Governadores do Nordeste miram vagas no Senado em 2022; confira cenário nos estados
Dos nove gestores da região, apenas dois poderão tentar reeleição. Os outros sete devem buscar vaga no Congresso
Apontando a pandemia como prioridade atualmente, os governadores do Nordeste ainda evitam falar publicamente do futuro nas eleições de 2022. No entanto, o destino da maioria dos atuais chefes dos executivos estaduais deve ser disputar vaga no Senado Federal.
Dos nove governadores, apenas dois poderão disputar a reeleição: Fátima Bezerra, no Rio Grande do Norte, e João Azevedo, em Paraíba. Os outros sete pretendem usar o capital político para buscar novos cargos e emplacar sucessores.
Diferentemente de 2014, quando muitos dos atuais gestores eram conhecidos apenas em suas bases eleitorais, a pandemia alçou os governadores do Nordeste a lideranças com projeção nacional.
Criado em 2019, o Consórcio de Governadores virou um mecanismo de atuação conjunta no combate à Covid-19. Partiu do grupo, por exemplo, a iniciativa de comprar 39 milhões de doses da vacina russa Sputnik V.
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No campo político, os governadores mantiveram oposição ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido), sendo inclusive alvos de críticas do chefe do Executivo Nacional. A postura dos gestores regionais reflete, ao menos em parte, a maioria do eleitorado, já que, em 2018, o Nordeste foi a única região onde o presidente não obteve maioria dos votos em nenhum turno.
É de olho nesse capital político que seis governadores da região são cotados para disputar cadeiras no Senado Federal. No caminho até lá, no entanto, os possíveis candidatos precisarão renunciar ao cargo atual até abril de 2022, prazo máximo para descompatibilização.
Em alguns estados, o sucessor é apontado como natural por aliados e já ocupa cargos de primeiro escalão, mas, em outros, rachas internos, disputa entre correligionários e nomes de peso nacionalmente podem até inviabilizar candidaturas.
O peso do PT no Nordeste
Ao menos três nomes do PT devem tentar vaga no Senado Federal. Um deles é o governador do Ceará, Camilo Santana (PT). Apesar de não admitir publicamente que participará da disputa, o nome do petista é dado como certo nos bastidores.
A vaga que ele pode disputar é atualmente ocupada pelo senador Tasso Jereissati (PSDB), que tem futuro indefinido para 2022, sendo cotado pelos tucanos para disputar a Presidência da República. Outros aliados cogitam a possibilidade de o ex-governador nem formalizar uma candidatura.
Pesa a favor de Camilo a aprovação que tem da população. No último pleito que disputou, obteve 79,94% dos votos. Em 2020, quando apoiou o então candidato Sarto Nogueira (PDT) para a prefeitura de Fortaleza, foi apontado por pesquisas como o principal “puxador de voto”.
O governador também tem, atualmente, ampla base de apoio, com aliados que incluem o ex-ministro Ciro Gomes (PDT), o ex-presidente do Senado, Eunício Oliveira (MDB), o ex-vice-governador Domingos Filho (PSD), além do ex-presidente Lula (PT). A ampla aliança, entretanto, ainda gera muitas dúvidas sobre a composição da chapa majoritária no próximo ano.
Em entrevista ao programa PontoPoder, da TV Diário, o governador se esquivou de comentar sobre o futuro. Confira:
Bahia: acomodação de aliados
Na Bahia, o futuro político de Rui Costa (PT) em 2022 depende da acomodação de três partidos: o PT, o PP e o PSD. O petista, que já foi cotado para disputar a Presidência, deve embarcar na disputa de uma vaga para o Senado. Essa cadeira atualmente é ocupada por Otto Alencar (PSD), seu aliado – que poderia ser acomodado no Executivo.
Por outro lado, o PT pretende encabeçar a chapa no Executivo estadual com Jaques Wagner (PT). Em meio a esse impasse, há ainda o PP, do atual vice-governador João Leão, que tem pretensões de comandar o Governo e ocupará o cargo caso Rui renuncie para as eleições.
Para dificultar ainda mais os cálculos políticos do governador, seu principal adversário, ACM Neto (DEM), conseguiu eleger, EM 2020, um sucessor na Prefeitura de Salvador, agora comandada por Bruno Reis (DEM).
Piauí: o fator Lula
Se no Ceará e na Bahia a provável candidatura do ex-presidente Lula deve redefinir o tabuleiro político, no Piauí isso fica ainda mais evidente. Presidente do Consórcio de Governadores do Nordeste, Wellington Dias (PT), ganhou destaque nacional por representar a região nas articulações de combate à pandemia.
Governadores do Nordeste não poderão tentar reeleição
Rapidamente seu nome foi alçado a uma possível candidatura à Presidência. Contudo, com a devolução dos direitos políticos do ex-presidente Lula, o governador passou a ser cotado como candidato ao Senado em 2022.
Até agora, ele não comentou sobre seu futuro na política, mas aliados já apontam um caminho alternativo. Aproveitando a visibilidade que ganhou e a proximidade com o ex-presidente Lula, Dias pode coordenar a campanha do ex-presidente em 2022.
