O impacto do ChatGPT na Educação

Além do ChatGPT, a OpenAI lançou o DALL-E, outro bot de IA Generativa que cria imagens a partir de um prompt linguístico

Escrito por Raquel Carlos e Valéria França ,
Diretora Acadêmica e Gerente de Formação de Professores do Edify Education
Legenda: Diretora Acadêmica e Gerente de Formação de Professores do Edify Education

Desde o fim de 2022 temos lido e ouvido falar sobre inteligência artificial, IA Generativa e, mais especificamente, ChatGPT. O recente e significativo avanço nesse campo produzirá alterações no futuro próximo para a sociedade, seja na educação, no trabalho ou, principalmente, no processo geral de aprendizagem e criação de conteúdo.

Em um conceito abrangente, inteligência artificial é quando as máquinas imitam a inteligência humana para executar tarefas. É o que ocorre quando usamos Alexa, Siri ou os chatbots de serviços. Já a Inteligência Artificial Generativa refere-se a uma categoria de algoritmos que geram novos resultados com base nos dados em que foram treinados. Ao contrário das IA tradicionais, projetadas para reconhecer padrões e fazer previsões, a IA Generativa pode criar novos conteúdos em formatos diferentes: imagens, texto, planilhas, áudio e muito mais.

Experts em IA e educadores preocupam-se com o uso indiscriminado do ChatGPT (da OpenAI) ou Bard (do Google) na educação. Os mais ferozes temem queda nos padrões de qualidade acadêmica se estudantes começarem a utilizar a tecnologia em larga escala para tarefas e trabalhos, e o resultado pode ser uma geração sem capacidade de autoria.

Não existem, contudo, ainda, evidências para corroborar esse receio. Plágio e fraude acadêmica sempre existiram e a motivação humana de aprender não pode ser desprezada. A própria OpenAI, empresa criadora do ChatGPT, já trabalha em um software que pode ajudar os educadores a detectar o texto gerado pela inteligência artificial. E hoje qualquer professor pode lançar mão de algo como gptzero para identificar se o texto foi redigido por um bot.  Isso, além de novos pactos de transparência e confiança entre alunos e professores, poderá garantir um uso positivo da tecnologia. Como mães e professoras, seguimos crendo que estudantes vão à escola para aprender, não para colar!

Nas aulas de línguas, o ChatGPT pode estimular estudantes a escrever as primeiras linhas de uma redação, por exemplo, e ajudá-los a vencer a temida síndrome da página em branco. Linguistas já sugeriram que o ChatGPT possa fazer pela produção textual o que a calculadora fez pela matemática, mudando a forma como se ensina. Antes das calculadoras, tudo o que importava era o resultado final. Com a sua chegada, porém, tornou-se mais importante apresentar o raciocínio que leva à resolução do problema do que a solução numérica propriamente dita. Seria o caso de vivenciarmos algo semelhante na área da linguagem? Poderiam ser os estudantes avaliados não pela pela produção final, mas por suas habilidades de criticar, editar e ajustar seus textos ao contexto em que estão inseridos?

Além do ChatGPT, a OpenAI lançou o DALL-E, outro bot de IA Generativa que cria imagens a partir de um prompt linguístico. Com isso, alunos, ao fazerem uma pesquisa, podem gerar imagens do zero se souberem usar a língua escrita de uma forma clara e descritiva. Portanto, pedir ao bot para fazer um desenho “de crianças lendo” gera uma imagem. Mas se sofisticarmos o pedido e escrevermos “crianças do mundo lendo, em estilo de pintura Impressionista”, isso gera outra imagem, muito mais detalhada, com mais referências culturais e artísticas. Não será um novo caminho para o reencontro do aluno com a linguagem? 

Outro ponto é a relação ética do aluno com a produção de conteúdo através de bots de Inteligência Artificial Generativa. De quem é a autoria do conteúdo? De quem é a propriedade intelectual de uma imagem gerada artificialmente ou de um texto criado a partir de um recurso como ChatGPT? 

O tema já está posto na BNCC, no rol de Competências Gerais da Educação Básica. A Competência referente à Cultura Digital preconiza que o estudante seja estimulado a “compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares) para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva”. O ChatGPT, parece, pode ser uma excelente ferramenta para ativar e desenvolver habilidades digitais que contribuam para o desenvolvimento de tal competência. 

O uso de recursos de Inteligência Artificial Generativa também privilegia o pensar imbuído na Competência da Linguagem, em que o aluno deverá ser estimulado a “utilizar diferentes linguagens – verbal (oral ou visual-motora, como Libras, e escrita), corporal, visual, sonora e digital –, bem como conhecimentos das linguagens artística, matemática e científica, para se expressar e partilhar informações, experiências, ideias e sentimentos em diferentes contextos e produzir sentidos que levem ao entendimento mútuo”.

Uma coisa é certa: não existe a possibilidade de se colocar o gênio de volta na lâmpada! ChatGPT já faz parte do cenário da atualidade. Nós, educadores, precisamos pensar nas discussões que devemos provocar na sociedade para dar conta deste momento de transformação e insegurança.