Proibidos desde 2009, cigarros eletrônicos são vendidos na internet

Com a comercialização física fiscalizada por autoridades policiais e sanitárias, vendedores e clientes driblam as normas e negociam produtos através da internet, prática considerada ilegal por tratar-se de contrabando

Escrito por Nicolas Paulino , nicolas.paulino@diariodonordeste.com.br
Legenda: O produto pode estar sendo adquirido sem qualquer eficácia do ponto de vista da saúde
Foto: Foto: Rodrigo Gadelha

A mesma fumaça branca do cigarro comum também sai do cigarro eletrônico, aparelho criado para substituir o produto convencional. Há nove anos, a venda e a importação do chamado e-cigar ou vaporizador são proibidas no Brasil pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), decorrente das incertezas quanto a seus efeitos na saúde.

Mesmo assim, o dispositivo tem adeptos em diversas cidades, incluindo Fortaleza, onde vendedores desafiam a legislação realizando ofertas em lojas físicas e no meio virtual. O produto pode ser facilmente adquirido em tabacarias e lojas de eletrônicos. A reportagem encontrou o e-cigar à venda em lojas do Centro, Meireles, em terminais de ônibus e na rodoviária. Os valores variam entre R$ 20,00 os mais simples, chegando até mais de R$ 700,00 entre os mais duráveis e com controle de temperatura. Em uma das lojas, segundo disse o vendedor, o cigarro eletrônico vem tendo bastante procura. "Já vendi cinco hoje", afirma.

Não é difícil encontrar anúncios também em sites e redes sociais. Um deles oferece "pronta-entrega" e venda em forma de kit, com o aparelho, essências e delivery para qualquer área da Capital.

"Não tem mau cheiro. Sem nicotina. Mais barato que cigarro convencional", enumera o anunciante, arrematando a propaganda com um "aceito cartão de crédito ou débito". Os valores encontrados na internet variam de R$ 30 a R$ 750. Alimentados por baterias recarregáveis, os e-cigars produzem vapor inalável a partir de cartuchos descartáveis com líquidos aromatizantes, água, glicerol e outros elementos. O usuário escolhe entre refis de diferentes doses de nicotina ou até sem a substância, considerada nociva e indutora de dependência química. Por permitir o controle da dose, o cigarro eletrônico é defendido pelos fabricantes como apoio para quem quer parar de fumar.

Curiosidade

No entanto, há quem o utilize por "esporte". É o caso do analista fortalezense Otávio (nome fictício), que descobriu o mecanismo através de conhecidos e passou a utilizá-lo em paralelo ao convencional. Em tabacarias da Capital, ele compra fragrâncias com e sem nicotina. Menta, baunilha, chocolate e caramelo estão entre os sabores exibidos nas prateleiras. Na rua, o analista chega a ser parado por curiosos que pedem para experimentar o produto.

"Aqui em Fortaleza, muita gente ainda não conhece. Vejo mais fora, em São Paulo e no Rio (de Janeiro)", descreve. "Da primeira vez, experimentei e gostei, mas o que me fez comprar foi o fato de ele ser menos prejudicial, de poder usar em ambiente com ar condicionado e não ter a fumaça malcheirosa do convencional", explica.

O problema é que não existe embasamento científico que comprove a segurança na utilização do produto. No ano passado, a Associação Médica Brasileira (AMB) se posicionou contra a venda dos e-cigars, considerando que eles são "superapelativos" ao consumo pela vasta variedade de sabores e aditivos que oferecem junto à nicotina e outros ingredientes "com potencial toxicidade para jovens tabagistas". A AMB menciona que no vaporizador, embora não haja a combustão do tabaco, substâncias nocivas também são carregadas para as vias respiratórias dos usuários.

"O cigarro eletrônico encerra substâncias tóxicas e cancerígenas em concentrações mais elevadas no vapor do que as encontradas na fumaça do cigarro e outras tantas substâncias que não estão presentes na fumaça do cigarro tradicional", pontua a AMB.

No ambiente virtual, segundo a Anvisa, a fiscalização é atribuição de autoridades policiais. No entanto, a Agência reconhece que, em sua maioria, os sites de venda são hospedados fora do Brasil, e, portanto, as autoridades brasileiras não possuem competência regulatória ou de fiscalização. O Ministério da Saúde frisa que, se o usuário encontrar cigarros eletrônicos à venda em qualquer local, "já sabe que é contrabandeado". Por isso, uma das estratégias é evitar que o produto entre no Brasil - geralmente vindo da China, Paraguai ou Estados Unidos - por meio de aeroportos, portos e postos de fronteira.

A Receita Federal informou não possuir dados específicos sobre apreensão de cigarros eletrônicos, mas declarou que 213,75 milhões de maços de cigarros e produtos assemelhados foram confiscados de janeiro a setembro deste ano. O dado representa mais de 49% dos valores de apreensões de mercadorias no âmbito da Receita Federal.

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