História: Martins Filho
Dois dias antes de completar 98 anos, faleceu o grande e inesquecível professor Antônio Martins Filho. Quase um século de amor aos valores morais, aos familiares e amigos, à educação, à cultura, ao Ceará e ao Brasil. Muitas biografias ilustres fazem-se, tão somente, pelos aspectos circunstanciais. Todavia, a visão e a grandeza de Martins Filho reduzem o brilho das circunstâncias por mais cintilantes sejam suas luzes. “Tem gente que sonha com realizações importantes. E tem gente que vai e realiza”, como disse Bernard Shaw.
Seu perfil é o do Brasil da educação. Obstinado, coerente, intelectual, corajoso, possuidor de fé e esperança, entendeu a vida como desafio e vitória e não como renúncia e fuga. Certa vez já disse que quando penso em Martins Filho lembro-me do livro Sociedade Justa, de John K. Galbraith, pois destaca ser fundamental a educação na sociedade moderna. Quando completou 97 anos de vida, telefonei-lhe para cumprimentá-lo e ouvi sua voz firme agradecendo o gesto e aproveitando a oportunidade para me convidar para os seus 100 anos. Que bela atitude! Sua vontade de viver era uma lição que nos dava coragem e audácia para conseguir objetivos e solidariedade ao próximo.
Martins Filho lembra uma conhecida frase de Goethe: “Sua força de vida é a imaginação fértil, ao mesmo tempo, pensativa e dinâmica”. Martins Filho, como outros eminentes cearenses, já está na História. Ao lado dele, pode-se lembrar Farias Brito, Capistrano de Abreu, Raimundo Girão, Alberto Nepomuceno, Barão de Studart, Lauro Maia, Eleazar de Carvalho, Patativa do Assaré, José de Alencar, Raquel de Queiroz, Clóvis Beviláqua, Moreira Campos, Jáder de Carvalho, Padre Ibiapina, dentre outros, com suas significativas colaborações nos seus campos de atuação. Realmente, não é um sentimento de “cearensidade”, mas o reconhecimento dos cearenses, tenho certeza, aos seus dignos e importantes irmãos.
Vale lembrar que a família Martins foi privilegiada por Deus, vez que, intelectualmente, nos deu Antônio, Cláudio, Fran e Martins d’Alvarez, cada qual ilustre em suas atividades. Quando governador do Estado do Ceará, no período 1983/87, fui procurado pelo reitor dos reitores, dizendo ser, para honra minha, meu secretário sem pasta e sem vencimentos, objetivando três ações significativas: melhorar as condições de funcionamento da UECE, estadualizar a UVA - que contou com a dedicação e obstinação do padre Sadoc de Araújo - e criar a URCA. Graças ao mestre e “secretário sem pasta”, conseguimos o desejado por grande parte da juventude do Ceará.