Educação Médica e "A Cabeça Bem-Feita"
O grande desafio é formar profissionais que, além do conhecimento científico, tenham uma compreensão crítica e profunda do contexto social, cultural e econômico em que vivem seus pacientes
A educação médica no Brasil vive momento de transformações e desafios. A formação de médicos, essencial para sustentar e fortalecer o nosso SUS, precisa valorizar tanto a competência técnica quanto a sensibilidade humana. Em um país marcado por desigualdades sociais e pela complexidade das necessidades de saúde da população, formar médicos que compreendam essas realidades e estejam preparados para atuar de forma ética e empática é um imperativo.
Historicamente, o modelo de ensino médico no Brasil tem sido predominantemente técnico e focado no conhecimento biomédico, onde a ciência ocupa o centro, enquanto o paciente muitas vezes é tratado apenas como um caso a ser resolvido.
O grande desafio é formar profissionais que, além do conhecimento científico, tenham uma compreensão crítica e profunda do contexto social, cultural e econômico em que vivem seus pacientes.
O sociólogo Edgar Morin, em sua obra "A Cabeça Bem-Feita", nos inspira a pensar em uma educação que forme profissionais que saibam integrar conhecimentos e habilidades de maneira complexa, interligando saberes e enxergando a pessoa em sua totalidade. Na medicina, isso significa preparar médicos capazes de ver o ser humano além de seus sintomas, compreendendo suas histórias, realidades e limitações. Ao invés de fragmentar, reconstrói o saber em uma visão mais ampla e mais humana da vida.
O Brasil assiste a uma expansão significativa no número de faculdades de medicina, mas esse crescimento nem sempre foi acompanhado de uma reflexão crítica sobre a qualidade do ensino oferecido. A lógica mercadológica não considera as reais demandas de saúde do país e, muitas vezes, gera uma formação que privilegia especializações em detrimento de uma visão generalista e comunitária, tão essencial para o fortalecimento do SUS .
Como precisamos de médicos que saibam ouvir, acolher e respeitar, precisamos também de um sistema de ensino que priorize a saúde como um direito universal. Para que isso aconteça, é indispensável um compromisso do Estado em investir na qualidade do ensino médico, garantindo que as faculdades sigam diretrizes rigorosas de qualidade e relevância social.
Humanizar a educação médica é essencial para construirmos uma sociedade mais justa e saudável. Ao formar médicos que estejam dispostos a transformar a realidade do nosso país, damos um passo fundamental para fortalecer o SUS e promover uma saúde verdadeiramente acessível para todos.