Periquito cara-suja e a luta pela preservação da biodiversidade

A máxima de que "todo mundo quer ter casa na serra" é motivo de preocupação crescente no Maciço de Baturité, onde a expansão urbana é vista como uma das principais ameaças às nascentes e às espécies

Escrito por Redação ,

Guaramiranga / Pacoti / Mulungu (CE) Distante cerca de 100Km de Fortaleza, o Maciço de Baturité, uma cadeia de montanhas considerada por especialistas um dos mais importantes encraves de Mata Úmida do Ceará, serve de refúgio para animais raros, árvores centenárias e, infelizmente, para a especulação imobiliária.

"Todo mundo quer ter uma casa na serra, mas, ao mesmo tempo, essa construção de casas, não tem sido bem controlada", afirma Adriano Sales Coelho, engenheiro florestal, orientador de célula da Área de Proteção Ambiental (APA) da Serra de Baturité, que é fiscalizada e gerida pelo Conselho de Políticas e Gestão do Meio Ambiente (Conpam). Segundo Adriano Coelho, falta conscientização.

"Aqui é uma Unidade de Conservação Sustentável e eu não posso impedir ninguém de construir uma casa, mas isso precisa ser bem regulamentado. Existem leis. Só não temos conseguido fazer isso (fiscalizar) com eficiência porque é muita gente, pouco pessoal e isso também passa pela conscientização da população. Essa corrida por imóveis na serra gera inúmeros problemas, como a falta d'água. Hoje (15 de fevereiro), Pacoti está sendo abastecida com carro-pipa. É incoerente. Você está no alto da Serra e não tem água", alerta.

E os impactos podem ser sofridos também em outros lugares, destaca o engenheiro florestal. "O Rio Pacoti, que nasce aqui, é o principal abastecedor de água da Região Metropolitana de Fortaleza (RMF). Se a gente não cuidar, os problemas aumentarão. Aqui, muita gente pensa que é só mato, mas temos questões fundamentais que precisam ser preservadas, como a da água e da biodiversidade".

O orientador da célula da APA da Serra de Baturité afirma que tem trabalhado em conjunto com as cidades e as organizações para minimizar esses problemas. A APA possui 32,690 mil ha, abrangendo áreas de nove municípios. O que estiver acima de 600 m de altitude é de proteção ambiental. Por exemplo, em Guaramiranga, Pacoti, Mulungu e Aratuba praticamente toda a área municipal é de proteção ambiental.

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O Plano de Manejo da APA, conforme Adriano, está sendo revisado. Um mapeamento para reflorestamento de áreas degradadas também é uma das prioridades. O processo será feito com mudas produzidas na Unidade.

A ideia, explica, é incentivar a criação de Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs). Hoje, existem seis registradas e quatro em regularização. A mais antiga fica na Serra da Pacavira, em Pacoti, com 38 ha e três mil árvores plantadas.

Adriano cita como exemplo de preservação o trabalho desenvolvido em parceria com a Associação de Pesquisa e Preservação de Ecossistemas Aquáticos (Aquasis). Uma das pesquisas diz respeito à perda da biodiversidade do Maciço de Baturité. "É como se a Caatinga estivesse subindo a serra nos últimos dez anos", alerta. Ações de reflorestamento são fundamentais para aumentar a população do periquito cara-suja (Pyrrhura griseipectus), o periquito mais ameaçado de extinção das Américas.

A ave, exclusiva do Nordeste, já foi encontrada em outras regiões, mas hoje só é localizada na Serra de Baturité e Quixadá.

Fábio Nunes, biológo da Aquasis, afirma que a estimativa oficial é de que existam menos de 200 periquitos cara-suja adultos na natureza. O grande problema é a caça predatória e a falta de oco (árvores com buracos) para reprodução. Nunes explica que a Aquasis tem realizado, desde 2008, um trabalho de construção de caixas de madeira para serem usadas pelos periquitos se reproduzirem com segurança.

Emerson Rodrigues
Repórter