"Trocar seis por meia dúzia e não trocar a condução da política é que é um problema", diz Mandetta

Em entrevista exclusiva, o ex-ministro da Saúde aponta 'coleção de erros' na pandemia e defende nome do centro contra 'líderes populistas'

Escrito por Jéssica Welma e William Santos ,
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Legenda: Mandetta concedeu entrevista exclusiva ao Diário do Nordeste
Foto: AFP

Há exatamente um ano, quando foram confirmados os três primeiros casos de Covid-19 no Ceará, o Ministério da Saúde do Governo Bolsonaro era comandado pelo médico Luiz Henrique Mandetta. Àquela altura, aos 55 anos de idade, ele já havia começado a enfrentar os primeiros impactos da pandemia no Brasil - o primeiro caso da doença foi confirmado dias antes, no fim de fevereiro.

O enfrentamento do novo coronavírus sob a liderança do ex-deputado federal do DEM de Mato Grosso do Sul durou menos de três meses. Sob discordâncias com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), ele deixou o Governo em abril de 2020.

A atuação frente à crise sanitária, porém, continuou. A partir de então, na condição clara de crítico do Governo Federal. Um ano depois, em entrevista exclusiva concedida ao Diário do Nordeste, o ex-ministro avalia a condução do combate à doença, em meio a novas turbulências no Ministério da Saúde, como uma "coleção de erros".

Ao falar de possível "intervenção" no Ministério da Saúde, Mandetta cobra mudança política sob o risco, segundo ele, de não haver efetividade.

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Questionado sobre lockdown, decretado, por exemplo, no Ceará, Mandetta diz compreender a medida como a única saída para tentar frear a disseminação do novo coronavírus quando gestores públicos se deparam com sistemas de saúde à beira do colapso.

Categórico, ele também critica a falta de responsabilidade de políticos defensores de tratamento precoce contra a Covid-19, que não tem comprovação científica, e fala ainda sobre as eleições presidenciais de 2022. Diz ele que, se for "escolhido" candidato, estará "entregando santinho na (Praia de) Iracema".

Veja a entrevista a seguir:

Já passamos de um ano de pandemia, e o Brasil enfrenta, talvez, o momento mais delicado desta crise sanitária. Como o senhor avalia a condução do enfrentamento à pandemia no País durante esse tempo?  

A condução é muito equivocada, muito fragmentada. A nossa maior força era a unidade do serviço de saúde para tudo, para poder ter uma linguagem, uma informação. O Pacto Federativo que o SUS (Sistema Único de Saúde) representa, até para negociar as vacinas em bloco, fragmentou. Agora estamos vendo é que o Governo pode comprar, o prefeito pode comprar, (mas) vamos comprar mais caro, vamos comprar pior. A perda do Pacto Federativo é uma das coisas mais graves.

O segundo (ponto) é a condução totalmente absurda por parte daqueles que deveriam dar o exemplo, principalmente o presidente, que jogou contra a prevenção no primeiro momento, mandou as pessoas aglomerarem, jogou contra a ciência (...).

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Legenda: Mandetta durante uma das entrevistas coletivas que deu na condição de ministro da Saúde
Foto: AFP

(Ele) fez uma intervenção militar na Saúde, (colocou no Ministério) pessoas sem capacitação, mandou as pessoas escreverem que o Ministério da Saúde recomendava remédios que não tinham viabilidade (contra a doença), deixou de comprar vacinas, deixou de fazer testes, brigou com a China, brigou com o mundo, brigou com o (Instituto) Butantan. Enfim, é uma coleção de erros que dá nisso que estamos vendo.  

Na última semana, o atual ministro da Saúde, o Eduardo Pazzuelo, afirmou que não há colapso no sistema de saúde brasileiro, embora vários governadores digam o contrário. O senhor já fazia esse alerta em relação a um colapso quando foi ministro. Que retrato o senhor faz, então, do nosso sistema de saúde nesse momento? 

