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"Fique em casa" no Carnaval e no Réveillon coloca opositores do mesmo lado da moeda no Ceará

Após divergirem sobre praticamente todos os aspectos da pandemia, base e oposição defendem veto à realização de grandes festividades

Escrito por Igor Cavalcante , igor.cavalcante@svm.com.br
Réveillon na Praia de Iracema
Legenda: Grandes aglomerações de Réveillon estão proibidas no Ceará
Foto: Alex Ferro

Depois de quase dois anos divergindo sobre a gravidade, os riscos, a forma de combate e a atuação do poder público na pandemia da Covid-19, base e oposição chegaram a um consenso sobre um assunto no Ceará: a proibição das festas de Réveillon e Carnaval

Nesta sexta-feira (26), o governador Camilo Santana (PT) anunciou o veto às grandes festas de Ano-Novo no Ceará. Ainda segundo ele, a tendência é de que, no Carnaval, as proibições para o Estado sigam “o mesmo rumo". 

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As regras anunciadas pelo petista também seguem “o mesmo rumo” de dois projetos de lei que tramitam na Assembleia Legislativa do Ceará (AL-CE) contra as duas festas. As matérias são dos deputados estaduais Apóstolo Luiz Henrique (PP) e Dra. Silvana (PL), parlamentares conservadores e, no caso dela, da oposição a Camilo Santana. 

Pelas normas estabelecidas pelo Governo do Estado, só serão permitidos eventos sociais com capacidade de até 2,5 mil pessoas em locais fechados e 5 mil em ambientes abertos. A comprovação do esquema vacinal completo também será exigida – exigência que é criticada pela oposição.

Risco de aglomeração

"Nós estamos acompanhado o aumento de casos de Covid-19 em alguns municípios do Ceará e no mundo e nos mostramos contra grandes eventos por prudência e por responsabilidade. A única chance de superarmos a pandemia é com a vacina", disse o governador nesta sexta-feira. 

Nos últimos dias, Camilo Santana já indicava que seria contra a realização de grandes eventos. “Minha posição é contrária neste momento. Eventos festivos, com grandes aglomerações e bebida, necessitariam de absoluto controle, com todas as pessoas comprovadamente vacinadas", disse o chefe do Executivo estadual no último domingo (21). 

No dia seguinte, ele reforçou o posicionamento. “Minha posição individual é contrária a qualquer tipo de festa que não haja controle absoluto em relação ao acesso. Estamos falando de espaços abertos que vão aglutinar 100 mil, 200 mil, 500 mil pessoas”.

Pela ciência

Ainda em 4 de novembro deste ano, mais de duas semanas antes da fala do governador, o deputado estadual Apóstolo Luiz Henrique apresentou a primeira matéria contra a realização do Carnaval em 2022. 

“Diante dos riscos de aumento de casos de Covid-19, a realização da grande festa carnavalesca em 2022 representa uma grande ameaça para a saúde dos brasileiros”, argumentou, nas redes sociais, o deputado.

No projeto de lei nº 546/2021, o parlamentar, que integra a bancada conservadora do Legislativo estadual, justifica que a pandemia da Covid-19 “é a maior da história e os órgãos e autoridades de Saúde apontam que ainda estaremos no enfrentamento à Covid-19 no ano de 2022, mesmo com grande parte das pessoas vacinadas”.

“O controle da pandemia escapou ao alcance dos serviços de saúde, nosso receio é que uma festividade com essa magnitude possa gerar um novo surto de pessoas infectadas e não estaremos preparados com número de leitos para restabelecer os quadros clínicos”, acrescenta o Apóstolo. 

Pela fé

Apesar da posição contrária à realização das festividades, Luiz Henrique foi um dos maiores defensores da inclusão dos cultos como atividade essencial. Ele – assim como Dra. Silvana – liderou uma frente parlamentar, à época, para articular a reabertura de templos religiosos em meio à pandemia. 

Novamente alinhada ao colega, Dra. Silvana também apresentou um projeto de lei com a intenção de proibir “as festividades de Réveillon na passagem de 2021 para 2022 no Ceará”.

Coincidentemente, a proposta da parlamentar sugere que sejam proibidas festas com número superior a 5 mil pessoas, assim como foi definido pelo governador Camilo Santana. 

“Em um possível cenário de realização dessas festas, é grande a possibilidade de um novo aumento de casos, como percebemos nesses quase dois anos de pandemia. Sempre que liberam eventos de grande porte, como Carnaval e Semana Santa, os casos, nas semanas seguintes, voltam a subir, e o número de internações aumentam”, justifica a deputada. 

Segundo a parlamentar, em festas com o número de participantes superior a 5 mil pessoas é “difícil” fazer o controle sanitário.

“Uma festa como a do Aterro não se justifica. As pessoas estão morrendo, ainda estamos enfrentando uma pandemia. Já existem novas cepas com mutações imprevisíveis. Não quero oprimir bares e restaurantes, que têm o controle de quem entra, são mesas compradas previamente, mas bato mesmo em festa de Réveillon pesado, onde ninguém é de ninguém”, pondera Dra. Silvana. 

Aliados de Camilo

Na esteira do posicionamento do governador, aliados do petista já adiantaram o posicionamento contrário à realização das festividades com grande número de pessoas. O prefeito de Sobral, Ivo Gomes (PDT), por exemplo, publicou, nas redes sociais, que o município não terá festas de fim de ano. 

“Tenho acompanhado o debate acerca das celebrações de fim de ano e Carnaval. Para que todos possam se programar, reitero que em Sobral não haverá festa pública de ano novo e também, decidi agora, não realizaremos eventos públicos nem no pré nem no Carnaval. Acho que é sensato”, disse. 

"Eu lamento muito. É uma festa que eu mesmo gosto, mas ela reúne pessoas de várias cidades e nós ainda não estamos podendo realizar. Não vamos descuidar", reforçou o pedetista em entrevista ao colunista Inácio Aguiar.

Carnaval de Aracati

Também nas redes sociais, o deputado federal Eduardo Bismarck (PDT) comentou sobre o Carnaval em Aracati, um dos mais tradicionais do Ceará. O município da Região Metropolitana de Fortaleza é governado pelo pai do parlamentar, o prefeito Bismarck Maia (PDT)

“Se tiver protocolo e condições que permitam, vai ter (Carnaval). Se não tiver, não vai ter. Adoraria que tivesse Carnaval em Aracati no ano que vem, nosso grandioso Carnaval que ajuda muito, porém, só se tiver baixos índices de Covid e a população vacinada”, declarou.

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A fala do parlamentar ocorre no mesmo dia em que a Justiça proibiu a Prefeitura de Aracati de realizar eventos sociais em descumprimento às normas sanitárias contra a Covid-19. O Executivo da cidade é investigado pela realização do 4° Festival de Gastronomia e Cultura de Aracati.

Na ocasião, imagens em vídeos comprovaram que o evento gerou uma grande aglomeração de pessoas, sem distanciamento social e muitas delas sem máscaras. A organização do festival, por sua vez, disse na época que o evento foi realizado em local aberto e seguindo os protocolos determinados pelo governo.

Indefinição na Capital

No caso de Fortaleza, a assessoria de imprensa da Prefeitura informou que integra o Comitê Estadual de Enfrentamento à Pandemia e participa das decisões. “A gestão municipal se adequará à deliberação desta sexta-feira e se pronunciará após analisar as possibilidades”, afirmou, mas sem adiantar um prazo.

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