Com boas chuvas, safra de mel no Cariri deve ser superior em 50%

Até o mês de novembro, dezenas de apicultores de várias partes do Nordeste migram para a Chapada do Araripe para a produção de mel. De lá, saem os produtos mais caros deste setor que são exportados

Escrito por Antonio Rodrigues , antonio.rodrigues@svm.com.br
mel
Legenda: Enquanto no ano passado foram geradas 2,7 mil toneladas de mel, a colheita em 2020 deve atingir 3,5 mil ton
Foto: Antonio Rodrigues

As boas chuvas deste ano no Ceará beneficiaram a apicultura com expectativa de aumento da safra em 20% em relação a 2019. Enquanto no ano passado, foram geradas 2,7 mil toneladas de mel, a colheita em 2020 deve atingir 3,5 mil toneladas. Na região do Cariri, a média pluviométrica no último período de estação chuvosa foi 38,8% acima do seu normal observado, entre fevereiro e maio. Isso impactou positivamente na florada, que começou em setembro, na Chapada do Araripe, e promete um ganho superior em 50%.

Em Santana do Cariri, maior produtor do Sul do Estado, ano passado a colheita rendeu 176,4 toneladas, que representa 31,93% da produção agrícola do Município, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Porém, os números devem ser ainda maiores, já que a Chapada do Araripe, por causa da boa florada do cipó uva, planta nativa de lá, atrai mais de 100 apicultores migratórios de diferentes estados do Nordeste, como Paraíba, Piauí, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Maranhão e Bahia. "O mel é contabilizado nos seus municípios de origem", detalha a supervisora estadual de Estatísticas Agropecuárias do IBGE no Ceará, Regina Feitosa.

De acordo com o técnico-agropecuário Francisco Teixeira Filho, isso acontece porque o mel do Cariri atinge um dos melhores preços para o produtor por ter uma qualidade maior que as mais comuns em outras regiões do Estado, que se aproveitam das flores de cajueiro, marmeleiro, aroeira, por exemplo. "Cada um deles tem uma diversidade de sabor e isso que dá um valor do mel por esta questão", explica. O maior preço das demais espécies no Estado chegou a R$ 11,50/kg, enquanto o produto oriundo da Chapada do Araripe pode atingir R$ 18/kg nesta safra.

A irregularidade dos últimos anos impactou nas produções anteriores, aponta Teixeira Filho. "Não faz com que a planta desenvolva seu processo de produção de néctar. Outra queda é que em período de seca perde muitas colmeias. Há um abandono das abelhas. Neste ano, já deu uma reagida", explica. Uma boa produtividade fica entre 25 a 32 quilos/colmeia no ano.

Com as boas chuvas, a florada deste ano animou o apicultor Genilson Pinheiro, natural de Catolé do Rocha, na Paraíba, que trabalha neste setor há 35 anos e, destes, 27 anos em Santana do Cariri. No seu caso, sua produção acontece em migração. De setembro a novembro, fica em Santana do Cariri. De lá, segue para o Sul do Piauí, onde inicia a florada do marmeleiro e mato rasteiro do começo da estação chuvosa. Já entre maio e junho, volta para a Paraíba e aproveita a vegetação após o "inverno".

Assim como ele, mais de uma centena também migra para a Chapada do Araripe. No seu caso, carrega entre 800 a 1 mil caixas de abelha. "Aqui, produz o mel considerado o melhor do mundo pelas empresas exportadoras", conta. Este ano, há uma alta no preço e, se comparado ao produzido no Piauí, é mais rentável: R$ 13/kg no Estado vizinho, contra R$ 18/kg no Sul do Ceará.

Este valor é comprado pelas empresas exportadoras do Ceará, Piauí e de São Paulo, que adquirem diretamente do apicultor, como é o caso de Genilson. Em grande maioria, as abelhas são de espécie africana, que se adaptaram bem ao Nordeste, facilitando este transporte, que acontece por caminhões.

Alternativa

Agricultor a apicultor, Valdemiro dos Santos, o Bibi, natural do Sítio Lírio, de Santana do Cariri, acredita que o principal produto da Chapada do Araripe é o mel, graças ao cipó uva, muito comum na beira das estradas. Sozinho, colhe entre 600 a 800 quilos de mel e ainda se consideram um produtor "pequeno", para ter ideia da força deste setor em seu Município. "Já tem empresa que se instala aqui pra revender", conta.

Ao contrário da maioria dos produtores, Bibi opta por vender na região do Cariri e, quando há excedente, repassa para as grandes empresas. "A maioria não gosta, porque vende em grande quantidade e recebe logo. Eu gosto de vender porque desenvolve a atividade, as pessoas conhecem", explica Bibi.