Na cabeça dele não há colapso porque nós não temos ministro. Imagina que você me coloca para ser piloto de um (avião) Boeing com 400 pessoas a bordo? Nós temos piloto? Não, eu não sou piloto, não sei pilotar, mas me botaram sentado aqui. O avião vai cair, vai chacoalhar, vai dar tudo de errado. É uma pessoa despreparada para a gente ouvir.

Agora, nós temos ainda, como válvula de saída, (o fato de que) existem claramente, hoje, pessoas que estão lutando pela vida. Esse pessoal que está nos hospitais, está na Saúde, está pedindo para as pessoas, por favor, moderação. A estratégia é tão errada que o Exército Brasileiro tem 260 mil homens, e nós já perdemos 270 mil (pessoas mortas em decorrência da Covid-19).

Se fosse uma guerra convencional, nós já teríamos queimado o Exército Brasileiro inteiro. É muita morte no período por uma doença só.

O que vejo é que, numa situação dessa, os governos costumam procurar culpado. O primeiro culpado era a Organização Mundial (da Saúde, a OMS), (depois) era a China, depois o culpado era eu, ou o culpado era o outro que saiu (Nelson Teich, que substituiu Mandetta), depois o culpado era a imprensa. A imprensa foi quem mais apanhou esse tempo todo, (porque) dava notícia, mostrava os fatos.

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Legenda: O oncologista Nelson Teich substituiu Mandetta à frente do Ministério, mas foi uma rápida gestão
Foto: AFP

No último mês, os culpados eram os governadores e prefeitos. Daqui a pouco o culpado vai ser o povo brasileiro, por ter nascido e estar morando no Brasil, porque é só um jogo de transferência de culpa por uma condução equivocada. 

Governadores anunciaram recentemente uma mobilização de proporção nacional em busca de medidas de enfrentamento à Covid-19. Muitos reclamam da falta de coordenação federal. O senhor considera essa mobilização dos governadores acertada? Ela pode ter influência nessa relação entre governos no combate à pandemia? 

Como alerta, como chamamento de atenção para esses graves problemas de você ter um dos entes da federação sem condições de administrar, sim. Agora, na prática, ao fazer um comando paralelo, você vai chocar (decisões) e vai fazer ainda mais confusão. O Brasil não é uma receita de bolo, não é uma regra única do Amapá ou Rio Grande do Sul. São momentos diferentes, sociedades diferentes, culturas diferentes. Mas pra chamamento de atenção, sim.

Talvez, se não for por vontade política e se a coisa estiver em uma situação cada vez mais grave, a maneira de se fazer isso (unificar estratégias) é uma intervenção no Ministério da Saúde por via judicial, porque daí pelo menos você teria as ferramentas para poder executar a política. Mas acho isso muito pouco provável, muito distante. Acho que é uma coisa mais política (a mobilização de governadores), de demonstrar a falência total da União na condução, mas não se tem as ferramentas que tem aquele  que foi criado para isso.

O Ministério da Saúde tem técnicos de carreira maravilhosos, é um ponto de encontro para fazer essa organização. Você montar uma estrutura do lado, do tamanho do Ministério da Saúde, com as possibilidades do Ministério da Saúde, é impossível. Vai ser muito mais uma sinalização, (para) algumas orientações, algumas coisas, mas não tem caneta, não tem poder de articulação da política. 

Essa intervenção no Ministério da Saúde a que o senhor se refere, como  aconteceria? Isso seria possível, ainda que talvez a possibilidade, como o senhor pontuou, seja distante?  

Não gosto nada de medidas de força. Gostaria muito era que o presidente fizesse uma reflexão e entendesse que a estratégia que ele utilizou é errada, (que) organizasse, deixasse os técnicos trabalharem. Até o (Donald) Trump teve que aceitar os técnicos (nos Estados Unidos). Chega uma hora em que você fala: “a responsabilidade é sua por essa loucura”. Dele e do ministro da Saúde, que é o general. Se não faz isso, está causando problema, problema, problema; é desarticulação, perda de tempo.

