Eleitoras relembram a experiência do voto em papel e destacam avanços com a urna eletrônica

Elas contam como foi passar das cédulas eleitorais impressas para o voto eletrônico

Escrito por Luana Barros , luana.barros@svm.com.br
Urna eletrônica
Legenda: Utilizada pela primeira vez em 1996, a urna eletrônica brasileira completou 25 anos em 2021
Foto: Fabiane de Paula

Em 2021, a urna eletrônica completou 25 anos. Neste período, diferentes equipamentos foram utilizados pelos brasileiros para escolher os seus representantes tanto em eleições municipais como nas gerais. A mudança para o atual formato de voto gerou expectativas em eleitores que já participavam do processo eleitoral antes disso, quando a votação ocorria por meio de cédulas impressas.

O Diário do Nordeste conversou com eleitoras que passaram por essa mudança para detalhar as diferenças sentidas no exercício do voto. 

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A primeira vez que a professora Elione Campos votou, em Fortaleza, foi na disputa vencida por Maria Luiza Fontenele à Prefeitura da Capital em 1985. Ela votou em cédulas de papel, uma forma diferente da adotada atualmente. 

"Era muito custoso, muito desconfortável", lembra ao falar dos dias de votação. "As pessoas demoravam muito para entender e (quando iam marcar a cédula) podiam demorar o tempo que quisessem", recorda. 

O tempo na cabine de votação acabava sendo usado para fazer mais do que apenas marcar os candidatos escolhidos. Ela conta que eleitores escreverem frases nas cédulas como forma de protesto. 

"Cansei de fazer protestos", diz a professora. Em uma das vezes, escreveu no papel que depois seria levado à urna: “Políticos brasileiros, não pensem que enganam o povo, porque não somos bestas”.

Elione Campos
Legenda: A professora Elione Campos recorda da demora no processo de votação quando ainda eram usadas cédulas eleitorais
Foto: Arquivo pessoal

Quando começou a votar, a também professora Dolores Coimbra ainda residia em Recife, capital de Pernambuco. Ela lembra como funcionava o processo de escolha. 

"No papel, havia os nomes (dos candidatos a) presidente, senador e os quadradinhos do lado", detalha. "Na época, havia poucos partidos, então eram poucos candidatos. Às vezes, tinha a foto do presidente e do vice ao lado do quadrado". 

Apuração manual dos votos

Para Dolores, o maior problema era a demora e a percepção de falta de segurança no momento da apuração dos votos. 

"Depois da votação, a contagem era muito demorada, porque era contado de um por um. Sempre houve essa questão de burlar a votação, porque é mais fácil você camuflar dessa forma, já que era tudo manual", aponta. 

Elione Campos concorda. "Depois, quando iam contar o voto, não tinha nada que dissesse que era o voto da gente", afirma.

Contagem de votos
Legenda: A contagem das cédulas eleitorais era feita de forma manual e podia levar dias até o resultado
Foto: Arquivo SVM

Regina Cláudia Pinheiro viveu os dois momentos a partir também de uma outra função. Ela foi mesária por 30 anos. O trabalho nos dias de votação começou antes da chegada das urnas eletrônicas. Regina relata, inclusive, que chegou a realizar a contagem dos votos manualmente. 

"Era bem complicado. A gente levava a madrugada, ficava até tal hora da noite, faltava energia... Era uma responsabilidade muito grande", conta. 

Ela realizou a contagem durante duas eleições e depois disso a responsabilidade se restringia a levar as urnas até os locais onde era feita a contabilização. 

A agora ex-mesária - ela pediu para deixar a função após as eleições de 2020 - compara o período de votação na cédula eleitoral e as mudanças trazidas após a implementação da urna eletrônica. 

Regina Cláudia
Legenda: Regina Cláudia Pinheiro atuou, por trinta anos, como mesária nas eleições
Foto: Arquivo pessoal

 
"Com a urna, existe todo um processo É preciso montar, tirar o boletim antes, tirar o boletim depois. É mais serviço do que no papel", afirma. "Com a cédula, você apenas lacrava tudo e entregava à pessoa do TRE (Tribunal Regional Eleitoral)", diz. "Mas em termos de segurança, a urna é mais segura. E a contagem de votos é mais rápida",  acrescenta.  

Primeira eleição com as urnas eletrônicas

Votação em 1996
Legenda: A primeira eleição com urna eletrônica gerou expectativa, mas também demora na adaptação
Foto: Arquivo SVM

A primeira eleição no Brasil com a implementação da urna eletrônica foi em 1996. Neste ano, um terço do eleitorado brasileiro escolheu seus representantes por meio do voto eletrônico. Apenas em 2000, as eleições foram informatizadas em todo o País. 

A mudança na forma de votação gerou expectativas em quem, até então, costumava escolher os representantes por meio do voto no papel. 

"A gente via a movimentação das urnas. Elas eram levadas em carros normais, eram instaladas e tudo. Então foi uma grande expectativa e também uma complicação".
Dolores Coimbra
Professora

A adaptação ao voto eletrônico na primeira votação com a urna eletrônica acabou gerando demora na votação. 

"Era uma mudança grande, as pessoas não tinham experiência", conta Regina Cláudia. "Em termos de votar na ordem, as pessoas não tinham muita noção e confundiam as ordens (dos candidatos). Alguns não tinham noção de que, no final de cada voto, tinha que confirmar", exemplifica. 

Para Elione Campos, a mudança foi bem-vinda. "É como sair da idade da pedra e entrar no mundo da civilização. Tem uma diferença enorme. É mais rápido, você vê o rosto do candidato. Foi uma modernização", celebra. 

Dolores Coimbra
Legenda: Dolores Coimbra se mudou de Recife para Juazeiro do Norte, no Cariri cearense, onde continua presente em todas as votações
Foto: Arquivo pessoal

Com a urna eletrônica completando 25 anos em 2021, Dolores Coimbra considera que houve não apenas uma melhora na tecnologia de votação, mas também no pensamento político nas décadas que separam as cédulas eleitorais do voto eletrônico. 

"Antes, o voto era uma obrigação. As pessoas não tinham consciência do que significava dentro da vida delas, não sabiam o valor do voto. Hoje, as pessoas se interessam mais por aprender e pela política", afirma.

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