Posicionamento com coragem
Empreender sendo mulher é atravessar barreiras estruturais, que se não percebidas, podem parecer invisíveis. Em 2024, o Brasil atingiu a marca histórica de 10 milhões de mulheres à frente de negócios, o que representa 34% dos empreendedores do país, segundo o Sebrae Ceará. Quando falamos de investimento em educação, nós mulheres saímos na frente. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios - Pnad Contínua, de 2022, revelou que 28% das mulheres empreendedoras possuem ensino superior, enquanto somente 17% do homens possuem.
E não é só academicamente que estamos mais qualificadas. Esses obstáculos simbólicos (de autoimagem, percepção de autovalor e medo de julgamento) cruzam o visível e o invisível. Empreender sendo mulher no Brasil ainda é um ato de coragem. Coragem de existir em um mercado que historicamente foi desenhado para nos silenciar, minimizar ou enquadrar. Coragem de não apenas criar um negócio, mas criar um futuro possível, onde trabalho e sentido possam coexistir.
Pesquisas indicam que mulheres têm níveis mais baixos de autoconfiança ao assumir papéis de liderança ou risco, muitas vezes porque internalizam que precisam estar mais preparadas ou mais seguras do que os homens para avançar. Outro levantamento do Sebrae também aponta que mulheres recebem menos apoio dos parceiros e convivem com preconceitos de gênero no mundo dos negócios, o que impacta diretamente na autoestima, na sensação de merecimento e na capacidade de se posicionar.
A coragem, mesmo parecendo subjetiva, é o ponto de partida do que chamo de Posicionamento com Coragem, um método e processo que reúne autoconhecimento, estrutura e expressão e que sustenta marcas a partir da verdade de quem as conduz. Porque toda marca é o reflexo de uma mulher que decidiu se sustentar no mundo com o que acredita. Cada mulher que sustenta um negócio com sentido está criando um novo futuro.
Não apenas para si, mas para sua família, sua comunidade e o mundo que a cerca. E é justamente por isso que não podemos mais caminhar sozinhas. O empreendedorismo feminino ainda é atravessado por uma solidão estrutural. Por isso, estar em rede é também um gesto de coragem. As redes sustentam e lembram que não precisamos fazer tudo sozinhas. Elas nos ajudam a respirar quando o mercado sufoca e a celebrar quando algo floresce.
Sâmila Braga é estrategista de branding