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Legenda: Mandetta com o presidente Jair Bolsonaro em cerimônia no Palácio do Planalto
Foto: AFP

O ministro (está) perdido, (dizendo) “olha, não tem colapso”. Ele não sabe nem o que é um hospital, é incapaz de reconhecer o que é uma sala de emergência, uma sala de CTI. Numa situação dessa, existem as possibilidades que você tem. As pessoas falam: “ah, quero impeachment”. O impeachment é um processo que não vai (acontecer) nunca, tá? Mas como é que se objetivamente faz isso (intervenção no Ministério)? Será que é pela via política? Então, vai trocar, vai colocar lá uma pessoa técnica e vamos fazer um pacto político. E, às vezes, trocar seis por meia dúzia e não trocar a condução da política é que é um problema.

Vejo que isso é previsto no meio jurídico, não sei bem a fórmula, se é (pelo) Supremo. (...) Não tem condições, olha o que está acontecendo, olha a situação de Manaus. Esqueceram de monitorar o oxigênio, gente! Olha a situação das vacinas. Uma semana fala que vai ter um milhão de doses, na outra fala que vai ter cinco, na outra fala que vai ter dois. Não tem previsão para 24 horas. Quem é que consegue trabalhar desse jeito?

Não tem articulação com o mundo, com os outros países para poder fazer transferência de tecnologia de lá para cá. Cadê a posição do Brasil em (relação a) países que compraram cinco vezes a sua necessidade de vacina?

O Brasil tem que começar a chamar esse debate: "não é justo vocês comprarem cinco, seis vezes a necessidade de vocês e nos deixar nessa situação aqui e ainda apontando dedo". Precisa de diplomacia, de relações exteriores. A Saúde tem, sim, que responder muito mais, mas, agora, é o Governo como um todo que tem que responder

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Legenda: O uso da Cloroquina e o isolamento social foram pontos constantes de divergência entre Bolsonaro e Mandetta
Foto: AFP

Ainda falando da atuação de governadores, na última quinta-feira (11) o governador do Ceará, Camilo Santana, decretou lockdown no Estado todo. Diante dessa pressão que temos visto sobre os sistemas de saúde também de outros estados, o senhor acredita que o lockdown é a principal alternativa para o momento crítico que temos vivido?  

Ele (Camilo) deve ter feito (a decisão) baseado em todas as evidências de assessoramento técnico que ele tem. As pessoas estão usando muito a palavra colapso, e às vezes a gente tem que colocar à luz para explicar o que é colapso. O sistema de saúde pode ser bom, pode ser regular, pode ser ruim, pode ser crítico. Crítico é quando você começa a falar assim: “rapaz, precisei do sistema de saúde, mas só consegui ser atendido porque o médico era meu amigo, eu tive que gastar um dinheirinho por fora”. Isso é crítico, não em crise.

Depois tem o caótico, que é quando você fala assim: “rapaz, para eu entrar lá, eu tive que ter ordem judicial, tive que fazer escândalo, tive que pagar uma fortuna”. Isso é um sistema caótico, um caos. Foi o vereador, foi o deputado que arrumou a vaga, eu tive que arrumar uma "peixada" para entrar. Isso é caos.

E tem o colapso, que é quando você pode ter o direito lá na Constituição, pode ter a ordem judicial, pode ter o caderninho do seu plano de saúde, pode ter o dinheiro, falar "eu quero pagar para entrar, estou aqui com o dinheiro na mão", e o sistema não existe para você entrar. Se você ocupar 100% dos leitos de CTI com os pacientes de Covid, as pessoas continuam tendo queimadura, traumatismo, infarto do miocárdio. E você começa a ter mortes correlatas de outras doenças, porque também não têm acesso.

Entra numa situação de que quem é responsável pelo sistema olha e fala assim: “qual é a saída que eu tenho? Aumentar o tamanho do sistema de saúde? Já gastei todo o meu pavio, já contratei todo mundo que eu tinha para contratar, já montei todos os serviços, não tenho mais condição de expandir. Se eu não tenho condição de expandir e sei que vai acontecer esse colapso aqui na frente, a única responsabilidade que eu tenho é de baixar a transmissão”.

