Iria Férrer: quem é a primeira e única mulher a presidir a Câmara de Fortaleza

Em 1988, por conta de uma intervenção, a então vereadora assumiu o comando da Casa. De lá para cá, a situação não se repetiu, o que justifica o debate sobre a ocupação de espaços por elas no Poder Legislativo

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Legenda: Lucimar Martins (PTC) é a única mulher na Mesa da Câmara atualmente
Foto: Foto: José Leomar

Não havia termos piores para que Iria Férrer (MDB) assumisse o comando da Câmara Municipal de Fortaleza (CMFor). Nomeada interventora na Mesa Diretora da Casa pelo governo estadual no dia 28 de março de 1988, a parlamentar - que faleceu em 2015 - tinha a missão de moralizar o Legislativo Municipal. A Mesa Diretora, presidida então por Wellington Soares (MDB), era alvo de investigações da Polícia Civil e do então Conselho de Contas dos Municípios do Ceará, antecessor do Tribunal de Conta dos Municípios do Ceará, extinto em 2017.

Foi assim que Iria Férrer tornou-se a primeira mulher a presidir a CMFor. A recepção nem sempre foi calorosa. Sérgio Costa, do Partido Liberal, solicitou que os anais da sessão registrassem Íria Férrer não como presidenta, mas como interventora. O pedido não foi acatado e, até hoje, a foto de Iria é exibida na Casa, na galeria dos ex-presidentes.

"Acho que ela deu uma contribuição muito grande", diz o ex-deputado federal Chico Lopes (PCdoB), vereador no período no qual, segundo ele, mulher na política era novidade. De 1988 para cá, os avanços foram lentos. Em novembro, apenas 16 das 184 câmaras do Estado eram comandadas por mulheres. A Assembleia Legislativa nunca teve uma mulher no comando.

Isso, segundo a cientista política Kristin Wylie, professora assistente do Departamento de Ciência Política da James Madison University, nos Estados Unidos, não é coincidência. "Esses espaços, seja nos parlamentos locais ou nacionais, foram construídos sem a presença das mulheres", avalia. Para ela, essas Casas possuem "regras não-escritas" que impedem a ascensão das mulheres a cargos elevados.

Mudança de lógica

Para a cientista política Débora Thome, doutoranda pela Universidade Federal Fluminense (UFF), muito da política é feito longe do plenário. E das mulheres. "São grupos de homens que se reúnem, discutem, e as mulheres normalmente ficam à parte, tendo que fazer um esforço enorme para entrar nesses clubes, que já são permeados por temas masculinos e com uma lógica construída para expulsá-las".

Kristin Wylie, porém, diz que, mesmo com regras e condições desfavoráveis, "há mulheres enfrentando isso com muita garra". Uma delas é Lindalva Batista (MDB), por duas vezes presidente da Câmara de Tabuleiro do Norte. "Sempre teve resistência. E ainda tem", diz, afirmando que havia quem pensasse que mulheres não teriam competência para "gerir a cadeira".

O mandato de Iria Férrer acabou de forma discreta. No fim de novembro daquele ano, uma liminar do então desembargador Júlio Carlos de Miranda Bezerra deu fim à intervenção, dando posse ao vice-presidente que havia sido afastado pelo então governador Tasso Jereissati, José Maria Couto (então no PFL). Foi o fim da primeira experiência da Câmara Municipal de Fortaleza sob comando feminino. Que não tenha sido a última.