Doenças raras e neurodegenerativas: o papel promissor de painéis genéticos para auxiliar a detecção precoce
A epilepsia, por exemplo, é uma característica comum entre várias doenças, sendo frequentemente o primeiro sintoma que leva as famílias a buscarem atendimento médico
Não é novidade que um diagnóstico preciso e precoce é fundamental para permitir intervenções e reduzir os impactos na qualidade de vida de pessoas que têm doenças raras. Mas um dos maiores desafios para identificação dessas patologias é a longa jornada enfrentada em busca de elucidar os sintomas iniciais. Os atrasos na identificação são comuns devido às manifestações clínicas não específicas e à heterogeneidade fenotípica, ou seja, a variabilidade nas características físicas e clínicas entre indivíduos com a mesma enfermidade. A expressão dos sintomas pode variar até mesmo dentro da mesma família, com pessoas apresentando diferentes níveis de gravidade.
A epilepsia, por exemplo, é uma característica comum entre várias doenças, sendo frequentemente o primeiro sintoma que leva as famílias a buscarem atendimento médico. É o caso da lipofuscinose ceroide neuronal tipo 2 (CLN2), uma enfermidade neurológica e degenerativa rara, cujos primeiros sintomas podem ser convulsões, seguidas por demência progressiva, distúrbios de movimento, regressão da linguagem, falha visual e morte precoce. A maioria dos indivíduos perde a capacidade de andar e falar poucos anos após o início dos sintomas.Por isso, identificar a condição nos estágios iniciais oferece uma janela de oportunidade crucial para melhorar o bem-estar após detecção da doença.
Recentemente, um estudo realizado por clínicos brasileiros, que envolveu pacientes da América do Sul em geral, desenvolveu um painel genético a ser usado como uma ferramenta abrangente para a investigação da lipofuscinose ceroide neuronal tipo 2, entre outras causas genéticas do sintoma. Eles avaliaram na América Latina os resultados de um programa que examinou pacientes com epilepsia e pelo menos um sintoma adicional associado à CLN2, usando esse tipo de painel que incluía 160 genes ligados a epilepsia e distúrbios metabólicos. Entre 1.284 pacientes examinados, 25 (1,9%) apresentaram variantes no gene TPP1, característico da doença.
O uso desse modelo de exame para a identificação precoce das causas desse sintoma é essencial para prevenir atrasos no diagnóstico e melhorar os resultados dos pacientes. Ao detectar mutações no gene TPP1, o painel facilita a implementação de terapias específicas, como a reposição enzimática, antes que ocorram danos irreversíveis. Isso não apenas melhora a qualidade de vida dos pacientes ao atrasar a progressão da doença, mas também fornece às famílias as informações necessárias para planejar e acessar tratamentos adequados, reduzindo a incerteza e o sofrimento associados a diagnósticos tardios ou incorretos.
Apesar de a pesquisa ter abrangido a América Latina, é necessário aprofundar a investigação e incluir mais populações diversas para validar a eficácia do programa. O estudo, que identificou variantes conhecidas e novas, sugere que os painéis genéticos são extremamente úteis para confirmar ou excluir diagnósticos de CLN2, além de possibilitar tratamentos específicos. No âmbito de doenças raras, este tipo de exame promissor pode assegurar maior precisão e rapidez no diagnóstico, o que é crucial não apenas para a qualidade de vida dos pacientes, mas também para garantir sua sobrevida.