O novo Oriente Médio

Escrito por Fábio Sobral , fabio.maia.sobral@gmail.com

Legenda: Fábio Sobral é professor de economia da UFC
Foto: Arquivo pessoal

Os Estados Unidos se retiraram do Afeganistão após uma guerra de vinte anos. Uma derrota do poderio militar americano diante da inquebrantável guerrilha talibã. Uma derrota militar, com imensa perda de vidas, e uma derrota orçamentária, com gastos insustentáveis. Já Trump tinha identificado a impossibilidade de manter a sangria financeira nesta guerra. Biden só reconheceu o óbvio.

Biden anunciou a retirada em breve do Iraque. Uma guerra do desastre total. Financeiramente Joseph Stiglitz e Linda Blimes escreveram um livro em 2008, que o título traduzido é “A Guerra de Três Trilhões de Dólares. O Verdadeiro Custo do Conflito no Iraque”. Nem falemos do verdadeiro massacre humano permanente que é.

O balanço geopolítico parece indicar que os Estados Unidos apostaram no domínio total das regiões petrolíferas do Oriente Médio e fracassaram. A retirada noturna e furtiva no Afeganistão foi emblemática da derrota.

Mas a geopolítica diz mais. E o que ela nos fala? Diz que a derrota talvez tenha sido uma reorientação em um cenário global de conflitos com a China e a Rússia. Já não era possível deter o avanço do imenso corredor logístico e comercial que os capitais chineses estão construindo: a Rota da Seda 2.

Para onde podem se voltar os olhos dos setores militares, diplomáticos e de inteligência americanos? Isso só pode ser respondido com a identificação das matérias-primas que serão dominantes no restante do século: lítio (baterias); alimento (carne, soja, arroz, milho) em um mundo em aquecimento; água; minério de ferro; cobre.

A civilização do petróleo irá retroceder. As outras matérias-primas ganharão cada vez maior importância. E aí podemos contestar a fracassada, mas arrogante, teoria econômica dominante. Ela diz que onde há escassez os preços sobem e o mercado fica em equilíbrio. Na verdade, onde há escassez, há guerra. Os preços só funcionam em um espaço econômico homogêneo, não entre potências beligerantes.

O mercado não se autorregula, a guerra regula os mercados. As matérias-primas ascendentes estão em países submissos da América do Sul. Talvez seja o novo Oriente Médio, aquele que está no meio da guerra e da cobiça.

Fábio Sobral
Professor de Economia da UFC

Jornalista e senador constituinte
Mauro Benevides
02 de Maio de 2024