CPI pede para o Ministério Público investigar se Wajngarten cometeu crime de falso testemunho

O ex-secretário desmentiu as próprias declarações dadas à revista Veja

Escrito por Julia Chaib e Renato Machado/Folhapress ,
Wajngarten enxuga o suor da testa com um lenço
Legenda: Wajngarten chegou a ter um pedido de prisão feito pelo relator da comissão, Renan Calheiros, que acabou não acatado por Aziz
Foto: Pedro França/Agência Senado

Após diversas contradições durante o depoimento de Fabio Wajngarten, nesta quarta-feira (12), o presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, senador Omar Aziz (PSD-AM), decidiu encaminhar ao Ministério Público (MP) as falas do ex-secretário para o órgão apurar eventual crime de falso testemunho.

Wajngarten chegou a ter um pedido de prisão feito pelo relator da comissão, o senador Renan Calheiros (MDB-AL), que acabou não acatado por Aziz. O presidente da CPI aceitou o pedido de Humberto Costa (PT-PE) para que o conteúdo do depoimento fosse encaminhado ao MP para eventual responsabilização.

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Aziz leu despacho no qual decide "remeter os autos do depoimento testemunhal ocorrido na sessão de hoje (12), pelo sr. Fabio Wajngarten, ao Ministério Público, para a tomada de providências que o procurador responsável entender cabíveis". 

No sentido, acrescentou, de "promover a apuração e eventualmente a responsabilização, inclusive com a aplicação de penas restritivas de direito, pelo eventual cometimento do crime de falso testemunho perante essa comissão".

Durante depoimento nesta quarta-feira (12), a sessão teve de ser suspensa após bate-boca entre Calheiros e o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), que chamou o relator de "vagabundo".

"Imagina um cidadão honesto ser preso por um vagabundo como o Renan", afirmou o filho mais velho do presidente Jair Bolsonaro. 

Por que falso testemunho

O ex-secretário de Comunicação Social da Presidência disse na CPI que não classificou como incompetente a conduta do Ministério da Saúde nas negociações com a farmacêutica Pfizer, como afirmou em uma entrevista concedida à revista Veja em abril. 

No entanto, a afirmação dele foi desmentida pela publicação, que divulgou nesta tarde o áudio original da entrevista. Na gravação, o ex-secretário é questionado se havia incompetência ou negligência do governo, em especial do MS, diante do processo de compra da vacina da Pfizer. Wajngarten então responde:  

"Incompetência, incompetência. Quando você tem um laboratório americano [Pfizer] com cinco escritórios de advocacia apoiando na negociação e você tem, do outro lado, um time pequeno, tímido, sem experiência, é 7 a 1", disse ao jornalista.  

Wajngarten também afirmou que o Governo Federal demorou dois meses para responder uma carta da farmacêutica Pfizer, que oferecia uma parceria para o fornecimento de imunizantes ao Brasil.  

Queiroga deve voltar

Na parte final da sessão da CPI da Covid, o presidente da comissão criticou duramente o ex-secretário, afirmando que ele não saiu preso, mas pode ter perdido o "legado".

Aziz também o aconselhou a falar a verdade das próximas vezes, até porque afirma ter a certeza de que o depoimento terá desdobramentos. E aproveitou para criticar o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, que depôs na semana passada.

"A prisão seria o menor castigo que o senhor [Wajngarten] receberia na vida. Vossa Excelência não agradou ninguém aqui hoje. Você vai sofrer. Isso eu lhe digo porque a experiência que eu tenho em vida, a vida machuca a gente, e a prisão não seria nada mais terrível do que você perder a credibilidade, a confiança e o legado que construiu até agora", afirmou o senador.

"Ninguém vai vir aqui na CPI achando que vai me intimidar, ninguém vai me intimidar. É minha obrigação aqui fazer justiça, mas fazer justiça não com o fígado, e sim conquistando duas doses de vacina para cada um dos brasileiros", completou o presidente.

Aziz acrescentou que o ministro Queiroga vai voltar a depor na CPI, até porque "mentiu" em seu primeiro depoimento.

"O ministro da Saúde vai ter que voltar aqui, porque mentiu muito, mentiu demais, mentiu até mais do que você."

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