da assistência e à qual apenas quem trabalha no IJF tem acesso.

“Pra nós, não interessa a motivação do crime, mas que foi dentro do nosso trabalho. Se entra alguém, mata e sai assim, mesmo com uma quantidade imensa de policiais e guardas aqui, quantas pessoas ele poderia ter matado?”, critica, acrescentando que os protocolos de segurança não funcionaram.

“Se chegar alguém aqui da nossa família não entra. Não pode entrar um lanche, nada. Como ele entrou, com mochila e tudo? Nem acompanhante entra com mochila”, frisa.

“Dentro do seu setor de trabalho, você imagina que tá protegida. Mas a gente não tem proteção nenhuma dentro do hospital”, lamenta. A servidora informou, ainda, que “o rapaz que perdeu a vida era copeiro”, bem quisto pelos colegas que atuavam junto a ele.

Outra pessoa que compõe o quadro de funcionários do IJF lembra de que estava no banheiro quando o crime aconteceu. “Saí às pressas e já estavam todos os servidores, pacientes e acompanhantes correndo de um lado para o outro, gritando”, descreve.

Além do copeiro assassinado no hospital, um colega dele foi atingido por disparo e precisou passar por procedimento cirúrgico. O estado de saúde dele não foi divulgado.

“Estão todos em pânico, é muita insegurança”, acrescentou.

“Luta por segurança é antiga”

Outra profissional que estava em expediente durante o assassinato, a assistente social Meirelane Barros afirmou, em entrevista à Verdinha FM 92.5, que “os trabalhadores estão completamente abalados”, embora confrontados com uma demanda “antiga”.

“Entendemos que a segurança tem uma dimensão bem maior, em termos de sociedade. Mas a gente também entende que quando sai de casa pra trabalhar vai ter mínimas condições de trabalho, uma delas é um ambiente protegido dessa violência”, destaca.

Infelizmente hoje saímos pra trabalhar e estamos abalados, porque houve um tiroteio. Essa luta por segurança dentro do IJF não é de hoje.
Meirelane Barros
Assistente social do IJF

A assistente social relata que estava no corredor da emergência da unidade de saúde quando ouviu os disparos. “Estávamos atendendo e, de repente, o caos se instala. Foi algo que nunca vivenciei na vida e espero não vivenciar”, declara.

“Que a Prefeitura e o Estado possam olhar pra esse local. Fica o nosso clamor para que a gente não vivencie isso novamente”, finaliza Meirelane.

Na manhã desta terça (23), poucas horas após o crime, servidores e prestadores de serviço do IJF ergueram cartazes em protesto contra a insegurança no local. 

O que diz o Poder Público

O secretário da Segurança Pública do Ceará, Samuel Elânio, afirmou que o assassinato no IJF foi um “crime passional”, praticado por um ex-funcionário da unidade, que foi demitido em 2022, mas conseguiu acessar o local por reconhecimento facial.

Em resposta ao prefeito José Sarto (PDT), que criticou a “paralisia do Governo de Estado no combate às facções”, o titular da SSPDS afirmou que a ocorrência “não se trata de segurança pública”.

O suspeito de assassinar o funcionário da unidade hospitalar foi preso na tarde desta terça-feira (23), no distrito de Patacas, em Aquiraz, na Região Metropolitana de Fortaleza, como compartilhou o governador Elmano de Freitas (PT) nas redes sociais.

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