Sítio em Potengi se torna referência em observação de aves

Atividade que atrai pessoas do mundo inteiro para fotografar os pássaros da Caatinga tem espaço exclusivo em Potengi, no Cariri cearense, criado por biólogo

Escrito por Antonio Rodrigues , antonio.rodrigues@svm.com.br
A janela do sítio é montada estrategicamente para a observação e fotografia dos pássaros
Legenda: A janela do sítio é montada estrategicamente para a observação e fotografia dos pássaros
Foto: Antonio Rodrigues

Endêmico do Cariri, o soldadinho-do-araripe foi responsável por colocar o Sul do Ceará na rota dos observadores de aves, uma atividade que tem crescido, nos últimos anos no Brasil, atraindo mais de 30 mil pessoas. No mundo, é ainda maior: apenas os Estados Unidos têm registrado 45 milhões de praticantes.

Com a demanda dos últimos anos, o Sítio Pau Preto, em Potengi, se tornou ponto de parada obrigatória de estrangeiros que visitam o Sul do Ceará para admirar a avifauna da Caatinga. Lá, há uma casinha que, no fim do ano passado, se tornou o Museu Casa dos Pássaros do Sertão, incluída no projeto de museus orgânicos do Serviço Social do Comércio (Sesc), como um espaço de observação e fotografias de pássaros, sob o comando do biólogo Jefferson Bob.

De hobby para profissão, Bob sempre foi apaixonado pela natureza e cresceu no próprio Sítio Pau Preto nos arredores da casa de suas avós, Josefina Zizi da Conceição, a Dona Zizi, e Mário Gonçalves de Lima, herança dos bisavôs Abraão e Ana Gonçalves, que chegaram ali em 1937. Em 2016, o biólogo, que já trabalhava com turismo de observação de aves, reformou a casa e iniciou um trabalho com hospedagem domiciliar.

Da própria varanda, rapidamente se juntam dezenas de espécies ao redor do comedouro, montado especialmente para a fotografia. A água, neste período mais seco, atrai as aves com mais facilidade. "Em horários mais quentes, ficam fotografando. Foi planejado para isso. É focado tanto no observador iniciante, como o experiente. Muitas pessoas da cidade perguntam: 'Por que vem gente de todo mundo para lá? O que tem lá'. Todos vêm por conta das aves", reforça o biólogo.

Adaptado para recebê-las, o Sítio Pau Preto recebe turistas de países como Estados Unidos, Inglaterra, Holanda, China, África do Sul, entre outros. Lá, já foram cadastradas 212 espécies no eBird, entre residentes e visitantes (aves migratórias que passam com frequência no período chuvoso). "O sítio está num local estratégico. Um pouco afastado da cidade e concentra espécies comum da caatinga e estamos próximos da parte alta da Chapada. Acontece que muitas espécies ocorrem mais em nossa região que em outros lugares, como o pompeu, casaca de couro, cardial do nordeste, o galo de campina", esclarece Bob.

Crescimento

Também biólogo, Ciro Albano foi um dos pioneiros no turismo de observação de aves na região do Cariri, que se impulsionou, principalmente, a partir da primeira avistagem do soldadinho-do-araripe por ornitólogos, em Barbalha, em 1996. Dois anos depois, a espécie endêmica do Cariri seria descrita e, em 2000, já estava na lista vermelha internacional de animais ameaçados.

"O observador de aves é um observador de natureza. O Cariri se tornou parte de uma rota antiga. Todos os observadores do planeta tem sonho de ver o soldadinho-do-araripe, porque ele é muito restrito e muito ameaçado. É a única endêmica do Ceará", diz Bob.

Em 2006, começaram a aparecer turistas com interesse em observação de aves no Cariri, mas não tinha guias qualificados na região. Com a demanda, Ciro iniciou este trabalho com o roteiro nordestino, que passa pelo Maciço do Baturité, o Sertão Central, o Cariri e estados vizinhos como Bahia, Alagoas e Pernambuco. Até que o próprio Bob, em 2013, se juntou a este trabalho. "O sítio supriu. É montado para quem gosta. Tem hotéis na região, mas lá é outra história, está na mata", diz.

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