Uso da Transnordestina para trem de passageiros depende de infraestrutura e subsídio do governo, diz empresa

Governo Federal estuda utilizar linha férrea entre Fortaleza e Sobral já existente para locomoção humana

Escrito por Luciano Rodrigues , luciano.rodrigues@svm.com.br
Ferrovia de passageiros
Legenda: O compartilhamento de ferrovias entre trem de carga e trem de passageiros é comum em todo o Brasil todo, afirma o diretor-presidente da Transnordestina
Foto: Prefeitura Municipal de Guaporé/Divulgação

Focada no transporte de cargas, não é de interesse da Ferrovia Transnordestina Logística S.A. (FTL) assumir o transporte ferroviário de passageiros no trecho entre Fortaleza e Sobral, o que poderia ocorrer, entretanto, com infraestrutura e subsídio estatal. A possibilidade foi aventada após o governo federal anunciar, no último dia 10, que vem fazendo estudos para retomar o transporte de passageiros entre cidades do País, mas em curtas distâncias. São seis trechos estudados, entre eles entre a Capital e a cidade da Região Norte.

Para o diretor-presidente da Transnordestina Logística S.A. (TLSA), Tufi Daher Filho, é preciso, de fato, desenvolver o transporte de passageiros no Brasil. Caso o projeto do Governo Federal se concretize, pondera, será preciso chegar a um “acordo operacional” para a coexistência harmônica da locomoção humana e de cargas.

“Quantos pares de trens serão destinados, em quais horários, para o trem de passageiros? Nem o trem de passageiros interfere no trem de carga, nem o trem de carga interfere no trem de passageiros. Isso existe no Brasil todo”, avalia Daher Filho, em entrevista exclusiva ao Diário do Nordeste.

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Proposta de ferrovia compartilhada

Após o anúncio, a Secretaria de Infraestrutura do Ceará (Seinfra) confirmou que foi procurada pelo governo federal para fornecer informações referentes à ferrovia entre as duas cidades, e o trajeto seria compartilhado, utilizando a infraestrutura existente que hoje é administrada pela Ferrovia Transnordestina Logística (FTL) e segue até São Luís. Segundo a pasta, o estudo de viabilidade da linha férrea segue em curso. Não há previsão se a ferrovia pode, de fato, ser implementada. 

É de responsabilidade da TLSA o que é conhecido como Ferrovia Transnordestina, que vai interligar Eliseu Martins (PI) ao Porto do Pecém (CE). Já a FTL tem dois trechos: um operacional no transporte de cargas,entre Fortaleza (CE) e São Luís (MA), e outro que vai da capital cearense ao Crato (CE) e não é atualmente utilizada. Ambas as empresas pertencem à Companhia Siderúrgica Nacional (CSN).

Ao considerar a viabiliade da proposta, Tufi Daher Filho, que também é ex-presidente do conselho fiscal da CSN, afirma que, em tese, o projeto é possível. “Quantos pares de trens serão destinados, em quais horários, para o trem de passageiros? Nem o trem de passageiros interfere no trem de carga, nem o trem de carga interfere no trem de passageiros. Isso existe no Brasil todo”, avalia.

Custo-benefício deficitário

Contudo, ele reforça que “não é do interesse” da FTL entrar no ramo da locomoção humana. Um dos principais fatores que evidenciam a situação é o baixo custo-benefício nos trechos.

O transporte de passageiros é totalmente deficitário. No mundo inteiro, o transporte de passageiros é subsidiado pelos governos, como São Paulo, Fortaleza, Japão, o trem-bala, tem o subsídio do governo japonês. Os investimentos e o custo operacional são muito altos, e só o valor da tarifa de passagem não consegue bancar isso tudo"
Tufi Daher Filho
Diretor-presidente da TLSA

Apesar de a empresa não ter interesse em participar da concorrência para o transporte de passageiros, o diretor-presidente da TLSA pontua que “nada impede” que a ferrovia “possa, se o Estado entrar com a infraestrutura necessária, com subsídio necessário, ser compartilhada”. 

Atualmente, a Ferrovia Transnordestina Logística S.A. administra 1,2 mil quilômetros de linha férrea, em trajeto que interliga o Porto do Mucuripe, em Fortaleza, passando por um entroncamento ferroviário que leva ao Porto do Pecém, em São Gonçalo do Amarante (CE) e tem como destino o Porto de Itaqui, em São Luís (MA).

Malha não operacional será devolvida ao Governo Federal

Tufi Daher Filho também destaca a malha não operacional da FTL, compartilhada em alguns trechos, no Ceará, com a TLSA. O gestor avalia que a linha férrea está antiga, em desuso, e poderia ser aproveitada para o transporte de passageiros entre as cidades, desde que fossem fornecidos subsídios governamentais e estrutura adequados.

“Estamos tratando da devolução dos trechos que são obsoletos. Não é de agora que tem linhas que poderiam ser aproveitadas para short lines, de transporte de passageiros”, declara.  

Esses trechos ressaltados por Tufi Daher Filho incluem ferrovias no Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e Alagoas, com passagens pelos portos de Natal (RN), Cabedelo (PB), Recife e Suape (PE) e Maceió (AL).

Ele ainda destaca duas cidades cortadas pela FTL: Sobral e Teresina. Em ambas, a malha ferroviária é compartilhada entre passageiros e carga, em compartilhamento com estudo logístico.

A empresa buscar renovar a concessão da ferrovia entre Fortaleza e São Luís. O atual contrato vence em 2027, e de acordo o diretor-presidente da FTL, há a previsão de modernização e remodelagem da via-férrea. Ao todo, já foram executados 40% das obras, principalmente no trecho entre Teresina e a capital maranhense.

 

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