Com 20 cidades, Sertão Central tem o menor percentual de população vacinada contra Covid-19 no Ceará
A macrorregião de saúde de Fortaleza lidera com a melhor cobertura vacinal de sua população com dose única e segunda dose. Saiba o cenário no restante do Ceará
A macrorregião de saúde do Sertão Central, composta por 20 municípios, tem a menor taxa de aplicação de vacina contra a Covid-19 no Ceará. Com uma população que soma 652.291 pessoas, segundo estimativa do IBGE em 2020, até agora, apenas 43,66% delas já receberam a segunda dose ou a dose única do imunizante, o que representa um total de 284.938 pessoas.
Na outra ponta, a macrorregião de Fortaleza, composta por 43 municípios, lidera com 51,72% de sua população (4.008.451) com o ciclo vacinal completo. Atrás dela estão o Cariri (48,85%), Norte (47,79%) e o Litoral Leste/Jaguaribe (46,5%). Os dados são do Vacinômetro da Secretaria de Saúde do Estado (Sesa), atualizados até a a terça-feira (19).
O cenário é semelhante também na aplicação da primeira dose. O Sertão Central tem o menor avanço proporcional na D1 alcançando, até agora, 65,12% da sua população. Mais uma vez, a região de Fortaleza lidera com 71,72%, seguida pelo Cariri (69,59%), Norte (69,21%) e Litoral Leste/Jaguaribe (67,60%).
No Sertão Central, dois municípios se destacam entre os piores índices de aplicação da DU e D2 do Ceará. Arneiroz e Caridade sequer ultrapassaram os 50% da população vacinada com a primeira dose.
Em Arneiroz, 49,91% de sua população, composta por 7.844 pessoas, segundo a última estimativa do IBGE, tomaram a primeira dose da vacina. Já no ciclo vacinal completo (D2+DU) tem o pior índice do Ceará, com apenas 21,04%.
Já Caridade tem a segunda menor cobertura da D1 no Ceará, com 45,72% de sua população (22.782 pessoas) imunizada com a D1 e 34,63% com a D2.
Do outro lado da balança, Ibicuitinga, também na região do Sertão Central, tem a quarta maior cobertura de ciclo de vacinação completo do Ceará (D1+D2). Com 12.629 habitantes, o município alcança 67,89% deste total. Já na primeira dose, é a sexta melhor do Estado com 83,18% de sua população atendida.
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O que explica essa diferença?
Na avaliação de Sayonara Cidade, presidente do Conselho das Secretarias Municipais de Saúde do Ceará (Cosems/CE), a lentidão em alguns municípios se deve ao atraso no cadastro realizado na plataforma Saúde Digital. “A vacina, quando chega, é distribuída por um critério do e-SUS e pelo IBGE, mas o Ceará tomou a decisão de usar o Saúde Digital e as vacinas só chegam se houver cadastro”.
A diferença do Sertão Central para a região de Fortaleza, por exemplo, deu-se justamente pela rápida adesão que a plataforma teve na capital cearense, pondera.
Quando o Estado iniciou o Saúde Digital, Fortaleza estava no seu nascedouro. Imediatamente começou o cadastro e enquanto quase toda sua população já estava no sistema, muitos municípios sequer iniciaram"
E acrescenta: "Muita gente não quis fazer a adesão. Sò quando se tornou obrigatório. Muitos municípios nem mesmo se cadastraram em 2020 e só realizaram agora, em 2021”.
A coordenadora estadual de Imunização da Sesa, Kelvia Borges, reforça a justificativa: “Os municípios devem mobilizar a população para que faça o cadastro. Assim, do cadastro, enviamos as remessas do Ministério da Saúde”, detalha. A escolha do Saúde Digital pelo Estado surgiu porque há uma desatualização no número de habitantes do IBGE. “Foi uma estratégia para ter uma estimativa real”, completa.
Segundo Kelvia, a distribuição acontece igualmente entre os municípios, mas considerando a base de dados do Saúde Digital. Por isso, reconhece que alguns estão mais avançados que os outros.
“Recentemente fizemos a aquisição de 300 mil doses do laboratório Sinovac/Butantan e disponibilizamos para os municípios que tinham interesse. Recebemos sinalização de 139 e enviamos”, cita.
Resistência da população
Epidemiologista, virologista e professora da Universidade Federal do Ceará (UFC), Caroline Gurgel enxerga que houve uma ampla divulgação do cadastro no Saúde Digital, mas ainda existe uma resistência da população em não se vacinar.
“Para a segunda dose, o processo não é lento, mas muitos não estão indo, perdem a data e ficam esperando”. Além disso, sugere que, na medida que os índices de contaminação e óbitos pela Covid-19 vão caindo, as pessoas perdem o medo da doença “e vão postergando tomar a vacina”, completa a especialista.
Além disso, a professora acredita que o sistema por agendamento, adotado por alguns municípios, não é o ideal: “O melhor seria a livre demanda. Se abrir os lotes de vacina e não usar, as doses se perdem. Como já passou o período de priorização por idade, por que não abrir para todo mundo e optar por distribuição em todos os locais com livre demanda como já acontece em outras vacinas?”, provoca Gurgel.