O paradoxo das desigualdades

Em uma de suas "44 Cartas do mundo líquido moderno", o sociólogo polonês Zygmunt Bauman aponta para o fato de que as desigualdades sociais tendem a se acentuar na medida em que crescem a "indiferença moral" e o "letárgico senso ético" gerados por uma sociedade centralizada no projeto egocêntrico da busca por felicidade e conforto individual. Segundo o autor, esse modelo mostra-se cada vez mais insustentável, reclamando novas formas de políticas civilizacionais.

No Brasil, a pandemia aprofundou estas desigualdades sociais. De um lado, segundo dados recentes do IBGE, o número de desempregados no Brasil chegou a mais de 12 milhões. Previsões feitas pela ONG Oxfam, apontam que a crise econômica derivadas do vírus coloca o país, juntamente com outros, no "epicentro da fome" para grandes contingentes da população.

Tais desigualdades se apresentam justamente como uma das fontes que ameaçam o bem-estar coletivo da população e a reestruturação da sociedade. A retroalimentação da cultura individualista do nosso tempo, mina a empatia solidária e o altruísmo compassivo, necessárias especialmente em condições sociais como a atual. Estes paradoxos tendem a reforçar ressentimentos, violências e conflitos que precarizam as relações sociais.

Nesse sentido, o enfrentamento da presente crise se dará não apenas com politicas compensatórias que visam amenizar os efeitos colaterais na economia através de auxílios temporários - muito embora estes sejam de fundamental importância. Mas, sobretudo, é um momento de repensarmos o projeto mais amplo de sociedade do qual estamos construindo, articulando uma política mais solidária e equânime, que confronte os altares ideológicos de uma economia de mercado desumanizadora.

Victor Breno
Teólogo e cientista da religião