O que nos lega Francisco

Uma pessoa espirituosa, sempre de bom humor, dedicada à prática do diálogo com os dignitários internacionais e dirigentes das demais religiões, exercitando a conciliação e o ecumenismo

Escrito por
Gilson Barbosa producaodiario@svm.com.br
Jornalista
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Um homem bom. Fundamentalmente, bom! Jorge Mario Bergoglio, argentino de nascimento, mas personalidade universal, que marcou e marcará para sempre os destinos da Igreja Católica em sua verdadeira essência. Esta deve ser a preocupação, manifestada por atitudes concretas, com os excluídos, as desigualdades e, sobretudo, com a paz entre os povos. Os cardeais eleitores do conclave de março de 2013, sob a inspiração do Espírito Santo, foram buscar, na figura do “papa do fim do mundo”, como Francisco brincou consigo mesmo após ser escolhido, aquela figura que, com seu sorriso, simpatia e doçura, imprimiria ao seu pontificado as necessárias mudanças de que o catolicismo tanto carecia.

Desde sua juventude e no início de sua caminhada eclesial, o futuro papa já manifestava sua dedicação aos mais carentes e discriminados, bem como a simplicidade e despojamento que se tornariam características pessoais por toda a sua existência. Ainda bispo em Buenos Aires, utilizava-se do metrô para seus deslocamentos, visitava os pobres nas áreas periféricas da capital da Argentina e realizava trabalhos dirigidos às comunidades mais humildes daquela metrópole.

Admirador do futebol, era sócio de carteirinha do seu time de coração, o Club San Lorenzo de Almagro, que, em meio a tantas homenagens e declarações póstumas, não se esqueceu também de destacar o papel de seu torcedor mais ilustre na construção de uma Igreja Católica mais voltada para a aproximação com seu mais de um bilhão de fiéis espalhados pelo mundo.

Uma pessoa espirituosa, sempre de bom humor, dedicada à prática do diálogo com os dignitários internacionais e dirigentes das demais religiões, exercitando a conciliação e o ecumenismo. Assim foi Francisco, que nos deixou na segunda-feira seguinte ao Domingo de Páscoa, quando contemplou, da sacada do Palácio Apostólico, no Vaticano, os milhares de católicos que ali se emocionaram com sua surpreendente aparição. Quem acompanhou a bênção papal Urbi et Orbi (A Cidade e o Mundo), lida por um auxiliar, dada a impossibilidade do pontífice para ler o texto que ele próprio escrevera, emocionou-se profundamente. Apesar da debilidade decorrente dos graves problemas respiratórios que o acometiam, na realidade, desde os 21 anos de vida, ainda na Argentina, e se agravaram com o natural avanço da idade, Francisco ainda abençoou todos os que o viam, inclusive pelo mundo inteiro, através da TV. Muitos de nós sentimos que aquele era, provavelmente, o momento de sua despedida.

E Deus foi magnânimo para com ele, que teve a oportunidade de, antes de partir, aproximar-se de tantos católicos que o admiravam. Seu legado é o da conciliação, do respeito às minorias, da assistência aos mais humildes, do diálogo com as demais crenças, do fortalecimento da fé, do exercício supremo da simplicidade e da humildade, de uma maior relação da Igreja com os jovens, da atuação e luta em defesa da paz. Francisco, que adotou como nome papal o do querido santo voltado para uma profunda relação com Deus, a defesa dos mais pobres e da natureza, nos ensinou muito. E esperamos que novamente a Cúria romana, o conclave dos cardeais possa novamente, sob a iluminação do Espírito Santo, eleja um sucessor alinhado com toda essa herança que Francisco deixa para o mundo católico.

É a nossa esperança de que a pregação do querido e inesquecível Francisco, defensor da justiça social e profundo reformador da Igreja contra os problemas que a afligiam, possa se manter viva e firme pelos tempos que virão.

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