Aconchego da natureza nas nuvens da Ibiapaba

Destino turístico de muitos nordestinos, a região possui riquezas naturais e um clima propício para a agricultura. No entanto, a ação humana com queimadas e desmatamento ameaça o ecossistema da serra

Escrito por Redação ,
Legenda: Na Trilha do Circuito das Cachoeiras, o esforço da caminhada é recompensado com uma das mais belas visões da Unidade de Conservação, um exemplo da importância da preservação da Mata Úmida
Foto: Foto: Cid Barbosa

Ubajara / São Benedito / Guaraciaba do Norte (CE) Ao sair cedinho pelas ruas das cidades situadas na Chapada da Ibiapaba, às vezes, a sensação é de que não se está no Ceará. Envolto em uma névoa e com um agradável friozinho, desfruta-se de um ambiente acolhedor em meio a uma floresta considerada Mata Atlântica, mas distante pelo menos 140Km do mar e rodeada pelo bioma Caatinga.

As belezas da floresta, do Parque Nacional de Ubajara, com seus 6.228ha, cachoeiras, trilhas, mirantes e grutas, fazem a diferença. Mas a Área de Proteção Ambiental (APA) da Serra da Ibiapaba, em seus 1.628.424,61ha, não tem só beleza. É também é um lugar ideal para o cultivo de alimentos orgânicos que abastecem muitas mesas fortalezenses, livres de adubos ou defensivos produtos químicos. O cultivo de rosas também é um capítulo à parte nessa região privilegiada.

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A fauna é rica, mas, como em outros paraísos verdejantes visitados pela nossa reportagem, têm espécies ameaçadas de extinção. O macaco-guariba é um desses animais. O mamífero é visto, na maioria das vezes, em áreas de vegetação aberta de transição, com alta frequência de babaçu.

E foi em um desses pés, na trilha da cachoeira, no Parque Nacional de Ubajara, que encontramos um grupo. Caminhando na chuva, entramos na brincadeira deles, que era acertar os integrantes da equipe com cocos. Por sorte, ninguém foi atingido.

Proteção

O Parque Nacional de Ubajara é uma Unidade de Conservação (UC) Federal de Proteção Integral, administrada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Criado em abril de 1959, com uma área de 4.000ha, em 1973, teve seus limites modificados para uma área de 563ha e, posteriormente, em 2002, alterado, mais uma vez, para 6.288ha, passando, assim, a abranger os municípios de Ubajara, Tianguá e Frecheirinha.

O Parque engloba três ecossistemas básicos: Floresta Ombrófila Aberta (Mata Atlântica), Floresta Subperenifólia e Caatinga. De acordo com Nágila Pereira Gomes, analista ambiental e chefe substituta do Parque Nacional de Ubajara, a Unidade recebe turistas de todo o Brasil e também de outros países, que buscam suas belezas naturais.

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As grutas fazem parte do cenário. São 11 cavernas em 1.120m de extensão com até 70m de profundidade. No entanto, apenas 30% é aberto à visitação e os outros 70% são reservados apenas para pesquisa. Desses 1.120m, a parte aberta à visitação equivale a 420m, cerca de 30m de profundidade com acesso a algumas galerias. O cheiro no local denuncia a presença dos morcegos. São 14 espécies no Parque e três delas vivem exclusivamente nas 11 grutas.

Mas tanto a fauna quanto a flora estão ameaçadas ali. A chefe do Parque alerta para a diminuição do refúgio da fauna devido o crescimento urbano. Outro ponto crítico e que ameaça o equilíbrio do ecossistema são as queimadas. Uma equipe de brigada formada por 14 homens trabalha, de agosto a janeiro, que é o período mais seco. No entanto, o esforço não é suficiente. Somente em 2013, foram detectados 14 focos de calor na área da Unidade.

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Com uma filosofia de preservação e respeito ao meio ambiente, os donos do Sítio Limoeiro, - propriedade de 300 hectares onde Marcos Alves Soares, seu pai, e seus quatro irmãos cultivam produtos orgânicos com 50 variedades de hortaliças e frutas.

"Sofremos muito com veneno. Aqui o índice de agrotóxico nas verduras é assustador. Não dava para continuar. A gente resolveu mudar para cuidar do nosso ambiente. E também para levar aos nossos consumidores, um produto limpo", disse. Hoje, a maioria dos produtos vendidos nos supermercados de Fortaleza e no Portal do Orgânico é oriunda das plantações em Guaraciaba do Norte.

Bem perto dali, na Cearosa, o empresário Paulo Selbach saiu do Rio Grande do Sul para cultivar rosas, desde 1999, na Ibiapaba e vender para o todo o Brasil. A fazenda tem uma área de 20 hectares que foram reflorestados. A produção é de 120 a 150 rosas por metro quadrado com 35 mil botões por dia.

Emerson Rodrigues
Repórter