Bolsonaro, Ciro e Lula: qual o melhor cenário para os pré-candidatos no impasse entre PT e PDT no Ceará
O Diário do Nordeste ouviu especialistas sobre o assunto
As relações entre o Partido dos Trabalhadores (PT) e o Partido Democrático Trabalhista (PDT) estão estremecidas no Ceará. Os aliados querem montar um palanque duplo para apoiar as candidaturas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do ex-ministro Ciro Gomes (PDT) e lançar um candidato consensual para concorrer à sucessão do Governo. Os rumos dos petistas e pedetistas no Estado estão, porém, indefinidos.
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Uma reunião marcada entre os presidentes nacionais dos partidos, Gleisi Hoffmann (PT) e Carlos Lupi (PDT), deve acontecer até o fim deste mês para tratar da manutenção da aliança. O resultado da conversa deve ser dito no dia 28 de maio, no Encontro Estadual de Tática Eleitoral do PT.
Como toda relação que, quando acaba, traz consequências para os envolvidos, quem ficaria bem e quem ficaria mal com um possível rompimento entre PT e PDT? E se os partidos decidissem continuar juntos para as eleições deste ano? Qual seria o melhor cenário para os três principais pré-candidatos à Presidência do Brasil: Ciro, Lula e o atual presidente Jair Bolsonaro (PL)?
De acordo com consultores políticos ouvidos pelo Diário do Nordeste, embora não seja popular no Ceará, Bolsonaro, indiscutivelmente, ganharia com o término entre PT e PDT. Isso, porque ele conseguiria desmobilizar as forças aliadas de Ciro e Lula no Estado.
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Ciro e Lula também ficariam bem. Teriam, enfim, condições de montar palanques puros, que não dividissem atenções e que fossem completamente fiéis às suas campanhas.
As perdas mais significativas, segundo os especialistas, seriam para os postulantes à sucessão do Governo, especialmente a governadora Izolda Cela (PDT), que é a pré-candidata preferida da maioria dos petistas, mas não dos pedetistas. Também ficaria em maus lençóis o ex-governador Camilo Santana (PT), que é pré-candidato ao Senado e apoiador declarado de Lula e Ciro.
Término beneficia Bolsonaro?
Para o consultor político Luiz Cláudio Ferreira, que acredita que, nos bastidores, PT e PDT já estão rompidos, Bolsonaro se beneficia com o “divórcio” porque, enquanto as bases aliadas de ambos os partidos teriam de se dividir nos palanques, o dele, provavelmente puxado pelo União Brasil do deputado federal Capitão Wagner, ficaria mais fortalecido e unificado.
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O pensamento é o mesmo do cientista político Cleyton Monte, pesquisador do Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia da Universidade Federal do Ceará (UFC).
“Para Bolsonaro, o melhor cenário, aqui, no Ceará, seria da separação entre o PT e o PDT. Porque iria dividir a base aliada, as forças de Ciro e de Lula. Iria desmobilizar esses grupos. Mesmo sabendo que o crescimento do presidente não está ligado à relação entre PT e PDT e, sim, à possibilidade de ele ter palanque próprio ou uma força mais articulada”, observou.
A análise é endossada pela cientista política e professora universitária Carla Michele Quaresma. "O fim da aliança entre os partidos causaria um impacto nas eleições estaduais porque foi um projeto construído que conseguiu arregimentar lideranças políticas importantes vinculadas tanto ao PDT quanto ao PT. Então isso (o rompimento) poderia causar um dano em relação à eleição estadual, abrindo aí um uma possibilidade de crescimento da oposição representada por Capitão Wagner", afirma.
No que diz respeito aos aliados, devem pesar apoios como o do senador Tasso Jereissati (PSDB) e o do ex-senador Eunício Oliveira (MDB), por exemplo. “O melhor cenário é a divisão de forças entre os dois partidos, mas a aliança é mais ampla do que PT e PDT”, lembrou Rômulo Leitão, professor e coordenador do programa de Pós-Graduação em Direito Constitucional da Universidade de Fortaleza (Unifor).
Lula e Ciro fortalecidos?
A briga mais recente entre PT e PDT aconteceu nesta semana, quando Ciro Gomes afirmou existir um “lado corrupto” do PT no Ceará e atacou a deputada federal Luizianne Lins (PT).
Para Luiz Cláudio, a fala do pedetista foi estratégica, uma vez que ele teria percebido que dividir palanque com Lula, no Estado, atrapalharia sua campanha nacional. Daí, também, ter mencionado o nome do ex-prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio (PDT), no mesmo contexto de ataque ao PT e de sinalização de descontento com a aliança. Ciro disse:
Qual o defeito do Roberto Cláudio? O defeito é que pegou todas as escolas de Fortaleza nomeadas por vereador, três anos de greve, e consertou a escola, que era a pior no Ceará”.
“Ele (Ciro) sabe que o único caminho viável é o lançamento de Roberto Cláudio como candidato à sucessão de Izolda. Criaria um palanque literalmente ‘cirista’ e faria, definitivamente, o divórcio com o ex-presidente Lula”, entende o consultor político.
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Cleyton Monte também acredita que manter a aliança com o palanque duplo “não traz tantos resultados positivos para Ciro”, principalmente se a governadora Izolda Cela for a candidata ao Governo, uma vez que ela “não é tão atrelada assim” ao pedetista e dialoga com o PT. “O rompimento com o PT traria um palanque mais aliado a Ciro. E, também, de certa forma, poderia trazer um espaço maior para o ex-presidente Lula”, compreende o cientista político.
Para Luiz Cláudio, Lula tem capacidade de transferir capital político para um candidato petista ao Governo, se esse for o cenário. “Ele pode, com certeza, fazer uma transferência para o seu candidato petista. Ele já tem uma federação partidária formada pelo PT, PCdoB, PV e, provavelmente, atrairia outros aliados de primeira ordem. Sairia ganhando”, acredita.
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Izolda e Camilo enfraquecidos?
Duas das principais “vítimas” apontadas pelos especialistas num contexto de rompimento entre PT e PDT no Estado seriam o ex-governador Camilo e a governadora Izolda.
Izolda, porque seus esforços para intermediar os interesses conflitantes da base governista seriam em vão e, Camilo, porque deixaria o petista em uma encruzilhada entre Ciro e Lula.
“Se a governadora fosse tentar reeleição, ela, com certeza, iria tentar pegar carona no ex-presidente Lula. E ela sabe disso. O Ciro Gomes, notando esse movimento (de Izolda), se antecipou e tenta, agora, impor a candidatura de Roberto Cláudio”, aponta Luiz Cláudio.
“Camilo Santana deixou o governo com altos índices de popularidade e é favorito à única vaga para o Senado Federal. Mas, um eventual rompimento tende a prejudicá-lo, caso o PDT decida lançar candidatura própria ao cargo, ainda que isso seja um cenário improvável”, observa Rômulo Leitão.