Se toda a sociedade estivesse junto, fazendo o dever de casa, usando a máscara, guardando dois a três metros (de distanciamento social), não indo pra lugar onde tem aglomeração, o índice de transmissão estaria bem mais baixo e não pressionaria o sistema de saúde.

Agora, como as pessoas estão fadigadas, o jovem quer fazer a festa, o homem jovem quer ir tomar cerveja todo dia no bar, a mulher quer ir no cabeleireiro, na academia de ginástica, o outro tem que pegar o ônibus, porque a firma está aí, e vai pegar todo mundo no mesmo horário, seis horas da manhã, vai estar superlotado. Todo mundo vai se expor ao mesmo tempo à vida normal, o sistema vai colapsar, vai acabar, vai chegar um ponto que não tem sistema.

Há uma crescente também em relação ao tratamento precoce contra a Covid-19. Há debate no Senado sobre isso; aqui no Ceará, na Assembleia (Legislativa), houve embate recente entre deputados sobre o tema. Como o senhor avalia esse cenário, principalmente relacionado à política? 

Quando você lê a história das epidemias, vai ver que sempre tem alguém que tem um xarope de milagroso, né? E os políticos adoram falar que trouxeram uma coisa que soluciona num passe de mágica. O presidente, outro dia, mandou o filho e mais uma meia dúzia de pessoas para trazer o spray milagroso de Israel. Mistura um pouco de religião, mistura um pouco de tudo isso daí, mas são só atividades políticas típicas do homem, do homem pequeno, do homem sozinho, do homem impotente em relação à doença, querendo achar um caminho.

É preciso orientar, e você precisa decidir qual tipo de sociedade você vai querer ser. Se você vai ser uma sociedade que vai decidir com base em evidência científica e vai aceitá-la ou não. A medicina não tem problema com droga terapêutica nenhuma. A gente tem drogas muito mais difíceis: Morfina, Fentanil, remédios para o câncer, mas tem o risco-benefício, tem o momento em que uso.

O que vejo desses defensores todos é que cada hora é uma droga: já foi Cloroquina, agora é Ivermectina, daqui a pouco vai ser outra. O que eu vejo é que ninguém se responsabiliza pela consequência. Isso é o que vejo de maior gravidade.

(Há) Muitas pessoas fazendo automedicação. Nenhum desses remédios é inócuo, nenhum deles deixa a pessoa sem ter o risco de efeito colateral. (...) Já se tem casos de hepatite medicamentosa, de insuficiência renal, de gente que evoluiu (para) pior. É preciso ter muito cuidado, e o Brasil precisa entender uma coisa: assembleias, câmaras (municipais), Câmara dos Deputados e Senado são locais de você discutir, mas não de fazer ciência, porque ali eles (parlamentares) agem sob a ótica da política (...).  

Como nessa doença 80% dos casos têm cura, (seja) com Cloroquina, com Ivermectina, com fitinha do Senhor do Bonfim, com boldo, com três pulinhos atrás do cemitério, 80% das pessoas vão sair dela sem complicações. O duro é que os 20% que vão complicar e vão para o hospital vão trazer esse pandemônio que a gente está vivendo.

Eles (políticos) não se responsabilizam. Eles falam: “isso daí é da doença mesmo”. Sempre têm uma desculpa: "não tomou na hora certa, tomou no segundo dia, tinha que ter tomado meia-noite, não usou a fitinha do Bonfim com três nozinhos, usou só com dois”. É muita brincadeira, é muita fase ainda do pré-iluminismo.

A humanidade, quando entrou no Iluminismo, decidiu que medicamento e práticas médicas deveriam ser baseadas em ciência.

As dificuldades diplomáticas do Brasil, principalmente no que se refere à vacinação, têm sido evidentes. Quando o senhor estava ministro, já existiam diálogos nesse objetivo de estabelecer relações para a vacinação? O que chegou a ser encaminhado pelo senhor e o que o senhor avalia desse cenário da diplomacia atual para trazer vacinas ao Brasil? 

