Ano Novo, Velhas Conversas

Escrito por
Gregório José producaodiario@svm.com.br
Jornalista
Legenda: Gregório José é jornalista

No dia 31 de dezembro, o relógio não marca apenas a passagem do tempo. Ele denuncia. Denuncia que muita promessa nasce morta, que muito abraço é apenas coreografia social e que beijo, ah, beijo… há os que já vêm com data de traição embutida. É o réveillon da hipocrisia cordial, essa instituição nacional que não precisa de CNPJ.

À meia-noite, todo mundo vira especialista em si mesmo. O sujeito que passou o ano inteiro sendo bruto, agressivo, dono da razão e do grito fácil, agora jura — com a mesma boca que xingou — que vai mudar. Promete ser outro homem, mais calmo, mais humano. Mas curiosamente essa conversão só acontece diante do espelho ou da plateia. Em casa, na intimidade da fraqueza feminina e dos filhos indefesos, o velho personagem segue em cartaz, com sessões diárias e violência sem intervalo.

Há também os profissionais do adiamento. Esses são artistas refinados. Dizem que o ano não começa agora. Começa depois do Carnaval — que em 2026 será entre 16 e 18 de fevereiro, anotem. Ou melhor: depois da Quaresma, porque ninguém muda nada em tempo de sacrifício. Aí vem a Páscoa, que cai em 5 de abril, e a coisa fica delicada. Talvez seja melhor esperar o Dia das Mães. Mãe inspira mudança. Mas logo depois tem São João, e ninguém larga o milho cozido por causa de promessa. O ano vai escorrendo pelo calendário como cerveja quente no copo de plástico.

No Dia dos Namorados, juras inflamadas. Casamentos prometidos com a convicção de quem sabe que não vai cumprir. Alianças que nunca chegam, vidas que nunca se encontram. É o amor parcelado em doze vezes sem intenção de pagamento.

Enquanto isso, engordamos. Prometemos caminhar. Caminhamos só até a geladeira. Prometemos dieta, academia, espiritualidade, bondade, paciência, menos tela e mais gente. Tudo muito bonito, tudo muito verbal. Porque promessa, no Brasil, não é compromisso: é retórica.

E assim vamos empurrando a vida com a barriga — que cresce — e com a consciência — que encolhe. De virada em virada, repetindo o mesmo discurso, como reprise mal editada de nós mesmos. No fundo, sabemos: não é o ano que muda. Somos nós que fingimos.

Mas não sejamos radicais. Sempre existe esperança. Se não der em 2025, a gente tenta em 2026. E, se falhar de novo, deixamos para 2027. Afinal, promessa não tem prazo de validade. Só memória curta.

Feliz Ano Novo. Ou pelo menos… mais um.

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