Fotógrafo resiste há 51 anos como lambe-lambe

Escrito por Redação ,
Legenda:
Foto:
Juazeiro do Norte. O último dos lambe-lambe de Juazeiro do Norte é um incansável batalhador pela sua atividade. Francisco Pereira da Silva, Chico Alagoano, 76 anos, sendo 51 de profissão. Chegou a marca de quase 500 fotos por dia na praça da Prefeitura de Juazeiro. Hoje, continua lá. Com sua Olympus-Pen, aderiu ao colorido, permanece até quase meio-dia com sua esposa, também fotógrafa, Cícera Barbosa, mesmo sem tirar nenhuma foto.

A queixa está na modernidade, no computador. Mas ele fala do golpe de vista, da inteligência para o bom fotógrafo. Indispensável a um veterano. Está lá, tudo isso registrado no filme Câmara Viajante, na base do verso, em que Chico Alagoano, como é conhecido, é um dos destaques. A máquina fica mesmo guardada em casa, quase como uma peça de museu, uma relíquia fotográfica.

Houve tempo em que ele e toda a família, mulher e dez filhos, eram fotógrafos. Na praça estavam mais de 40 fotógrafos e as filas eram intermináveis para tirar 3x4 para as carteiras de trabalho, algo novo para o seu tempo, carteiras do INPS, título de eleitor. Era uma festa de gente. Nos batizados, aniversários e casamentos, era convidado especial, com exclusividade. Ali aguardava a hora solene. Como bom fotógrafo popular era um dos únicos “mão no saco” que freqüentavam a feira do Crato.

São muitas histórias. Chico Alagoano diz que, apesar da dificuldade encontrada atualmente, por causa da modernidade, ele teve momentos importantes na sua carreira e guarda muitas boas recordações. Foi o último afilhado do Padre Cícero, segundo ele, porque uma semana depois o sacerdote morreu. Lembra de um trabalho que teve de fazer a capricho. Era recordação de família, em que um dos integrantes morreu. Era alagoano. Toda a família teve que se deslocar 15 dias depois e o jeito foi tirar a foto do caixão sendo encaminhado primeiro para o sepultamento e depois dos componentes, cada um com sua pose de consternação.

O profissional era considerado um exemplar diretor de fotografia também. Depois de tudo, a montagem final, todos participando do enterro, segurando a urna funerária. Hoje, ele freqüenta feiras em Fortaleza. Sua satisfação é montar o lambe-lambe com dona Cícera. Em uma semana dá entrevistas, tira fotos. O material já foi adquirido em São Paulo. em Juazeiro não tem mais como comprar. Antes era tudo importado, de uma qualidade superior. Mesmo adquirindo parte no Sudeste, não segue o mesmo padrão de antigamente.

A caixinha foi feita a capricho, pelo próprio Chico. É algo simples demais para ele. “Do mesmo jeito que o sapateiro faz o sapato, e teve que aprender, faço a minha caixa”, explica ele. Dona Cícera diz que o marido comprou a primeira, desmanchou, e as outras foram confecção própria.

O velho fotógrafo juazeirense diz que fará uma lista dos fotógrafos que conheceu em atividade no seu tempo. Não tem mais gente viva que conte a história. Só ele mesmo. “Vou lembrar de um por um para deixar aí e o povo saber”. Ele cita nomes como o de Zé de Barro, do Mercado Central. Era considerado um dos melhores.

É um admirador do trabalho de Júlio Santos, o fotopintor da Capital. Diz que não há computador que faça o que ele consegue com a fotopintura. E ainda desafia com o seu próprio trabalho, ao dizer que consegue fazer uma pessoa conversando com ela mesma sentada. Um prodígio para anos passados, do preto e branco. Teve gente pobre que saiu como rico. Essa seu Chico explica, ao tirar fotos de um pobrezinho, que saiu como um lorde vestido de paletó e gravata. As transformações necessárias para impressionar o povão com as peripécias das caixinhas de pano preto e mão no saco. Eram mágicas.

ELIZÂNGELA SANTOS
Repórter


Mais informações:
Chico Alagoano
Fotógrafo Lambe-Lambe
Rua das Acácias, 198
Juazeiro do Norte - CE
(88) 3511.8775