Não, naquele momento eu pedia para eles pararem de hostilizar a China. (É o) Nosso principal parceiro comercial e, principalmente, para mim, que estava na Saúde, era onde estavam 96% dos itens e insumos de que eu precisava. Consegui trazer um navio de equipamentos graças ao meu relacionamento com o ministro da Saúde na China. Era um terror nas relações exteriores com os países que mais poderiam nos construir em termos de Saúde: Índia e China.

Você fala: “vamos precisar de frasquinho para pôr a vacina”. Vamos dar um exemplo bem básico. Se o mundo inteiro quer vacinar, precisa de oito bilhões de frasquinhos. Se são duas doses só pra essa doença, precisa de 16 bilhões de frasquinhos. Quem é que tem capacidade de produzir 16 bilhões de frasquinhos num período X de tempo? As fábricas estão lá (na China).

Mesmo que você tivesse uma vacina na Inglaterra ou na Alemanha, a Alemanha tinha que ter uma relação boa com a China para falar assim “olha, eu tenho a vacina aqui, agora preciso do frasquinho, da borrachinha para pôr aqui dentro”. É de uma primariedade muito grande.

Depois, como era um alinhamento absoluto com o Trump, era uma relação de política personalista de presidente para presidente, jogou-se a ficha toda na eleição do Trump, como se o Trump fosse o passaporte diplomático brasileiro, e o Brasil ficando do lado dos Estados Unidos o Trump defenderia os nossos interesses no mundo. (...)

Era uma relação doentia. E quando vem a derrota do Trump, e o Brasil, além de não reconhecer, hostilizou, apoiou a invasão do Capitólio, não deu uma nota rechaçando a ofensa à democracia.

O Brasil se isola do planeta Terra inteiro, o Brasil hoje olha de um lado para o outro e fala: “com quem que posso contar?”. Nem com o Mercosul, que (é composto por) nossos parceiros originários, a gente não está podendo contar. Nós vivemos uma ilha, estamos sem interlocução com qualquer país do mundo.  

Na última semana, houve a anulação das condenações do ex-presidente Lula na Lava Jato. O senhor falou que "a ruptura da liga social brasileira avança" com isso. Na última semana também, o senador Tasso Jereissati (PSDB) disse em entrevista que vê uma avenida aberta para o centro com essa nova realidade. Na sua avaliação, que espaço que precisa ser ocupado pelo centro até 2022? 

O espaço que a sociedade quer. Só os radicais comemoraram. Para eles, radicais, quanto mais ódio, quanto mais briga, quanto mais canelada, melhor. (...)

A última década foi incinerada. Essa decisão aí, que não entendo muito da parte jurídica, eu tenho dificuldade de entender: quer dizer, então, que estão dizendo que não existe Odebrecht, o  (Eduardo) Cunha também não existe, não existe (Nestor) Cerveró, não existe nada? O que aconteceu foi um pesadelo que passou na televisão? As sentenças todas de primeira instância, de segunda instância, ali nada vale? Tenho dificuldade com isso.

O fato é que não tem condições de você construir uma casa em cima daquela base tão podre, de negativa de valores brasileiros caros, que representa Lula. Foi dada a chance para Bolsonaro, ele foi eleito, eu votei (nele) porque não ia votar naquele absurdo do PT e não anulo o voto, vou até a última consequência, porque lutei muito para ter eleições diretas.

Agora, quando ele demonstra que o poder não lhe cai bem, porque ele não tem condições, na hora que você vê vida em jogo, e ele lidera mal, ali ele se anula, cai de joelhos frente a qualquer tipo de esclarecimento.

A sociedade está olhando esses dois e falando assim “mas vem cá, vocês querem que eu escolha entre isso e isso?”. E aí começa um sentimento hoje de "nem um, nem outro". Não dá caminho. Aí vem Ciro (Gomes), que é do Ceará, vem (Luciano) Hulk, vem o meu nome, vem Eduardo Leite (PSDB) e outros nomes que podem surgir. 

O senhor, na última semana, na pesquisa Atlas, foi apontado como um nome forte contra Bolsonaro em eventual segundo turno. Que disposição o senhor tem para assumir a disputa para ser o próximo presidente da República? O senhor está pronto?

