Após plantio de arroz irrigado quase desaparecer, expectativa é de safra recorde em Orós
Nível do reservatório e preço favorável impulsionaram os produtores do grão
“Vamos ter uma safra que há muito tempo não se via aqui na bacia do (açude) Orós, será uma produção recorde”. A fala do diretor do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Iguatu, Evanilson Saraiva, cheia de alegria, expressa a retomada do cultivo do grão depois de pelo menos oito anos seguidos de queda por causa da seca do reservatório, que é o segundo maior do Ceará.
Além da escassez de água que impedia a irrigação da rizicultura, o preço do grão estava muito baixo e desestimulava os produtores rurais. Entretanto, o cenário nas várzeas do Orós começou a mudar em 2020 e neste ano se prepara para uma safra recorde em comparação com a década passada.
A produção de arroz neste ano é estimada em 5.600 toneladas, 40% a mais do que em 2020 (4.000 toneladas) e superior a 2019, que foi de apenas 176 toneladas do grão. A expectativa do cultivo na atual safra é de chegar em torno de 700 hectares. Os dados são da Secretaria de Desenvolvimento Agrário de Iguatu.
Cultivo do arroz irrigado quase desapareceu
No triênio 2017 a 2019, por causa da redução de volume de água no açude, a área de cultivo do grão irrigado quase desapareceu. Em 2019, foram cultivados apenas 40 hectares. Uma queda de 98% em comparação com as décadas de 1970 a 1990, quando a atividade prosperou e eram cultivados cerca de 2 mil hectares, em média.
“Desde o ano passado que as coisas vêm mudando para melhor, os produtores estão animados com mais água no açude e melhor preço”, disse o secretário de Desenvolvimento Agrário de Iguatu, Venâncio Vieira. “O desafio agora é melhorar a semente porque se paga melhor, quando o grão é de primeira qualidade”.
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O agricultor Francisco Alves, olha para o verde do arrozal que se estende até perder de vista, na bacia do Orós, levanta a mão direita e comenta: “Estamos voltando ao passado, quando se plantava muito arroz desde os anos de 1980, mas acho que você ouviu falar que o plantio aqui estava se acabando, foi abandonado porque não tinha água e nem compensava mais plantar”.
O pequeno produtor rural Marconi Chagas confirma que a crise se agravou depois de 2013 “quando as águas foram embora do Orós”. Ele lembra que “eu mesmo tentei plantar, mas vi que não dava, porque gastava mais do que ganhava, bombeando água de longe e quando ia vender, não tinha preço. Então desisti porque só apanhei, tive prejuízo”.
Neste ano, Marconi Chagas voltou a plantar o grão e também está trabalhando como tratorista, preparando terra e adubando a lavoura.
Se o Orós receber mais água no próximo inverno e o preço do arroz estiver bom, muito mais gente vai voltar a plantar”
Esse mesmo pensamento tem o secretário Venâncio Vieira. “A água no subsolo do rio Jaguaribe está favorável e no açude também e, se o quadro continuar favorável, podemos dobrar a área de cultivo atual já em 2022”, disse. “Basta termos uma boa recarga e bom preço do grão”.
O açude Orós está com 27,1%. No mesmo período de 2020 estava com 26,0% e em 2019, o volume do reservatório era de 8,0%.
Atualmente, o preço da saca de 60 quilos está em torno de R$ 90,00. Em dezembro de 2020, período da colheita do grão, chegou a R$ 105,00. Em 2018, o preço máximo da mesma quantidade era comercializado por R$ 45,00.
Método
O plantio irrigado de arroz na bacia do açude Orós, em terras dos municípios de Iguatu e Quixelô, ocorre entre julho e agosto e a colheita começa em novembro e se estende até o fim de dezembro.
O secretário Venâncio Vieira explica que o cultivo irrigado só pode ser feito no segundo semestre.
O período chuvoso já tem passado e se conhece o nível do açude, as terras descobertas, sem risco de vir chuva e inundar o plantio. À medida que o tempo vai passando e água vai recuando, por evaporação e liberação pela válvula para atender demanda de moradores e produtores que ficam a jusante (abaixo) do reservatório, mais terras vão sendo descobertas e o cultivo avança”
A irrigação é feita com bombeamento, retirando a água do próprio açude ou de poços rasos e transferindo o recurso hídrico para as áreas cultivadas.