Qual terminal poderia substituir o Aeroporto de Fortaleza em caso de catástrofe na Capital?
Com a triste indisponibilidade do Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre (RS), prevista para perdurar por todo o mês de maio, causada pelas enormes chuvas que castigaram o Rio Grande do Sul, uma pergunta não me fugiu da mente: e se nós, cearenses, não pudéssemos contar com o Aeroporto Pinto Martins, em Fortaleza, por algum motivo?
Como seria o Ceará sem o seu, de longe, maior aeroporto? Sairíamos bem nesse provocativo teste?
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Como seria não contar com o Pinto Martins?
O Ceará tem menos aeroportos contando com voos de jatos médios como o Boeing 737-800, Embraer 195 e Airbus 320 que o Rio Grande do Sul.
São apenas Juazeiro do Norte e Jericoacoara. Para apoiar uma hipotética ausência do Aeroporto de Fortaleza, não contaremos com o Juazeiro do Norte pela grande distância entre Fortaleza e o Cariri, são mais de 500 km.
Jericoacoara tem um aeroporto muito bom em termos de pista (2200m X 45m), um pátio da categoria dos terminais gaúchos de interior, porém fica a 270 km de carro, bastante não-funcional como alternativa.
Mais próximo que Jeri, com uma pista melhor (1800m X 30m) que alguns aeroportos do Rio Grande do Sul e várias posições de estacionamento, estaria o novo Aeroporto de Sobral, porém ainda assim, 240 km de distância e sem companhias aéreas relevantes operando.
Assim, com tudo isso, qual seria o melhor apoio para Fortaleza? O Aeroporto de Aracati a apenas 145,6 km seria bem mais viável para dar um fôlego aéreo em um eventual problema do Pinto Martins.
Fortaleza e Aracati ainda são ligadas por via duplicada, a CE-040, o que tornaria mais rápida a viagem. O aeroporto já nasceu homologado categoria 3C, todo pronto para o que se propõe, já operou Airbus 320 com a Azul, ainda que por curto período.
O terminal que já teve uma operação minimamente relevante com ATR da Azul “não pegou”, porém, para a aviação comercial no pós-pandemia. Apesar disso, interessante pensar que o equipamento seria estratégico e praticamente o único para cobrir uma ausência (catastrófica) do Aeroporto de Fortaleza.
Não vejo outro terminal com porte para fazê-lo num raio de 500 km rodoviários de Fortaleza. Diferentemente de outras capitais do Nordeste que são “próximas” entre si como Salvador, Aracaju, Maceió, Recife, João Pessoa e Natal, Fortaleza está no time das “capitais isoladas” do Nordeste, juntamente como São Luís e Teresina.
Por isso, o Aeroporto de Aracati, deve ser valorizado como essa alternativa natural a Fortaleza, fator que já deveria servir para conscientizar os críticos ao aeroporto, pessoas que pensam que o equipamento não deveria existir.
Não fosse o Aeroporto Dragão do Mar (Canoa Quebrada), o terminal com operações comerciais mais relevantes e próximo de Fortaleza seria o longínquo/remoto Aeroporto de Jericoacoara, dado que Mossoró no vizinho RN ainda não possui um equipamento que se possa levar em consideração.
Passo a olhar o terminal do litoral leste como ainda mais estratégico e deveria por isso, ser melhorado no futuro, mais pista, mais pátio. O Estado poderia considerar isso. Outro ponto, pensado é um plano logístico com ligação eficiente entre Fortaleza e Aracati: vans e ônibus. Esses planos emergenciais/contingenciais são obrigatórios em empresas grandes.
Ainda, estaria de fato o terminal de Aracati totalmente adaptado a receber o número de voos máximo para que foi projetado? Alguém está observando isso? Esses acontecimentos com Porto Alegre devem inspirar o estado do Ceará a melhorar ainda mais sua rede de aeroportos.
