Como a cor e a renda influenciam no diagnóstico e acompanhamento do autismo

Grupos de renda mais alta têm maior acesso a informações, conseguem marcar consultas com profissionais especializados e têm mais facilidade para arcar com custos de terapias

Escrito por
Laís Albuquerque producaodiario@svm.com.br
Advogada no escritório Renan Azevedo
Legenda: Advogada no escritório Renan Azevedo

Falar sobre autismo é, inevitavelmente, abordar uma realidade que ultrapassa a condição clínica e toca diretamente nas desigualdades sociais. O Transtorno do Espectro Autista (TEA) não escolhe cor, classe social ou gênero. Contudo, o acesso ao diagnóstico e aos cuidados especializados é amplamente determinado por esses fatores. Esse cenário expõe uma dura realidade de uma criança pobre e de periferia receber um diagnóstico precoce e um acompanhamento adequado. Muitas vezes, elas são excluídas do processo.  

Tudo depende de uma rede de apoio formada por profissionais capacitados, acesso a exames, consultas e terapias, além de informações claras e acessíveis. Para famílias em situação de vulnerabilidade, esses recursos, muitas vezes, estão fora de alcance. Em regiões onde os serviços públicos são insuficientes, a demora pode ser devastadora. A criança perde janelas importantes de intervenção precoce, essenciais para o desenvolvimento de habilidades sociais, cognitivas e emocionais.  

O problema se torna ainda mais complexo quando a desigualdade racial entra em cena. Estudos mostram que crianças negras tendem a ser subdiagnosticadas, muitas vezes com rótulos errôneos, como "são apenas problemas de comportamento". Isso reforça estigmas e as priva de tratamentos fundamentais. Além disso, essas famílias ainda enfrentam barreiras, como preconceito no sistema de saúde e desprezo às suas queixas sobre o dia a dia dos filhos.  

Em contrapartida, grupos de renda mais alta têm maior acesso a informações, conseguem marcar consultas com profissionais especializados e têm mais facilidade para arcar com custos de terapias. Essa disparidade gera um ciclo de exclusão, perceptível sem dificuldades.  Resolver essa questão exige mudanças estruturais.  

O sistema público de saúde precisa ser fortalecido com equipes multidisciplinares capacitadas em áreas diversas: postos de saúde, hospitais e até nas escolas. Políticas públicas de inclusão devem priorizar a conscientização, reduzindo o preconceito e a desinformação, que talvez sejam os principais gargalos. Além disso, é fundamental investir em campanhas de educação sobre autismo que alcancem todas as camadas da sociedade, levando informações de qualidade de maneira assertiva.  

Em síntese, é necessário humanizar esse debate, pois não estamos falando de números ou gráficos, mas de pessoas que merecem respeito. São crianças que poderiam estar se desenvolvendo plenamente e famílias que deveriam ter assistência na própria comunidade. O autismo é uma causa coletiva, jamais poderá ser visto como um desafio individual. É uma tarefa de todos nós sermos agentes dessa transformação.  

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