Parques e haras se modernizam para novos tempos de vaquejadas

Equipamentos passam por ampliações e reformas, mas a prioridade é o bem-estar dos animais

Escrito por Marcus Peixoto - Repórter ,
Legenda: Cada parque, em reforma ou em construção para abrigar o evento, está imbuído na responsabilidade em seguir à risca todas as normas de bem-estar animal e de proteção aos competidores e público
Foto: Foto: Saulo Roberto

Fortaleza. A questão deixou de ser tamanho, capacidade para acolhimento do público e área para comércio de produtos. Embora nada disso possa ser negligenciado, o que tem prevalecido na modernidade dos parques de vaquejadas no Ceará é o manejo dos bichos, que devem ser assistidos por médicos veterinários tanto para o tratamento adequado de cavalos e bovinos, quanto para desenvolver ações que impliquem em bem-estar dos animais. Atualmente, são dez equipamentos que mantêm estrutura compatível com a legislação prevista e que viabilizam a realização dos eventos, entrando neste novo ciclo.

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São considerados os melhores parques cearenses Franskim Pedro, em Maranguape; Zequinha Chicote, em Brejo Santo; Novilha de Prata, em Itapebussu (Maranguape); Haras Martins, em Tabuleiro do Norte; Parque e Haras Anderson Teixeira, em Iguatu; Garrote, em Caucaia; Fazenda Veneza, em Maranguape; Estrela, em Horizonte; Haras Tavares, em Croatá e Parque do Vaqueiro, em Quixeramobim. A maioria está localizada em área rural, em vista do manejo dos animais que protagonizam as competições.

Para o vice-presidente da Associação Brasileira de Vaquejada (Abvaq) e médico veterinário, Abelardo Ribeiro, o diferencial é fazer com que a atividade competitiva não cause nenhum dano ao animal, daí a necessidade de também existir um juiz de bem-estar animal. Com isso, conforme salienta, o evento volta a ser um grande espetáculo e a reunir multidões, como já foi no passado. A retomada, segundo Abelardo, exigiu também dos empreendedores maior zelo e cuidado com todos os detalhes do evento, que assume um caráter de festa no sertão.

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Interrupção

A desqualificação de alguns parques também pode ser atribuída à interrupção das provas, até que foi aprovada por legislação federal e, mais recentemente, regulamentada por lei estadual, de iniciativa do deputado Daniel Oliveira (PMDB).

"Hoje, temos poucos parques com condições de realizar vaquejadas. Daí que muitos estão investindo na reforma e adequação, porque o foco é a boa qualidade de equinos e bovinos", destaca o veterinário.

Exemplo de investimento tem ocorrido em Maranguape, na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF). Por iniciativa do empresário Martus Teógenes, ou "Teógenes do Amanari", como é conhecido, o Ceará ganha o seu primeiro complexo de vaquejadas, o Parque Franskim Pedro, dentro dos moldes do esporte legalizado e chancelado pelos órgãos competentes.

Localizado no distrito de Forquilha, município de Maranguape, a 35Km da Capital, a inauguração acontece entre os dias 12 e 15 deste mês (quinta-feira a domingo). O Parque é voltado exclusivamente para competições de alto padrão e atrações artísticas ícones do forró no Ceará e Brasil. A estimativa é de mais de 50 mil pessoas em todo o evento.

De acordo com Martus, o fato é que esse novo ciclo será muito mais profissional e preocupado com o espetáculo, de modo que ocorra da melhor forma possível, a exemplo do que aconteceu há alguns anos.

Empregos

Segundo Martus, é indiscutível falar sobre a cadeia de empregos diretos e indiretos decorrentes dessa atividade. Esse crescimento em torno da festa envolve garçons, tratadores de animais, veterinários, artistas e uma gama de trabalhadores que encontram nos parques oportunidades de emprego e renda. "Uma vaquejada chega a gerar até 500 empregos diretos e indiretos. Isso é algo de grande importância na atual economia do País", afirma o empresário.

Ele explica que, para o investidor, não há um retorno imediato, em vista do alto custo inicial, sobretudo para dotar os equipamentos das condições necessárias para a realização das provas.

Seca

Martus observa que se foi o tempo em que o Ceará era reverenciado Brasil afora como a Terra da Vaquejada. Com as proibições e mais o ciclo de seca, que afeta a criação do rebanho, o Estado está em situação inferior em termos de estrutura para estados como Pernambuco, Alagoas e Rio Grande do Norte.

Com um rebanho restrito e limitado a poucas fazendas, algumas vaquejadas somente são viabilizadas com o aluguel de cabeças de gado, que podem custar de R$ 200 a R$ 250. Para um evento dessa natureza, chega-se a alugar até 1 mil cabeças, o que equivale a um investimento de até R$ 250 mil. Já os vaqueiros que participam da prova, vão se deparar com um rebanho nelore, destinado ao corte, trazido dos estados do Pará e Maranhão. Os zebuínos da classificação têm entre 12 e 14 arrobas, já os touros da disputa, pesam de 18 a 20 arrobas. Como se fala no mundo da vaquejada, é uma verdadeira "boiada de luxo".

Legalidade

No Ceará, foi sancionada, no último dia 13 de setembro, a Lei Nº 16.321, que regulamenta a vaquejada como prática desportiva e cultural, assegurando o bem-estar dos animais. Além disso, no último mês de junho, o Congresso Nacional já havia promulgado a Emenda Constitucional Nº 96, que libera as práticas de vaquejadas e os rodeios em todo o território brasileiro como resultado da proposta de emenda à Constituição (PEC Nº 50/2016).

O maior parque do Ceará, como reconhece Abelardo, o Parque Franskim Pedro possui mais de 100 mil metros quadrados de área construída. O complexo reúne uma estrutura moderna, superando as recomendações da ABQM.

Entre os tradicionais ambientes, está uma pista de competição desenhada em madeira cerrada e uma área coberta (popularmente conhecida por barração) com 600 metros quadrados, com vista para a pista. Outro diferencial é que o parque oferece uma sala de imprensa climatizada para o conforto dos comunicadores na cobertura integral da competição. O Parque Franskim Pedro apresenta também a chamada "cidade do vaqueiro", um amplo espaço voltado para atender os competidores e suas famílias.

Acompanhamento

Toda a prova do Parque Franskim Pedro é acompanhada por membros da Abvaq, que concedeu chancela e também credenciou todos os funcionários do evento. Outro importante órgão do segmento, a Associação Brasileira dos Criadores de Cavalo Quarto de Milha (Abqm), também marca presença na competição, em especial, promovendo o 1º Derby PVFP, uma categoria em que os vaqueiros competem com potros com idade entre três e seis anos.