Mecânico conserva único Willys do Cariri

Escrito por Redação ,
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Foto: Antônio Vicelmo

Em meio aos carrões, últimos modelos, das mais diferentes marcas, que circulam nas ruas das cidades do Cariri, destacam-se os carros antigos, verdadeiras jóias da indústria automobilística, que foram conservados e restaurados, graças ao sonho, paixão e nostalgia de homens obstinados. São os amantes de carros antigos, aqueles para quem trabalho, tempo e dinheiro não têm medida quando o objetivo é reviver — ou tentar reviver — uma época que não volta mais. Os automóveis sempre estiveram no imaginário do homem como um símbolo de poder, de liberdade e saudade. São homens de respeito, que às vezes perdem a noção do razoável quando o assunto é carro.

Afinal, o automóvel é um fenômeno do século 20. No início, o carro era só para os muito ricos. Contava-se nos dedos os proprietários de carros do Cariri. Um automóvel antigo, todo reformado, é um objeto único, um objeto de arte. Seu valor é o que o dono pede. “Quem quiser comprar, que o compre”, garante o mecânico João Zenildo, proprietário do único Aero Willys do Cariri, um carro de luxo que fez parte do sonho de consumo da geração dos anos 60.

Mecânico competente, João Zenildo passou cerca de 30 anos consertando veículos da Willys Overland do Brasil. Ele é do tempo em que os jipes chegavam ao Cariri encaixotados para os poucos consumidores que tinham condições de comprar um veículo. De tanto consertar Aero Willys, Zenildo terminou se apaixonando pelo carro. Quando a fábrica anunciou a sua saída da linha de fabricação, o mecânico assumiu um compromisso consigo mesmo: “o meu Aero Willys será eterno. Faz parte de minha família, dos meus devaneios”. A promessa foi cumprida. Hoje, com mais de 70 anos de idade, João Zenildo mantém o Aero Willys na garagem, como quem guarda um diamante no sacrário de seus sonhos.

O mais popular representante da Willys é o Jeep-51, que foi copiado dos jipes utilizados na Segunda Guerra. Esse modelo de veículo ainda sobrevive nas ruas do Cariri, fazendo sucesso, suscitando paixões, despertando a curiosidade e matando a saudade de uma geração que manteve um fascínio extraordinário pelo Jeep. É o caso do funcionário fazendário Valdery Azevedo Pontes, 40 anos de idade que aprendeu a dirigir num Jeep 66, mas nunca esqueceu os dois jipes 51 de seu pai que circularam nas estradas esburacadas e poeirentas do Município de Nova Russas, sua terra natal.

Hoje, Valdery revive os velhos tempos a bordo de um Jeep 51, que foi comprado por R$ 4,5 mil. Equipado com um motor a óleo diesel, direção hidráulica, pneus largos e nova caixa de marcha. Agora, o carro vale, segundo Valdery, R$ 20 mil. “Mas não é para vender”, avisa. Ao contrário dos outros proprietários de carros antigos que o mantêm o veículo na garagem, Valdery não se separa do seu Jeep 51. Faz oito viagens por dia, de Juazeiro a Crato.

“É melhor do que uma Hilux”, compara. Além do conforto, o Jeep é econômico. Faz 18 quilômetros com um litro de óleo diesel. O segredo, segundo Valdery, “é não perder o amor pelo carro. Freqüentar religiosamente as oficinas mecânicas para conservá-lo bonito, atraente e apaixonante é o caminho”.

O mais antigo proprietário de jipes do Crato é o funcionário aposentado do Banco do Brasil José Maclou de Melo, proprietário de um Jeep 51 original. Maclou, que também utiliza diariamente o seu veículo, faz questão de manter as características do “51 velho de guerra”, com todo o encantamento que conquistou os seus admiradores. “O amor pelos carros, especialmente, pelo Jeep 51, me faz mantê-lo como novo. Não vendo, nem troco por nada, de nenhum valor. É uma paixão de vem de longas datas e já faz parte de minha família como objeto de arte”.

Antônio Vicelmo
sucursal Crato