Internacionalizar Jericoacoara: mais uma razão
Pensamos Aracati como um plano B para uma eventual ausência do Pinto Martins. O Aeroporto do interior seria uma forma de termos ligação aérea perenizada, ainda que com alguma perda, porém apenas para os movimentos domésticos. E as operações internacionais?
Estas continuariam indisponíveis, dado que o Ceará não dispõe de outro aeroporto internacional. Para fazer um terminal internacional inclusive as demandas são muitas outras, sobretudo concretizar o que falamos acima, ter-se uma pista mais extensa e mais larga.
Mais do que razões para levar adiante o já comentado velho plano de internacionalizar o Aeroporto de Jericoacoara: seria o famoso “unir o útil ao agradável.”
Como dissemos, Jeri já tem pista para aeronaves maiores. O Estado realmente precisa aprender com os fatos tristes do Rio Grande do Sul e levar adiante esse plano.
Ausência do Salgado Filho
O Aeroporto Salgado Filho (POA) se transformou numa lagoa. Ainda que rasa lagoa, tornou totalmente impraticável qualquer atividade aérea no sítio aeroportuário. Como pensar em 4,4 milhões de pessoas de uma rica Região Metropolitana sem acesso a serviços aéreos? E os turistas que por lá estavam? Como voar de volta?
Na terça-feira dia 07/05, o Ministério de Portos e Aeroportos informou que as companhias aéreas mostrariam um plano de aviação comercial através de voos nos demais aeroportos gaúchos. O Ministro Sílvio Costa Filho informou que dos 11 aeroportos do estado com aviação comercial, 5 ou 6 deles, poderiam receber “voos maiores”.
Ainda há reportes da imprensa nacional que a FAB permitirá voos comerciais na base aérea de Canoas que está localizada a apenas 20 km do Aeroporto Salgado Filho e possui uma estrutura boa relevante para pousos e decolagens. As companhias aéreas estão programando até voos no estado de Santa Catarina para apoiar a baixa de voos no Rio Grande do Sul.
Nesses termos, porém, até aqui, o Rio Grande do Sul poderia contar diretamente com os aeroportos de Caxias do Sul, Passo Fundo, Pelotas e Santo Ângelo, aeroportos do próprio estado, para minimizar os efeitos da grande cheia no Salgado Filho.
O aeroporto de Caxias do Sul é o 2º aeroporto que mais transportou passageiros no 1º trimestre de 2024 no RS e é relativamente próximo da capital gaúcha, apenas 136 km. Já a distância entre Porto Alegre e Passo Fundo é de 350 km.
Assim, Caxias do Sul será naturalmente uma alternativa para POA, inclusive porque já opera com as 4 companhias do Brasil (Latam, Gol, Azul e Voepass), apesar que possui restrições importantes no aeroporto como uma pista de apenas 1.670 m de comprimento x 30 m de largura. Passo fundo possui pista de 1.680 m x 30 m.
Como o tempo de voo desses aeroportos até São Paulo é por volta de 1 hora, não se faz de todo importante as pistas pouco extensas, já que o peso de combustível não é de todo elevado.
Para os dois aeroportos, porém, não há grande capacidade para recebimento de muitas aeronaves simultaneamente, o que certamente é um problema para dar vazão aos milhares de passageiros diários de Porto Alegre.
Ademais, há reportes que a indisponibilidade poderá se estender por meses dada a necessidade geral de se verificar o estado das instalações físicas de pátios e pistas pós-abaixamento do nível da água: e o sub-leito estrutural da pista? E a iluminação? E os equipamentos de navegação em solo, como estarão?
Robustez de aeroportos no Ceará
Volto a dizer, o Ceará possui na média bons aeroportos. Os principais do estado não deixam a desejar em nada em relação aos principais aeroportos comerciais do Rio Grande do Sul, estado bem mais rico.
Jericoacoara, Aracati, Sobral, Juazeiro do Norte possuem todos mais capacidade de pista, para dizer o mínimo, que Caxias do Sul, Passo Fundo, Santo Ângelo. Juazeiro tem apenas 40 metros a menos de pista que Pelotas.
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*Este texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.