Luiz Henrique Mandetta diz que Ciência embasou suas decisões à frente do Ministério da Saúde

O ex-ministro participou de CPI nesta terça (4) e citou desentendimentos com o presidente Jair Bolsonaro

Escrito por Redação ,
Luiz Henrique Mandetta durante oitiva na CPI da Covid-19 em maio de 2021
Legenda: O médico foi demitido do cargo em 16 de abril de 2020, no início da crise sanitária causada pelo novo coronavírus no Brasil
Foto: Agência Senado

O ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta participa, nesta terça-feira (4), da oitiva promovida pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) criada para apurar as ações e possíveis omissões do Governo Federal no enfrentamento da pandemia da Covid-19. Na ocasião, o médico afirma que se baseou na Ciência para tomar suas decisões à frente da pasta.   

Segundo Mandetta, a pasta foi conduzida durante sua gestão sob três pilares: a defesa da vida, de que nenhuma vida seria desvalorizada; a defesa do Sistema Único de Saúde (SUS) como meio para agir durante a pandemia do novo coronavírus e a Ciência como elemento de decisão.

O médico foi demitido do cargo em 16 de abril de 2020, no início da crise sanitária causada pelo novo coronavírus no Brasil. Na data, o País registrava apenas 1.924 mortes causadas pela doença. Atualmente, mais de 400 mil brasileiros foram vítimas da Covid-19.

A CPI ainda vai ouvir os ex-ministros da Saúde Nelson Teich e Eduardo Pazuello, além do atual gestor da pasta, Marcelo Queiroga, e o diretor-presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres. As convocações atendem a uma série de requerimentos aprovados na semana passada na comissão. O relator Renan Calheiros (MDB-AL) com o Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) são autores dos pedidos.

Segundo eles, os depoimentos dos ex-gestores da pasta devem ajudar a esclarecer se o País poderia ter tomado um rumo diferente no enfrentamento a pandemia e mitigado o alto número de óbitos.

Uso da cloroquina

Em depoimento, Mandetta afirmou ainda que não partiu do Ministério da Saúde a orientação para a produção de cloroquina pelo Exército para o combate ao novo coronavírus. Segundo ele, durante sua gestão, havia quantidade suficiente do medicamento pela Fiocruz para aquilo que lhe convém, como o tratamento da malária.

O ex-ministro afirmou que, enquanto esteve no ministério, nunca orientou o uso indiscriminado de cloroquina.

Divergências com Jair Bolsonaro

A passagem de Mandetta pelo Ministério foi marcada por desentendimentos públicos com o presidente Jair Bolsonaro, episódios que foram lembrados pelo ex-ministro ao responder questionamentos sobre o assunto. 

O ex-gestor afirmou que não concordava com a estratégia defendida pelo presidente de isolamento vertical, que propunha o isolamento apenas de pessoas dos grupos de risco da Covid-19. 

Porém, frisou: "nunca tive discussões ásperas com o presidente". E afirmou que não recebeu uma instrução técnica enviada diretamente ao Ministério da Saúde sobre a preferência do gestor do Executivo nacional.

"Era constrangedor para o ministro da Saúde ficar explicando que estava indo por um caminho e o presidente por outro", declarou.

O médico afirmou ainda que o presidente preferia receber conselhos de profissionais que não faziam parte do Ministério da Saúde. Mandetta citou a existência de reuniões que envolviam ministros, médicos, o diretor-presidente da Anvisa, Barra Torres, e o filho de Bolsonaro, o vereador carioca Carlos, em que o gestor do Executivo debatia sobre medidas para combater a pandemia

Em um desses encontros, em que teria sido convidado a participar, o médico disse ter visto um decreto não timbrado em que determinava a inclusão na bula da cloroquina, feita pela Anvisa, a orientação para o uso em casos de Covid-19. Na ocasião, Barra Torres teria barrado a sugestão. 

Imunidade de rebanho 

Na CPI, Mandetta ainda afirmou ter a "impressão" de que o Governo Federal buscava a imunidade de rebanho como estratégia para vencer a pandemia da Covid-19.

A teoria prevê que a propagação do vírus para quando se atinge uma porcentagem de infectados da população, em torno de 70%. 

"A impressão que tenho era que era alguma coisa nesse sentido, o principal convencimento, mas eu não posso afirmar, tem que perguntar a quem de direito", afirmou o ex-ministro.

"Mas era um entendimento assim: as pessoas vão contrair isso porque moram em favelas, porque estão aglomeradas, porque não tem esgoto, porque o brasileiro vai se contaminar e vai morrer só quem tem que morrer, só está morrendo idoso e embarcaram nessa teoria. A impressão que tenho é que pode ser, mas não posso afirmar."

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