Escolas, espaço para brincar e merenda 'melhor': o que as crianças esperam do novo Governo do Ceará
Com pedidos cheios de inocência, os pequenos já conseguem perceber as necessidades de uma sociedade desigual, que reflete também nas crianças
"Eu queria que o governador fizesse novos parquinhos, cuidasse das praias, cuidasse das crianças abandonadas"; "Eu espero do novo Governo do Ceará que ele crie novas escolas, novos hospitais"; "Eu queria que o Governo fizesse uma comida melhor na escola".
As falas são de crianças entrevistadas pelo Diário do Nordeste que fazem pedidos ao governador eleito, Elmano de Freitas (PT), para os próximos quatro anos. As demandas, carregadas de inocência, já sinalizam para problemas antigos do País: as desigualdades sociais.
"É porque elas são desprotegidas, estão com fome, não têm uma casa"
A mãe, a assistente social Milena Cunha, explica que a visão de mundo da filha sofreu impactos após uma simples ida ao Centro de Fortaleza, onde Cecília, sem entender muito bem, viu crianças, de idades semelhante à dela, dormindo no chão e pedindo comida.
Achou até que fossem "abandonadas", como descreve na sua própria fala inocente. Talvez Cecília esteja certa e sejam mesmo, mas não somente as crianças, e sim todas as famílias que precisam recorrer às ruas para fazer morada. Os motivos, sejam quais forem, exigem um olhar atento do Estado para combater um problema antigo: a vulnerabilidade social.
Em meio aos pedidos de "um monte de parquinhos", que revelam as limitações do direito ao lazer no distrito de Mirambé (também conhecido como Taquara), em Caucaia, Cecília demonstra, também, preocupação e o desejo de que não só ela possa voltar para casa após um dia de brincadeiras.
"A gente foi outro dia no Centro e ela viu muitas crianças em situação de rua e ficou sem entender porquê elas não tinham condições de morar numa casa", explica Milena, mãe de Cecília.
Ainda em Caucaia, Francisco Fábio Vasconcelos Menezes, de 8 anos, deseja com sua inocência que mais crianças possam comer "coxinha, sorvete e picolé" de graça. O estudante da 2ª série do Ensino Fundamental pede, ainda, que o Governo beneficie com brinquedos as crianças carentes.
(Desejo que) todas as pessoas tenham comida de graça: coxinha, sorvete e picolé. Todas as crianças que não podem ter brinquedo, ter brinquedo de graça: bonecas, carrinhos e também outros"
'Mais escolas, hospitais e emprego'
Em Apuiarés, no Vale do Curu, a pequena Ana Clara Galvão, de 9 anos, mostra que também é aguçada na hora de responder "o que você espera/quer do novo Governo do Ceará?".
"Eu espero do novo Governo do Ceará que ele crie novas escolas, novos hospitais e mais empregos para as pessoas"
Professora da rede pública de ensino e mãe de Ana Clara, Regina Galvão explica que conversa com a filha sobre problemas cotidianos sem, necessariamente, abordá-los como um assunto político.
Além disso, Regina relata que, vez ou outra, Ana Clara se junta à mãe para assistir ao jornal, o que é permitido apenas quando os assuntos "não são pesados". Nesses momentos, no entanto, surgem perguntas que, por vezes, são complexas de responder.
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"Ela pergunta: 'mamãe, tá faltando hospital? Por que tem essas filas tão grandes?'. Então, ela percebe (a realidade). Algumas coisas a gente conversa, outras ela percebe assistindo (ao noticiário) mesmo", narra Regina.
Para a professora, a percepção da filha sobre a saúde pública, todavia, não é limitada apenas ao que ver no noticiário. Sem plano de saúde, Ana Clara apresentou problemas respiratórios ainda bebê e, desde então, precisa ir a Fortaleza para receber tratamento especializado.
Merenda e diversão
Em Maracanaú, as filhas da professora de reforço Kassiana Santos pedem ao futuro gestor melhores condições nas escolas da rede pública. Ainda que estudem em instituições de ensino da rede municipal, o cenário de melhorias deve abranger todas as redes – sendo competência de governantes de todas as esferas: Federal, Estadual e Municipal.
