Apesar de reaproximação entre Tasso e Ciro, líderes do PSDB e PDT no Ceará afastam aliança em 2022

O pedetista é dado como certo na disputa eleitoral, enquanto o nome do tucano vem sendo apontado com frequência como alternativa

Escrito por Letícia Lima e Igor Cavalcante , politica@svm.com.br
Legenda: Ciro e Tasso, em 2019, quando apareceram pela primeira vez juntos em público, depois de quase 10 anos de rompimento
Foto: José Leomar

A possibilidade do senador Tasso Jereissati (PSDB) disputar a Presidência da República em 2022 tem agitado os bastidores da política e colocado o cearense em confronto com outra liderança em âmbito estadual: o ex-ministro Ciro Gomes (PDT), nome dado como certo na eleição do ano que vem. Apesar da reaproximação vista entre os dois no Ceará, depois de longo rompimento, lideranças tucanas e pedetistas descartam aliança e avaliam que eles devem ficar em lados opostos na corrida eleitoral. 

Tasso Jereissati surgiu no jogo eleitoral de 2022, depois que o presidente nacional do PSDB, Bruno Araújo, defendeu publicamente o tucano como nome capaz de unir as forças de centro. O senador já admitiu que topa disputar a indicação do partido. 

Desta vez, diferentemente de outras eleições em que o tucano cearense sempre foi cotado, Tasso Jereissati demonstra interesse pelo pleito desde que, segundo fontes do PSDB, ele una o partido em torno do seu nome. “Essa decisão do Tasso não é uma corrida de 100 metros, é uma maratona”, comparou um interlocutor. 

Tasso x Ciro 

Diante dessa movimentação, a corrida presidencial pode contar com dois cearenses: Tasso e Ciro, que já se mobiliza há mais tempo para a disputa. O cenário tem levantado especulações sobre os impactos da reaproximação recente entre os dois, após um longo rompimento político e pessoal, sobre as pretensões eleitorais de cada um.

O tucano tem reconhecido que Ciro é pré-candidato, mas afirma que trabalhará para unificar o centro. Em outras palavras, não descarta a possibilidade de atrair o pedetista para o seu projeto. Da mesma forma que Ciro deverá tentar fazer com o PSDB.  

Na última segunda-feira (3), em conversa na plataforma Clubhouse, o senador comentou novamente sobre uma possível parceria entre os dois. “Ciro tem sido agressivo com o PSBD, o que não traz uma posição confortável. Se não fosse isso, repito, estou disposto a tudo que leve a uma centralização”

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Parceria política na redemocratização 

Ciro e Tasso mantiveram uma aliança sólida por 24 anos no Ceará, desde que Tasso foi eleito governador do Estado pela primeira vez, em 1986, e Ciro era deputado estadual. Com o apoio de Tasso, o então aliado foi eleito prefeito de Fortaleza; em seguida, governador. Anos depois, Ciro também teve o apoio do tucano quando se candidatou pela primeira vez à Presidência da República. 

Em 2006, Tasso Jereissati apoiou, informalmente, a candidatura de Cid Gomes, irmão de Ciro, ao Governo do Ceará, contra a candidatura à reeleição de Lúcio Alcântara, de seu próprio partido. O rompimento veio em 2010 quando os irmãos Ferreira Gomes não apoiaram à candidatura à reeleição de Tasso ao Senado. 

Naquela eleição, Ciro e Cid apoiaram as candidaturas de José Pimentel (PT) e de Eunício Oliveira (MDB)  à chamada Câmara Alta, a pedido do ex-presidente Lula (PT). O fato foi uma grande decepção para Tasso, que não conseguiu se reeleger ao cargo, e rompeu ali as relações políticas e pessoais com os Ferreira Gomes. 

Reaproximação 

A partir de 2019, no entanto, eles começaram a dar sinais de uma reaproximação. Em um evento realizado pelo ex-prefeito de Fortaleza Roberto Cláudio (PDT), Tasso e Ciro apareceram publicamente juntos pela primeira vez. Depois surgiram juntos de novo na Assembleia Legislativa, quando trocaram elogios.  

A reaproximação levou o PSDB a apoiar, no segundo turno da eleição para a Prefeitura de Fortaleza no ano passado, a candidatura de José Sarto (PDT), do partido de Cid e Ciro. O senador tucano chegou, inclusive, a aparecer em vídeo no evento de lançamento da candidatura à reeleição de Ivo Gomes (PDT), em Sobral, irmão dos líderes pedetistas.

Hoje, o PSDB no Ceará é dividido entre base e oposição ao grupo governista. 

Na Assembleia Legislativa, o deputado estadual Nelinho é considerado da base do governador Camilo Santana (PT), aliado de Cid e Ciro, porque muitas vezes vota a favor das propostas enviadas pelo Governo. 

Na Câmara Municipal de Fortaleza, o vereador Jorge Pinheiro, único representante do PSDB, é aliado do prefeito José Sarto. 

Do lado tucano que faz oposição ao grupo comandado pelos irmãos Cid e Ciro Gomes, estão o prefeito de Maracanaú, Roberto Pessoa, a filha deke, a deputada estadual Fernanda Pessoa; e o deputado federal Danilo Forte.  

Em lados opostos em 2022

Apesar da reaproximação vista entre Tasso e Ciro, lideranças tucanas e pedetistas no Ceará não veem, a preço de hoje, uma aliança no plano nacional. O presidente do PDT no Estado, deputado federal André Figueiredo, descarta apoio da sigla à candidatura de Tasso.  

O Tasso certamente dignifica a campanha presidencial, mas não é pelo fato de ele ser candidato, assim como o Ciro, que o PDT vai desistir de lançar candidatura. O PDT tem o firme propósito de lançar candidatura em 2022 e o Ciro é o nosso nome. Estamos na construção de um projeto nacional de desenvolvimento. Tasso terá nosso respeito, mas não estaremos lado a lado"
André Figueiredo
Presidente do PDT no Ceará

Já o deputado estadual Sérgio Aguiar (PDT) não acredita que Ciro e Tasso disputem a eleição presidencial juntos. Para ele, a reaproximação entre as duas lideranças políticas ocorreu, pontualmente, na eleição em Fortaleza. No Estado, o cenário continua sendo de oposição.  

"A reaproximação foi para a disputa municipal em Fortaleza. Na Assembleia, o PSDB é oposição ao nosso Governo. Veja a posição dos deputados Fernanda e Nelinho. Na Câmara Federal, o deputado Danilo Forte também é severo opositor do governo estadual. Então foi, a meu juízo, uma reaproximação em Fortaleza. Em relação à política estadual não tenho observado essa disposição.", analisa. 

O presidente do PSDB no Estado, Luiz Pontes, defende o senador para indicação do partido à Presidência da República e diz que respeita o nome de Ciro Gomes na disputa. 

O Ciro é candidato, tem direito. Acho que o Ciro vem lutando, é a quarta vez, não podemos desmerecer isso. E aconteceu do presidente do PSDB lançar o nome do Tasso. O nome do senador Tasso tem uma experiência que preenche todos os requisitos, foi três vezes governador no Ceará, uma grande administração."
Luiz Pontes
Presidente do PSDB no Ceará

A deputada estadual Fernanda Pessoa diz não ver uma aproximação entre as duas lideranças. "Ciro é Ciro. Tasso é Tasso. Historicamente, o PSDB não tem aproximação com Ciro. O partido não tem nenhuma afinidade com Ciro nem Cid”.