Chacina e ataque em posto de saúde fizeram de maio o 2º mês mais violento no Ceará em 2022

Se comparado ao igual período de 2021, o índice de mortes violentas no último mês de maio aumentou 10%

Escrito por Emanoela Campelo de Melo , emanoela.campelo@svm.com.br
morte posto de saude
Legenda: Em média, a cada dia do último mês de maio, oito pessoas foram assassinadas no Ceará
Foto: Kid Júnior

Maio foi o segundo mês mais violento em 2022, no Ceará, ficando atrás apenas de fevereiro. Em 31 dias, a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) registrou 269 Crimes Violentos Letais e Intencionais (CVLIs). O número indica que, em média, a cada dia, oito pessoas foram assassinadas no Estado.

Se comparado ao igual período de 2021, o índice de mortes violentas aumentou 10%. Crimes emblemáticos marcaram o último mês. No Interior, uma chacina assombrou a população de Monsenhor Tabosa. Além dos quatro mortos no episódio, duas crianças também ficaram feridas. Oito pessoam foram detidas devido à chacina.

Já na Capital, em um mesmo dia, dois policiais rodoviários federais foram assassinados, durante o serviço, e criminosos invadiram um posto de saúde. O episódio na unidade hospitalar se tratou de uma tentativa de chacina, com três homens mortos. Dentre eles, um de 59 anos de idade que havia ido ao equipamento mostrar exames.

Em fevereiro de 2022 foram contabilizadas 276 CVLIs.

O sociólogo pesquisador do Laboratório de Estudos da Violência (LEV) da UFC, Luiz Fábio Paiva, considera que a variação no número de homicídios se deve a um conjunto de fenômenos, que inclui a dinâmica dos coletivos armados: "Temos hoje um fenômeno visível de enfrentamento entre grupos e até mesmo dentro do próprio grupo".

DINÂMICA DO CRIME

De acordo com o estudioso, esta dinâmica tem se intensificado e gerado efeitos negativos na qualidade de vida da população cearense. O triplo homicídio no Dias Macêdo é exemplo recente de um crime que se encaixa nesta configuração.

As mortes múltiplas ocorridas no posto de saúde no dia 18 de maio foram programadas. Instantes antes do ataque, homens armados se reuniram com intuito de buscar "os pilantras que rasgaram a camisa", se referindo a saída da facção criminosa a qual pertenciam. 

Além dos dois alvos dos criminosos, morreu na ação o mestre de obras Francisco Egino Alves. Ele não tinha nenhuma relação com as demais vítimas e criminosos.

Instantes após o crime, Jairo Lima Rodrigues, de 27 anos, e Johnatan Alves Vieira, 22, foram presos. A Polícia Civil concluiu inquérito do caso e remeteu ao Judiciário. O Ministério Público do Ceará (MPCE) denunciou os acusados por homicídio qualificado e associação criminosa. A denúncia foi recebida pela 4ª Vara do Júri de Fortaleza na última quinta-feira (9).


TERRITORIALIZAÇÃO

Luiz Fábio Paiva considera que há esforços para o controle social, mas é preciso entender o número: "A situação de, certa maneira, escapou do controle do Sistema de Segurança Pública. Então convivemos com dinâmica criminal que se repete ano a ano. É preciso entender melhor esse número, é preciso insistir e entender as condições que geram esse tipo de crime e sabermos que estamos em um momento no qual os problemas sociais se agravaram".

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A Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) afirma que, sobre a variação registrada em maio de 2022, foram adotadas ações preventivas, "por meio da territorialização do policiamento em locais com maior incidência de crimes, ofensivas realizadas pela Polícia Militar do Ceará (PMCE), norteadas por estudos da Superintendência de Pesquisa e Estratégia de Segurança Pública (Supesp), somado ao trabalho investigativo da Polícia Civil do Estado do Ceará (PC-CE) e da inteligência da SSPDS, bem como de suas demais vinculadas".

A Pasta destaca que por intermédio de ações de patrulhamento e investigação, as Forças de Segurança do Ceará reduziram o total de Crimes Violentos contra o Patrimônio. Durante o mês de maio de 2022, foram 3.835 casos, contra 4.108 no mesmo período, em 2021, o que representa uma redução de 6,6%. 

"Ainda no mês de maio, a Polícia Civil do Estado do Ceará (PC-CE) solicitou o bloqueio de R$ 100 milhões de valores que eram movimentados por integrantes de um grupo criminoso, responsável por crimes de homicídios, tráfico de drogas e lavagem de dinheiro. A ação foi desencadeada durante a Operação Continuum, que contou com apoio da Coordenadoria de Inteligência (Coin) da SSPDS-CE. A ofensiva segue a estratégia adotada pela pasta, que consiste na asfixia financeira do coletivo, como forma de enfraquecimento", disse a Secretaria.

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