Artesãs de Icó homenageiam Suassuna com bordado rococó

Escritor paraibano e o movimento armorial por ele iniciado serão lembrados no trabalho artesanal de pelo menos 18 cearenses residentes na localidade de Três Bodegas, às margens da BR-116

Escrito por Honório Barbosa , regiao@verdesmares.com.br
Legenda: As artesãs recebem as peças riscadas no estilo armorial e fazem o bordado na tipologia
Foto: FOTOS: Honório Barbosa

Os artesãos da cidade de Icó estão sempre inovando e produzindo peças que são destaques na região Centro-Sul do Ceará. Depois de buscar inspiração na arquitetura de prédios tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), agora a ideia é homenagear o escritor Ariano Suassuna, em seu estilo armorial, a partir do bordado na tipologia rococó.

Recentemente, foi lançada a nova coleção que inclui peças em tecido: jogo americano, guardanapos, caminho de mesa, almofadas e estandartes decorativos. Na localidade de Três Bodegas, zona rural do município, às margens da BR-116, um grupo de 18 artesãs trabalha todos os dias produzindo bordados no estilo rococó. Elas recebem as peças riscadas, no estilo armorial. "Está tendo boa aceitação", disse a presidente da Associação dos Produtores de Artesanato, Gestores Culturais e Artistas de Icó (Aproarti), Maria Soares Cândido. "O estilo rococó puro é exclusivo do nosso artesanato", relata.

Em Icó, há 68 artesãs associadas, divididas em cinco grupos, na cidade e em áreas rurais. Elas estão motivadas com o trabalho que dá uma renda extra para a família. "A gente cuida dos afazeres de casa pela manhã e, à tarde, se junta para bordar", disse a artesã, Lucilene Nunes. "Ouvi falar nesse bordado rococó e fiquei interessada. Estou gostando muito", acrescenta.

A artesã mais idosa do grupo, Josefa Rodrigues, lembra que começou costurando roupas em casa e só depois surgiu a oportunidade de ser artesã. "Aprendi a costurar sozinha, nunca fiz curso, e agora sou bordadeira do artesanato que muito me dá alegria e inspiração", pontuou. "Quero continuar bordando até quando puder", admite Josefa.

A presidente da Aproarti destacou a aceitação das peças em feiras culturais. "O artesanato de Icó é reconhecido pela qualidade, já obteve o prêmio Top 100 do Sebrae, ficando em 26ª posição", disse Maria Soares Cândido Freire.

Legenda: O trabalho com o bordado tem incentivado as artesãs de Icó a adquirir uma renda extra para a família

Entretanto, a gestora demonstrou preocupação com a crise econômica que atinge também o setor. "As feiras e as vendas estão diminuindo nos últimos meses", observou. "Estamos buscando alternativas". Além de feiras, as peças produzidas em Icó são vendidas na Central de Artesanato do Ceará (Ceart), na lojinha da Aproarti, no Centro Histórico da cidade, onde o cliente encontra peças variadas em tecido, couro e cerâmica.

A vice-presidente da associação, Maria Vivalda Soares, disse que a lojinha atende moradores e turistas com a oferta de vários produtos do artesanato local. "As vendas são maiores nos períodos de festa, como o Forricó, Natal, novenário do Senhor do Bonfim", disse.

Nova geração

A produção artesanal em Icó tem influenciado os jovens. A estudante Camile Julião, 15 anos, decidiu fazer os bordados rococó após participar de um curso com a mãe. "Acompanhava mamãe no treinamento e fiquei interessada", disse. "Não quero parar mais". Ela é a mais jovem do grupo de artesãs da localidade de Três Bodegas.

A presidente da Aproarti, Maria Soares, lembra que o grupo começou a se formar no ano de 2005 com apenas sete artesãos, que se sentavam em uma calçada, no Largo do Théberge, no Centro Histórico. A iniciativa foi de Valdir Bezerra, empreendedor social. Ele achou importante que fosse criada e organizada a Associação. "Eu era costureira de moda, fazia roupas e fui convidada a participar de uma feirinha", revelou Maria Soares. "Fiquei interessada e não parei mais".

Técnicos do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas no Ceará (Sebrae) apareceram em Icó, viram as produções ainda limitadas e acharam importante que houvesse uma busca de identidade com o patrimônio arquitetônico local no artesanato. A ideia foi amadurecida e veio a inspiração dos desenhos dos prédios coloniais. A intervenção do designer Epitácio Mesquita foi decisiva.

Surgiram, depois, treinamentos e cursos de produção. "Nas oficinas, disseram que o patrimônio colonial tem uma identidade forte, era uma riqueza", relembra Maria Soares, que decidiu deixar a costura de moda de lado e ingressar na atividade de produção de peças artesanais, mesmo sabendo que a sua renda mensal iria ser reduzida. "Fui conquistada por um sonho", disse. "Não me arrependo e estou satisfeita com esse nosso projeto", concluiu.

Legenda: Nova coleção das artesãs inclui jogo americano, guardanapos, caminho de mesa, almofadas e estandartes decorativos

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