Reparação, mesmo que tardia

Escrito por
Jornalista e senador constituinte
Legenda: Jornalista e senador constituinte

Numa decisão inédita, a Comissão de Anistia, vinculada ao Ministério de Direitos Humanos e da Cidadania, aprovou pedido de reparação coletiva aos povos indígenas por desrespeito a direitos seus, registrado em algumas comunidades, durante o regime militar.

Na demanda recém-julgada, o governo reconheceu graves danos às etnias Krenak e Guyraroká, em razão de invasão, por parte do Estado e de grupos empresariais nos seus territórios, resultando em transgressões, mortes e a desintegração de suas culturas tradicionais.

A partir de agora, o Poder público, através de vários órgãos, deverá pôr em prática uma série de recomendações delineadas na decisão do Colegiado, visando a mitigar situações desoladoras pelas quais têm passados esses povos, sobretudo, para que ocorrências análogas nunca mais se repitam.

Para embasar a questão junto à Comissão, o Ministério Público Federal destacou o fato de que, entre 1957 e 1980, os povos indígenas, englobando todas as etnias, e não só as que agora foram favorecidas, sofreram intervenção do governo e de empresas em suas áreas, apontando que durante esse período, seus direitos foram violados, notadamente em relação a terras e suas liberdades.

Os julgadores elencaram fatos que corroboram as ações estatais contra algumas tribos, como a instalação, em 1969, na cidade de Resplendor, Minas Gerais, do Reformatório Agrícola Krenak, assim como a Fazenda Guarani, também em Minas, com o objetivo de manter refugiados índios que, para as autoridades, tinham se tornados rebeldes.

Na sessão que aprovou a anistia, a presidente da Fundação Nacional do Índio, Joenia Wapichana, frisou a importância desse reconhecimento, acrescentando que não basta apenas um pedido de perdão, mas, acima de tudo, a legalização dos territórios, possibilitando que as políticas indigenistas passem a ser de fato executadas.

Com um gesto simbólico, Enéa de Stutz, a que preside o órgão, pôs-se de joelho, quando, segundo ela, naquele instante, “em nome do Brasil e do Estado, pedia desculpas, rogando que o senhor levasse o seu pedido a todo o povo, em nome da Comissão de Anistia e do governo”.

Resta, portanto, aplaudirmos tão oportuna reparação, mesmo que tardia!

Mauro Benevides é jornalista e senador constituinte

Cleilton Rocha é líder da Plataforma de Ciência de Dados do Instituto Atlântico
Cleilton Rocha
23 de Dezembro de 2024
Especialista em Psicologia da Felicidade
Izabela Holanda
22 de Dezembro de 2024
Jornalista
Gilson Barbosa
22 de Dezembro de 2024
Presidente da ABIH-CE
Ivana Bezerra
20 de Dezembro de 2024
Christine Muniz é presidente da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia - Seção Ceará (SBOT-CE)
Christine Muniz
18 de Dezembro de 2024