Logística no Brasil
Nos últimos meses, o cenário econômico global tem sido marcado por movimentos que impactam diretamente a logística e cadeias produtivas em todo o mundo. De um lado, os Estados Unidos anunciam tarifas e taxas adicionais sobre produtos estratégicos. De outro, no Brasil, convivemos com juros elevados e uma Selic ainda distante de patamares que favoreçam investimentos de longo prazo. Para um setor intensivo em capital, como a logística, essa combinação se traduz em desafios complexos.
A logística, pela sua natureza, exige constante investimento em tecnologia, infraestrutura e renovação de frota. Veículos, equipamentos de armazenagem, sistemas de rastreamento e soluções digitais são essenciais para a competitividade. Grande parte desses insumos é adquirida no mercado internacional, especialmente da China. Assim, as tarifas impostas por potências como os EUA acabam criando distorções que se espalham pelo comércio global, elevando custos e reduzindo margens.
No plano interno, os juros altos dificultam tanto o financiamento da expansão quanto a modernização do setor. Empresas que precisam investir em armazéns automatizados, em soluções sustentáveis ou na substituição de frotas mais antigas se veem obrigadas a adiar decisões estratégicas. O capital de giro também se torna mais caro, impactando diretamente as operações cotidianas e o fluxo de caixa.
Esse cenário cria um efeito em cadeia: com menos investimentos, o setor perde eficiência, a competitividade diminui e os custos acabam sendo repassados ao consumidor final. Além disso, áreas adjacentes como o comércio exterior, a indústria de transformação e o varejo sofrem os reflexos da mesma pressão.
É necessário pensar em medidas que mitiguem esses impactos. No âmbito doméstico, a redução consistente da taxa básica de juros é fundamental para destravar investimentos e estimular a modernização logística. Internacionalmente, o Brasil precisa intensificar negociações comerciais que permitam diversificar fornecedores e reduzir a dependência de mercados sujeitos a tarifas voláteis.
A logística é o elo que conecta produção e consumo. Quando enfrenta barreiras financeiras e tarifárias, todo o ecossistema produtivo sente os efeitos. Por isso, políticas mais equilibradas, tanto internas quanto externas, são essenciais para garantir previsibilidade, competitividade e crescimento sustentável ao setor.
Aldelfredo Mendes é diretor comercial