Aumento da infertilidade
A renomada revista científica Human Reproduction Open divulgou recentemente os dados de uma grande pesquisa sobre o número de casais inférteis no mundo. O último grande estudo sobre esse tema havia sido publicado há 10 anos, onde foi observado que cerca de 8 a 12% dos casais apresentavam dificuldades para engravidar, o que representava 48 milhões de casais ou cerca de 186 milhões de indivíduos vivendo com infertilidade em todo o mundo.
No estudo atual, intitulado “Prevalência de infertilidade e métodos de estimativa entre 1990 a 2021: uma revisão sistemática e meta-análise”, os autores observaram um crescimento global e alarmante na quantidade de casais com dificuldade para ter filhos. Os países do Pacífico Ocidental tiveram a maior prevalência de infertilidade ao longo da vida (23,2%), seguido pelos países das Américas (20%), Europa (16,5%) e África (13,1%). A estimativa mais baixa foi no Mediterrâneo Oriental (10,7%). O adiamento da parentalidade, o excesso de peso, fatores ambientais e o estilo de vida são alguns dos fatores responsáveis por esse crescimento.
Os dados do Sistema Nacional de Produção de Embriões da Agência Nacional de Vigilância Sanitária comprovam esse cenário aqui no Brasil. Entre 2020 e 2021, houve um crescimento de 32% no número de ciclos de fertilização in vitro realizados no Brasil (de 34.623 ciclos em 2020 para 45.952 em 2021). A busca pelo congelamento de óvulos para a preservação da fertilidade feminina é outra tendência do perfil reprodutivo atual.
Infelizmente, poucos casais têm acesso aos tratamentos para infertilidade. Apesar do grande número de brasileiros e brasileiras vivendo essa dificuldade em ter filhos, poucas políticas públicas são realizadas para conscientização dessa problemática. O Sistema Único de Saúde disponibiliza um número insuficiente de serviços para investigação e tratamento desses casais.
Em breve, novos gestores federais e estaduais estarão tomando posse para um mandato de quatro anos. Diante dos atuais números e da dificuldade de nossa população, é preciso que esse problema de saúde pública seja encarado de frente.
Marcelo Cavalcante é médico especialista em reprodução humana