Com Sputnik V aprovada, Nordeste ganha protagonismo político e isola ainda mais o governo federal

A decisão científica pode ter impactos políticos para o ano que vem

Legenda: Governadores do Nordeste negociaram a compra da Sputnik V para o Brasil
Foto: Divulgação

Com a liberação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) da importação excepcional de lote da vacina Sputnik V para uso contra a Covid-19 no Brasil, os governadores do Nordeste ganham protagonismo com a política de vacinação no País.

Antes, com a Coronavac, foi o governador de São Paulo, João Doria, que isoladamente ganhou força política sendo o responsável pelo início da vacinação em solo brasileiro.

Na agenda de ações e discursos que adotou no último ano, o presidente Jair Bolsonaro sofre mais um revés com a decisão da Anvisa que, apesar de ser uma autorização rigorosamente científica, tem impactos políticos para o ano que vem.

Veja também

Bolsonaro se distancia ainda mais da figura de protagonista da condução da pandemia no País que deveria ter. Criticado, o presidente ainda tenta alinhar um discurso que não comprometa a reeleição no ano que vem.

O presidente da República não é um dos mais fervorosos defensores da vacina. Bolsonaro, inclusive, fez diversas críticas ao imunizante desenvolvido em parceria entre a China e o Brasil, e fabricado no Instituto Butantan, chegando a sugerir tratamento precoce com medicamentos alternativos. 

Em pronunciamento nacional na rede obrigatória de rádio e televisão, nesta semana, o chefe do Palácio do Planalto, em uma mudança de rumo discursiva, disse que toda a população estaria vacinada ainda este ano, caso desejasse.

Com uma política internacional frágil, o Brasil, do ponto de vista do governo federal, teve extremas dificuldades de negociar a compra de vacinas. Por outro lado, não aceitou o acordo proposto pela Pfizer para fornecer imunizantes aos brasileiros ainda no ano passado.

Atrelado a um Itamaraty fragilizado com as potências fabricantes das vacinas, o governo federal trocou incontáveis vezes os ministros da Saúde, desestabilizando um trabalho de continuidade na pandemia.

Em meio à desarticulação ministerial, e à falta de ingerência do Palácio do Planalto na política de vacinação, governadores passaram a procurar individualmente, com João Doria, ou em grupo, no caso do Consórcio do Nordeste, países como China e Rússia para negociar as doses dos imunizantes.

A busca dos governadores aos laboratórios internacionais ocorreu também com a aprovação de uma lei no Congresso Nacional que garantiria a compra paralela caso o governo federal descumprisse o Plano Nacional de Imunização (PNI) contra a Covid-19.

O trabalho, que correu à revelia das ações ministeriais, tem gerado impactos na saúde pública, mas também alimentado o discurso de oposição ao presidente. 

A autorização da Anvisa traz esperanças para os brasileiros que aguardam vacina, mas também reforça consequências políticas que podem desaguar em outubro de 2022.

Veja também