Spaece: a história se repete

Escrito por
Clarice Gomes Costa producaodiario@svm.com.br
Doutora em educação, professora da educação básica, membro da Coordenação Colegiada do Fórum EJA/CE

“E lá se vai mais um dia, ooh…”

Mais um ano finda e toda escola pública é obrigada a entrar na lógica da concorrência, em virtude do Sistema Permanente de Avaliação da Educação Básica do Ceará (SPAECE) em que é preciso tirar dez para garantir premiação, ser a desejada Escola Nota 10. Ao longo do ano acontece reforço escolar tão somente com vistas a treinar o estudante para que faça uma boa prova; ao tempo em que existe grande mobilização na comunidade escolar, a fim de que ninguém falte a avaliação externa, pois não se pode ter nenhum estudante a menos, sob a condição da escola se prejudicar no resultado.  

Para tanto, gestores, coordenadores e professores saem no dia da prova em seus carros particulares em busca dos estudantes faltosos, desconsiderando muitas vezes se eles estão doentes. Com efeito, corre-se para laudar alunos para também não comprometer o resultado da escola nas avaliações.

Fico aqui a indagar o que fizeram das nossas escolas? O que fizeram dos Projetos Políticos e Pedagógicos das instituições? Essa lógica empresarial veio de fato para ficar sob a anuência dos educadores e das educadoras? Por que o silêncio de toda uma categoria que rasga no cotidiano o que aprendeu ao longo da sua formação inicial nas universidades? E o que os (as) formadores dos(as) docentes têm a dizer sobre essa lógica de avaliação? Ela de fato avalia a aprendizagem? Ninguém mais questiona porque é mais fácil se adequar a tal modelo do que buscar outro caminho para o processo de avaliação de ensino e aprendizagem, bem como a garantia de financiamento?

Observo também que, em geral, a categoria de professores e professoras vem silenciando frente a essa lógica de avaliação, quando, a meu ver, poderia realizar um movimento de resistência, até porque a educação precisa ser mais, no dizer de Paulo Freire, ela “não pode ser reduzida ao puro ensino dos conteúdos” e, “ensinar exige a convicção de que a mudança é possível”. Se não acreditamos mais na possibilidade de mudanças na ordem das coisas, desta educação submissa à lógica do mercado, qual nosso papel na sociedade, nas escolas em que atuamos com a formação de crianças, jovens, adultos e idosos?

A tarefa não é simples, bem sei, pois nem todo (a) educador (a) compreende a educação como ato político, sabendo que não existe neutralidade na ação educativa. Apesar disso, embora mudar seja difícil, creio que é possível, pois a história não é algo inexorável.

Por fim, como diz a bela canção do Clube da esquina II, “Porque se chamavam homens, também se chamavam sonhos e sonhos não envelhecem”! Sejamos, pois, sonhadores e continuemos na luta pela construção de uma nova escola com qualidade socialmente referenciada, cuja base seja a formação humana e não o (neo) tecnicismo.

 Clarice Gomes Costa é professora

 

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