Não pode ser um projeto de nome, não pode ser o meu nome. Tenho mais de 35 anos (de vida pública), sou um brasileiro nato, comprometido com as suas obrigações, e tenho uma vida de olhares múltiplos para ser oferecido (como nome), mas o importante é que esses pontos de convergência sejam os principais e, quem tiver as melhores condições para encabeçar um projeto de Nação, vá.

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Legenda: Mandetta defende candidatura de centro para 2022. Para ele, projeto em comum deve nortear escolha de um nome
Foto: AFP

Se esse for o desafio que esse grupo enorme de pessoas brilhantes olharem e falarem assim: “você vai encabeçar esse projeto, você vai colocar peso porque a gente entende que você é a pessoa para esse momento importante da vida do Brasil, não por causa de você, mas por causa da democracia, das instituições, da liberdade de imprensa, da educação, da cultura, da saúde".

Nós precisamos enfrentar esses dois líderes populistas inconsequentes, cada um. No português deles não existe a palavra "desculpa", "errei". Lula saiu falando “eu sou a vítima, estou aqui, não errei nada”, e o Bolsonaro falou “agora estou de máscara e aprovo a vacina”. São iguais no sentido contrário. É a mesma coisa.

Seja lá onde for, até entregando santinho aí na (Praia de) Iracema eu vou estar, mas desde que acredite que é para pacificar o País. Se forem só os dois, não sei qual dos dois ganha, mas que o Brasil inteiro perde, o Brasil inteiro perde

Há um ano, o senhor estava à frente do Ministério da Saúde quando explodiu essa pandemia. Como o senhor imaginava que estaria o Brasil um ano depois? Qual era a sua expectativa e como é o senhor se sente com a realidade passado esse ano?  

Olha, eu desenhei esse cenário. Eu não trabalhava muito para colocar isso em público, porque às vezes as pessoas podiam se sentir acuadas, mas a gente desenhava um cenário super otimista, como se nós fôssemos uma Nova Zelândia, um país limpíssimo, uma ilha, que não existe, é utópico. Esse cenário era um cenário que eu roteirizava (assim): "se houvesse essa possibilidade, nós teríamos 30 mil óbitos em 2020”.

Vamos agora paro outro polo. Se fizer tudo errado, se fizer desse jeito que o presidente quer fazer, se mandar aglomerar, o que que acontece? Discutimos, discutimos e (projetamos): “vai bater 180 mil mortos em 2020”.

O nosso objetivo era ter menos de 80 mil (mortes) em 2020. E nós sabíamos desde o princípio: "assim que tiver sinalização de vacina, vamos avançar nela igual quem está no deserto e avança num copo d'água". Essa era a linha de saída, a porta de saída era muito clara que ia ser através de vacina.

Esses cenários e essas informações eu coloquei para o presidente na presença de todos os ministros.. A gente vira para 2021 e continua contando. A gente chegou no dia 31 de dezembro com 192 mil óbitos. Não era muito longe dos 180 mil que a gente apontou. (...) As pessoas falam assim pra mim: “e quando é que (o Brasil) vai ter 3 mil mortes (diárias)?”. Isso é contra o que a gente tem que lutar.

Se a gente não fizer nada, teremos 3 mil, 3,5 mil, 4 mil, 5 mil mortes em 24 horas. Porque se você não fizer nada, se você falar “não posso nada, o lockdown é difícil, ficar em casa é difícil, não quero isso, não quero aquilo, não vou ficar aqui, não quero nada”, a consequência vai ser essa. Nós temos que lutar. É tempo de unir, de tentar fazer um apelo por união.

O governador (Camilo Santana) está fazendo o possível e o impossível. Eu conversava com ele, com o governador Camilo, na época (em que fui ministro). Ligava, me interessava pelo Ceará, (falava sobre) o que podia ajudar. Nessa hora não tem PT, não tem Bolsonaro, não tem nada. É vida, meu amigo.

Agora, se isso não for a coisa principal para um País, já não sei mais (com quais) valores que a gente está. É lutar todo mundo, (com) as armas que se tem, até que chegue a bendita a vacina para a gente poder vacinar e sair virando essa página.

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