Historiador é memória viva da cidade

Escrito por Redação ,
Mesmo acometido por Mal de Parkinson, seu Ferreirinha conta várias lembranças marcantes do cotidiano da cidade

Crateús. Não há como falar da história de Crateús e não mencionar Norberto Ferreira Filho, o conhecido Ferreirinha. Com cinco livros publicados, praticamente todos tratando sobre a história de Crateús, Ferreirinha é um apaixonado por sua cidade e sua história. Dedicou boa parte da sua vida e de suas atividades à região, como historiador, comerciante ou militante partidário. Aos 92 anos, ainda lembra de muitos fatos ocorridos na cidade e na região. Mesmo dizendo que a memória está falha, é personalidade viva da história de Crateús. "Estou muito esquecido, não lembro mais como antes, mas posso contar alguns fatos destes 100 anos", diz Ferreirinha.

A chegada da estrada de ferro, a espera pelo trem na estação, as grandes enchentes e secas, os seus livros, a passagem da Coluna Prestes por Crateús, os sofrimentos decorrentes da Ditadura Militar que ele e sua família passaram, o episódio conhecido como "prisão da santa", a Igreja Popular de dom Antônio Fragoso e o dinamismo e empreendedorismo do atual bispo dom Jacinto de Brito são acontecimentos que ele relembra com serenidade, considerando como importantes e fundamentais na história de Crateús. Conversa, de forma tranquila e sem mágoas, até sobre os momentos tristes de sua prisão à época da Ditadura Militar e pouco tempo depois, do longo exílio de seu filho João de Paula Monteiro. Em muitos momentos a memória realmente o trai, em outro é exata.

Sobre a "Passagem dos Revoltosos" lembra do temor da população e da data exata. "Foi em 1926 e a população teve muito medo. Muitos foram para as fazendas no interior, outros trancaram as portas e ficavam olhando pelas frestas das janelas. Aqui foi o único lugar do País que houve mortes", relembra, e continua analisando a história do País naquele período, citando o envolvimento e luta de Luís Carlos Prestes.

Prisão da santa

Ferreirinha relembra também o pitoresco episódio da prisão da santa, que aconteceu na cidade. Conta que a imagem de Nossa Senhora de Fátima peregrinava pelas paróquias, por volta de 1953. Em Crateús, as autoridades desejavam que a santa ficasse por mais dias, pois consideravam a cidade já grande e muitas pessoas queriam ver a imagem. "Como o encarregado não aceitou a proposta, as autoridades não permitiram que a imagem partisse da cidade e daí surgiu o famoso fato", diz o historiador. Para ele, o episódio foi algo simples. "Fizeram muito alarde na época, as autoridades, os homens de bem, o juiz só queriam que os fiéis vissem a santa", pontua. Outra lembrança que tem, com olhos marejados era quando os jovens esperavam o trem na estação.