Piscicultura intensiva chega ao fim nos dois maiores açudes do CE
Nos dois principais açudes do Ceará, a cena se repete: barcos e gaiolas fora d'água denunciam o fim da atividade da piscicultura
O prolongado período de estiagem afetou duramente os reservatórios cearenses. O nível hídrico reduziu substancialmente, e as consequências foram para além do abastecimento de água, Produtores acumulam prejuízos
Nos dois maiores açudes do Ceará, Castanhão e Orós, a piscicultura intensiva chegou ao fim. O sonho de trabalhar na água doce e tirar da criação de tilápia em gaiolas a renda de milhares de famílias não mostrou sustentabilidade com o passar do tempo. Nos últimos anos, mediante a perda de reserva hídrica nos reservatórios, ocorreram episódios de mortandade que em fevereiro passado se agravaram e se transformaram em um desastre econômico, social e ambiental.
Somente no Castanhão, entre os dias 6 e 25 de fevereiro, já morreram mais de 1,5 milhão de peixes. Os dados são da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Turismo, Aquicultura e Pesca de Jaguaribara. A mortandade continua e atingiu também os peixes nativos, soltos no açude.
Prejuízos
Os produtores perderam pescado, renda e estão desempregados. A situação é crítica. Mais de 200 famílias foram afetadas com o problema. A cidade de Jaguaribara, no entorno do maior açude do Ceará, pede socorro. "É o triste fim da piscicultura no maior açude do Ceará", disse o piscicultor Luís Pereira. "Eu mesmo perdi tudo", lamenta.
A falta de renda oriunda da atividade de pesca reflete diretamente na cidade que enfrenta uma grave crise econômica local. Outras atividades produtivas prometidas pelo Governo estadual quando da construção do reservatório (fruticultura e bovinocultura de leite) nunca se efetivaram por falta de apoio e implantação dos projetos em sua totalidade.
Em recente reunião com o secretário Nelson Martins, titular da Casa Civil do Governo do Ceará, uma comissão formada por piscicultores e representantes de instituições públicas de Jaguaribara, no Vale do Jaguaribe, debateu assuntos referentes à mortandade de tilápias criadas em cativeiro (gaiolas) que vem ocorrendo no Açude Castanhão.
A reunião teve por objetivo a apresentação das demandas emergenciais para serem entregues ao governador Camilo Santana, através do secretário Nelson Martins. "O que os produtores pedem são cestas básicas e ajuda financeira temporária para que eles possam se reorganizar dentro de uma atividade produtiva de forma sustentável", explicou em tom de tristeza a secretária de Desenvolvimento Econômico, Turismo, Aquicultura e Pesca de Jaguaribara, Lívia Barreto.
Até o momento, ainda não houve nenhuma confirmação de que as solicitações apresentadas serão atendidas. A comitiva aguarda uma resposta do Governo do Estado, e o prefeito de Jaguaribara confirma que o quadro é de crise e de preocupação, porquanto afeta a principal atividade econômica local.
O clima é de tristeza entre secretários, moradores e piscicultores. Quem arriscou manter a produção para vender durante a Semana Santa, em abril vindouro, perdeu tudo. "A gente achava que dava para continuar produzindo pelo menos até abril, mas veio essa mortalidade e acabou com tudo", disse o piscicultor Carlos Antônio da Silva. O açude Castanhão está com volume reduzido de apenas 3,5% de sua capacidade, segundo o Portal Hidrológico do Ceará.
O Açude Castanhão era responsável por 50% da produção de peixe em gaiolas no Ceará. O Parque Aquícola chegou a produzir 12 mil toneladas no ano de 2014 e a reunir 670 piscicultores.
O quadro é semelhante no açude Orós, que acumula apenas 5,3% de sua capacidade. Poucas gaiolas ainda mantêm tilápias em produção para a Semana Santa, período de alto consumo.
"Havia produção em várias localidades ribeirinhas, em Orós e Quixelô, gerando milhares de empregos e renda para as famílias, mas tudo isso se acabou desde 2016", lamentou o piscicultor Manoel Gomes. A produção atual é inferior a 5%. O Orós já chegou a produzir 400 toneladas de pescado por mês, e os projetos de piscicultura intensiva atendiam a 700 famílias.