Em entrevista ao PontoPoder, ele disse que tratará das eleições somente no próximo ano, mas ressaltou o bom diálogo com Lula. Confira:
Presidenciáveis do Nordeste
Vizinho ao Piauí, o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), também tem o nome ventilado como possível candidato à Presidência. Contudo, a reentrada de Lula na disputa pode tirá-lo do jogo.
Dino, assim como outros governadores da região, também deve disputar vaga no Senado Federal. A dúvida que ronda o futuro do político é sobre qual partido irá abrigá-lo. Enquanto avalia deixar o PCdoB – sigla que deve ser atingida pela cláusula de barreira –, a ida para o PSB é dada como certa.
Nos últimos dias, uma das chances do governador permanecer no PCdoB era a aprovação, na Câmara, de uma reforma eleitoral que autoriza a formação de federações partidárias, espécie de aliança entre siglas, durante quatro anos, em que o grupo soma seus respectivos desempenhos para evitar a cláusula de barreira.
Dino, porém, deve seguir o mesmo destino do deputado federal Marcelo Freixo, que saiu do Psol para se filiar ao PSB.
Governadores do Nordeste poderão tentar a reeleição
Demonstração de força
Caso realmente se candidatem, Wellington Dias e Flávio Dias terão outro obstáculo. Ambos não conseguiram eleger aliados para comandar as respectivas capitais, vitória que soaria como uma demonstração de força na região.
Em Alagoas, Renan Filho (MDB) também não conseguiu eleger o prefeito de Maceió, mas apoiou seu vice-governador na disputa para prefeito de Arapiraca. Luciano Barbosa (MDB) foi eleito, o problema é que ele era o mais cotado para suceder o atual governador. Agora, Renan corre contra o tempo para construir outro nome para a disputa. Entre as possibilidades, há secretários, deputados e prefeitos da região.
Para piorar o cenário para o emedebista, na linha sucessória – agora sem o vice-governador –, o presidente da Assembleia Legislativa, Marcelo Victor (Solidariedade), é o próximo a assumir, caso Renan Filho decida disputar algum cargo parlamentar no próximo ano.
Contudo, Victor é aliado do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP), que compõe a oposição ao MDB.
Uma eventual descompatibilização do emedebista significaria entregar o Governo para a oposição. Para integrantes do MDB em Alagoas, o governador deve permanecer no cargo até o fim do mandato, já que uma reaproximação com o grupo de Lira parece distante.
Fogo-amigo em Sergipe
Impasse semelhante vive Belivaldo Chagas (PSD), em Sergipe. As relações estremecidas entre o PSD, do governador, e o PT, da vice-governadora Eliane Aquino (PT), devem inviabilizar uma possível candidatura do chefe do Executivo estadual. Nas eleições de 2020, as duas siglas disputaram, em campos opostos, a Prefeitura de Aracaju. À época, aliados de Belivaldo saíram vencedores.
Para a disputa do próximo ano, as duas legendas também têm planos diferentes. O PSD estuda lançar nomes como o do deputado federal Fábio Mitidieri (PSD) e do prefeito de Aracaju, Edvaldo Nogueira (PDT), já o PT planeja ser representado na disputa pelo senador Rogério Carvalho (PT).
Pernambuco: em prol dos aliados
Cenário incerto também é encarado pelo governador Paulo Câmara (PSB), de Pernambuco. Devido às amplas alianças do PSB no estado, o político precisará levar muitas variáveis em conta para escolher seu destino em 2022.
Um caminho mais seguro para o socialista é disputar vaga como deputado federal, apontam aliados. A vaga no Senado, tão almejada por outros governadores do Nordeste, fica distante para Paulo Câmara devido a alianças com siglas como o PP, que pretende indicar um nome para disputar cadeira no Senado.
Nesta equação, caso o PSB ceda na disputa pela vaga no Senado, o caminho fica pavimentado para lançar o nome de Geraldo Júlio (PSB), ex-prefeito do Recife e atual secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, como sucessor de Câmara no Governo do Estado.
Espaço para reeleição em RN e PB
Com futuro mais encaminhado estão os governadores da Paraíba e do Rio Grande do Norte, os dois únicos da região que estão em primeiro mandato. Eleito em 2018 com 58,1% dos votos, João Azevêdo (Cidadania) é cauteloso ao falar de uma eventual chapa, mas já admitiu, em entrevista à imprensa local, que deve disputar o pleito no próximo ano.
Única mulher exercendo mandato de governadora no Brasil, Fátima Bezerra venceu em 2018 com outro feito histórico: obteve 1.022.910 votos. Foi a primeira vez que um governador do Rio Grande do Norte ultrapassou a barreira de um milhão de votos. Com esse bom desempenho no currículo, a petista é uma das apostas da sigla nas disputas estaduais.
No último dia 4 de junho, o ex-presidente Lula (PT) inclusive se reuniu virtualmente com ela e outros nomes do PT, como o governador cearense Camilo Santana. Publicamente, ela não fala sobre o pleito do próximo ano, mas também já admitiu que deve disputar a reeleição.