"Eu queria que o governo fizesse uma comida melhor na escola"
"Eu gostaria do dia D, que é o dia da diversão na escola"
Kassiana explica que não debate política com as filhas, mas que elas percebem dificuldades com base na sua realidade. As demonstrações têm a ver com as dificuldades de acesso a espaços adequados para lazer próximo de casa, por isso acabam querendo mais momentos de diversão na escola – como é o caso de Esther.
"O parquinho (para elas brincarem) fica no sol", acrescenta a mãe.
Esporte
Em Cascavel, o pequeno Heitor Machado, de 8 anos, gostaria de mais atividades esportivas gratuitas no período da noite no município. O pedido vem diante da dificuldade de seus pais levarem para fazer atividades durante o dia, tendo em vista que trabalham em horário comercial.
"Eu espero que no Governo de Elmano de Freitas tenha esportes noturnos, porque alguns pais trabalham o dia inteiro e não conseguem levar seus filhos para esportes de dia. E também praças e parques, tematizados, em Cascavel, no Ceará e no Brasil todo"
A mãe, a professora Tatiane Machado, relata que tenta preencher o desejo do filho por esporte com atividades em uma escolinha paga, no horário da noite, duas vezes por semana. Todavia, Heitor observa seus colegas fazerem várias atividades gratuitamente e também gostaria de ter mais opções para experimentar.
"No nosso município tem muitas atividades durante o dia, às quais ele não pode fazer porque eu não tenho como levá-lo. Ele só consegue fazer à noite o jiu jitsu. E ele tem amigos que fazem nos projetos aulas de música, futebol, escolinha de futsal", complemeta a mãe.
Propostas
No plano de gestão, o governador eleito Elmano de Freitas (PT) propõe cerca de 24 medidas voltadas para a Infância, direta e indiretamente. Em relação às solicitações feitas por crianças ouvidas pela reportagem, o Diário do Nordeste destacou algumas ações que buscam, em alguma medida, atender aos pedidos dos pequenos.
Vale ressaltar que nem todos os apelos feitos pelas crianças ouvidas pela reportagem são de responsabilidade de um único ente. Todavia, é obrigação de todas as esferas – Federal, Estadual e Municipal – garantir os direitos básicos assegurados a todos pela Constituição, principalmente às crianças e aos adolescentes – como estabelece o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
Juntos os entes compartilham as obrigações, seja na aplicação de recursos, distribuição e execução das políticas públicas que busquem mitigar os problemas para garantir que, neste 12 de outubro, todas as crianças possam ser, simplesmente, crianças.
Sobre "cuidar das crianças" em situação de rua, pedido feito pela pequena Cecília, o petista promete, no plano de Governo, "garantir mudanças eficazes e longevas com o reforço dos cuidados na Primeira Infância para promover o desenvolvimento integral das crianças, como uma estratégia capaz de interromper o ciclo da pobreza, diminuir as violências, prevenir problemas de saúde, impulsionar o desempenho escolar e melhor formação humana".
Ainda no mesmo tema, ele propõe reforçar políticas para erradicar a extrema pobreza; desenvolver um Sistema Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional; fortalecer o Programa Mais Infância; apoiar os municípios na implementação de programas especiais para pessoas em situação de rua; garantir acesso à moradia digna a todos; ampliar serviços de prevenção e atendimento médico e psicossocial às crianças e adolescentes vítimas de negligência ou violência; e combater a exploração sexual de crianças e adolescentes.
A ampliação de escolas, pedido da Ana Clara, está também no plano de Governo. Elmano promete tornar 100% das escolas de tempo integral até 2026. Ainda no documento, ele relata que irá se esforçar para melhorar os índices de aprendizagem em todos os níveis de Ensino (Infantil, Fundamental e Médio).
Em relação à merenda escolar, o petista diz, no plano de governo, que vai fortalecer e ampliar o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional da Alimentação Escolar (PNAE), além de apoiar cozinhas solidárias.
Quanto aos espaços de esporte e lazer, ele propõe democratizar e descentralizar o acesso às atividades esportivas e aos espaços de lazer como forma de promover desenvolvimento e combater à violência.